Cena costumeira com as equipes campeãs: o técnico Dorival Júnior mal havia começado a entrevista coletiva para falar sobre o título de hoje (24) da Copa do Brasil e foi interrompido por um banho de água fria dos jogadores do São Paulo.
Dorival falava sobre a conduta de trabalho que possui com seus elencos e comissões técnicas, após ser perguntado sobre como ele e Jorge Sampaoli reagiram após o título são-paulino.
Sampaoli deixou o gramado logo depois do apito final no Morumbi, enquanto, além das comemorações, o treinador do São Paulo também consolou os atletas flamenguistas.
"Futebol é uma somatória de fatores que fazem com que os resultados aconteçam ou deixem de acontecer. Sempre priorizei amizades, cordialidade, tratamento igual entre todos os membros de uma comissão técnica. Isso é fundamental para um ótimo ambiente de trabalho e para ter o máximo dos atletas ", afirmou o técnico.
Dorival evita alfinetar Sampaoli
Ao ser perguntado pelas distintas reações entre ele e Sampaoli após o jogo, Dorival Júnior fez questão de evitar as críticas ao treinador argentino.
"Cada um tem seu jeito. Jamais vou fazer um comentário de um amigo, de um companheiro de profissão", prosseguiu o técnico, segundos antes de ser interrompido pela festa do elenco são-paulino.
Veja outras respostas de Dorival
Foi o seu título mais difícil?
Talvez tenha sido o campeonato mais difícil. Me lembro de 2015 com o Santos, quando também passamos por uma semifinal com o Corinthians, depois do São Paulo na fase anterior. Foi um campeonato muito importante, pela qualificação de todos os adversários que tiramos. Além de batermos duas equipes que são confrontos locais, também vencemos o campeão da América e da Copa do Brasil anterior. Não tem preço. Um campeonato construído com muito trabalho, muita dedicação. Poucos sabem, poucos imaginam. Foi um fim de ano um pouco diferente, porque além da alegria das conquista, só eu, minha família e pessoas próximas entenderam toda aquela situação. Natural que eu tenha ficado chateado com tudo. Mas jamais levei pro campo pessoal. Sempre soube separar muito bem uma situação da outra. Não tinha um espírito de revanche em sentido nenhum. Hoje joguei contra meus ex-comandados, pessoas por quem tenho carinho muito grande.
Só fico chateado porque, quando ganhei aquelas competições, diziam que eram arroz e feijão, e que qualquer um faria igual. Um mês depois, quando aquela mesma equipe não alcançava os resultados da disputa do Mundial, era uma equipe que precisava de reforços. Estranhei as atitudes, as colocações de muitos. Foi muito estranho tudo o que aconteceu, tentando uma desqualificação de todo o trabalho que foi desenvolvido. Hoje, comprovo com o grupo do São Paulo que tem que se ter dedicação, comprometimento e dignidade para encontrar resultados. Poucas pessoas têm noção do trabalho, do comprometimento, de resgatar um grupo que estava magoado, mas que entendeu o recado. Conseguimos um momento que talvez seja inigualável nos últimos anos de história neste clube. Não tem preço, só tenho a agradecer àqueles que confiaram em meu trabalho.
Queria voltar ao São Paulo porque queria dar ao torcedor são-paulino uma resposta àquela primeira passagem. Prometi a todos que não sairíamos deste ano no São Paulo se não estivéssemos disputando uma final de competição.
Um grupo que até outro dia não contava com Lucas, com James. Foi o mesmo grupo questionado, humilhado após o Paulista, e meses depois dá uma resposta tirando dois dos maiores adversários do São Paulo, e o campeão da América e da Copa do Brasil. O principal de tudo isso: o resgate do amor do torcedor, que tem uma participação decisiva em tudo que fizemos.
Em que momento sentiu que podia ser campeão?
Na minha primeira reunião com o elenco, olhei na cara de cada um e falei que se preparassem porque chegariam na final de uma competição. Porque acreditava no trabalho e tinha noção do que era o elenco do São Paulo. Não estávamos jogando aquela frase aleatoriamente. Foi a reação deles que me fez acreditar a cada momento que poderíamos fazer algo maior. Tudo que foi proposto eles se agarravam, acreditavam e buscavam correções. E encontramos um padrão de jogo, que nos fez eliminar adversários complicadíssimos.
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Quero receberPra mim, foi um momento único, em que tudo que foi colocado ao grupo eles aceitaram, entenderam e me fizeram acreditar que estava no caminho correto.
Como é estar na história do São Paulo?
A alegria que tô sentindo hoje é imensurável de deixar um cantinho, uma página preenchida com nosso nome em um clube belíssimo. Fico muito feliz que isso tudo tenha acontecido. Pedi que o presidente pudesse participar dessa reunião. As pessoas não entendem. Por isso falei meses atrás que as pessoas se preparassem porque grandes resultados aconteceriam.
Chegamos a ter várias propostas pros nossos jogadores, o presidente segurou todas elas. Porque o objetivo maior e único era dar um título ao torcedor são-paulino.
O São Paulo caminha a passos largos para voltar a ser a grande equipe que sempre foi e que marcou a história do futebol brasileiro.
Houve um sentimento especial esse título?
É a mais pura verdade: foi muito diferente porque era um título que o São Paulo não tinha. Eu vi uma disputa em 2000, tava assistindo pela TV e vi o São Paulo perder o título em seis ou sete minutos, na virada do Cruzeiro. E eu não fazia ideia naquela época que o São Paulo não tinha título da Copa do Brasil. Aquilo foi marcante pra mim, da forma como aconteceu lá atrás. Seria muito importante pro São Paulo, depois de 23 anos voltar à disputa da competição, que seria muito importante para o clube. Isso pode iniciar um novo momento na história desse clube, por isso era marcante. Não tinha nada a ver com o Flamengo. Esses jogadores eram meus jogadores até oito meses atrás, tenho muito carinho. O sentimento era de tentar chegar ao torcedor este momento que estão vivendo. A pressão dos últimos 30, 40 dias não foi fácil.
Como foi a semana entre a primeira e a segunda partida?
Tudo que o São Paulo viveu nos últimos anos foi um ponto importante para que não repetíssemos o que havia acontecido. Nos preparamos como nunca para que não déssemos um passo sequer além do necessário. Eu senti a equipe até emocionalmente carregada hoje. Eles trouxeram um pouco dessa obrigação para dentro de campo, poderia ser ruim. Poderia ter sido fatal, se déssemos alguma brecha maior. Seria um momento fundamental pro clube, foi o que aconteceu, foi o que todos viram.
Lucas: tentará convencê-lo a ficar, é essencial à equipe?
Totalmente. Se quisermos ver um São Paulo novamente forte, precisamos de jogadores desse nível. O Lucas sabe a importância que ele tem. Lucas é fundamental, não tenho dúvidas que, caso se sinta bem, ele dificilmente sairá daqui. Ele sabe o respeito que adquiriu com o torcedor, dentro do nosso grupo.
Manutenção do elenco: alguns podem sair. Como vê essa questão e a necessidade de reformular o elenco?
Futebol é dinâmico. Se pararmos pra avaliar um pouco, o que valia esse elenco cinco meses atrás e o que vale a partir desse momento? Quando pedi pra não acontecerem saídas, é porque naquele momento dificilmente conseguiríamos uma reposição à altura, principalmente desses garotos que estão alcançando a primeira valorização. Com a tomada de decisão, a equipe é valorizada, passa a ser respeitada. Quem vier atrás de um jogador do São Paulo sabe que vai ter que gastar. Pra que isso aconteça tem que termos um bom time. Não podemos ficar à mercê de vendas a todo momento. É natural que venda, mas temos que ter um tempo pra buscar a reposição. Uma venda às vezes alcança um valor considerável, mas a reposição é mais cara do que a venda. Às vezes vai buscar dois, três para cobrir o espaço de um. Tudo isso tem que ser bem pensado e avaliado para saber se é o movimento adequado. O trabalho da diretoria foi fundamental nesse sentido. Chegamos fortalecidos, todos fazendo a mesma linguagem para termos o confronto contra o melhor time sul-americano. Tivemos que abrir mão do Brasileirão, agora precisamos correr atrás do Brasileirão. Tudo isso tem um preço. Olha a alegria do torcedor, acho que a resposta está dada.
Saga do Casares pra te contratar. Como foi?
Fechamos a negociação, fiquei muito feliz com esse momento, porque gostaria de voltar ao São Paulo em algum instante, justamente porque o trabalho de 2017 não havia sido completo. Confiariam num pior momento do clube, e de repente, em 2018, acharam que não seria conveniente a manutenção. Ficou aquilo em aberto, e eu gostaria de ter retornado ao São Paulo para que pudesse realizar o trabalho. A conversa foi fácil, foi tudo bem tranquilo.
Por que tinha tanta certeza de que "coisas boas virão"?
Quando você chega, precisa apresentar soluções aos jogadores. Foi isso que foi feito: eles entenderam, acreditaram e começaram a desenvolver. Quem me dá uma resposta são os próprios atletas em campo. As pessoas não avalia
Como contar ao teu neto a tarde que viveu hoje?
Já, já, ele vai aprender o que é essa vida nômade que a gente vive. Esses últimos 40 dias foram complicados. Eu dizia "o time tá forte, tem padrão, tá consciente do que tá fazendo". O que me fez acreditar a cada dia mais foi a postura deles. E eu salientava toda reunião, "pode acreditar que vamos chegar". Foram momentos que eles mesmos foram abrindo, criando e aproveitando tudo que havia acontecido no ano anterior, porque muitos deles estavam e perceberam o quanto foi dolorido, o quanto sentiram e a responsabilidade que ficou para que esse ano a gente pudesse resgatar um caminho que nos levasse a um título como esse.
Nestor chegou a receber ameaças há algum tempo, e evoluiu até hoje. Avaliação sobre ele?
Não só ele, mas vários jogadores sendo contestados, o que é normal. Mas não se diminui o brilho de um grupo, os valores de uma equipe. Isso vinha acontecendo com frequência com o São Paulo. Incluo os jogadores que foram decisivos. Mas destaco um elenco que sustentou essa recuperação dos garotos, treinando com dedicação ainda maior. Exigindo de cada um deles. Todo esse contexto fez com que todos crescessem, melhorassem e buscassem seu espaço. Não vejo em nenhum treinamento jogadores com cabeça baixa, podem não estar relacionados mas estão treinando, se dedicando. Quero citar o Luciano. Foi importantíssimo ao longo da temporada, é decisivo, entendeu o contexto desses últimos dois jogos. Nas duas, ficou no banco, tomou a frente nas reunião, nas atitudes em relação aos jogadores. Eu sei mais que ninguém a vontade que ele tinha de poder estar em campo. Isso pra mim é de uma satisfação muito grande. Eles se mantêm motivados, e cada um tentando buscar seu espaço. Tivemos oito resultados negativos, e em nenhum momento senti esse grupo desmoronando. Prazeroso estar à frente de um grupo como esse.
Projeção pra base no fim do ano
Projeção é essa mesma (usar mais os garotos da base). O trabalho é dinâmico e ele não para.
Desconfiança no elenco
Não é que não acreditasse, a colocação é que ninguém acreditava no elenco do São Paulo. Eu via porque assistia programas, eu percebia e não entendia porque o São Paulo tinha conseguido envolver o Flamengo, e ninguém reconhecia isso. Tinham qualidades no grupo. Muitos saíram daqui: Patrick, Reinaldo, alguns outros. Sempre acreditei muito porque percebia qualidade nos garotos e que naquele instante perderam o caminho que poderia elevá-los a uma condição. Por isso acreditei demais no trabalho e segundo no potencial que a equipe time, isso nos levou a essa recuperação.
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