Em entrevista exclusiva ao De Primeira um dia após o São Paulo conquistar sua primeira Copa do Brasil, o goleiro Rafael afirmou que a defesa no chute de Matías Rojas, na semifinal contra o Corinthians, no Morumbi, foi uma das mais difíceis e importantes da sua carreira.
Foi uma das defesas mais importantes, que eu tenho com o maior carinho, foi um chute de uma dificuldade muito grande, tive que dar uma corrida, uma passada bem extensa para poder chegar naquela boa. Estou muito feliz de poder ter contribuído com esse grupo que é fantástico e que mereceu essa conquista para todos os torcedores que nos apoiaram. Rafael, goleiro do São Paulo
Rafael, maior vencedor da Copa do Brasil
Com o título pelo São Paulo, Rafael conquistou sua quarta Copa do Brasil, a primeira como titular. Antes, havia ganho duas com o Cruzeiro e uma com o Atlético-MG. Com isso, ele é o maior vencedor do torneio, ao lado do ex-lateral e hoje técnico Roger Machado.
Na entrevista, o goleiro do São Paulo destrinchou o trabalho de Dorival Jr., agradeceu o "ídolo" Rogério Ceni e destacou os confrontos contra Palmeiras, Corinthians e Flamengo até a conquista inédita.
Rafael revelou ainda por que escolheu a camisa 23 no São Paulo e contou que é "alucinado" por aviação. Acostumado a voar entre os paus, ele se diverte com um simulador de Boeing em casa.
Confira a entrevista completa com Rafael
Título da Copa do Brasil
"Ontem, a gente ainda estava sem entender, sem observar, só com a alegria da conquista, estamos felizes, eufóricos, aliviados, queríamos muito essa conquista, mas não conseguimos ainda mensurar, um pouco pela festa no Morumbi, mas só com tempo poderemos desfrutar e perceber o tamanho dessa conquista para o clube, torcedores e nós jogadores, porque no futebol vivemos de resultados e títulos. Essa conquista foi maravilhosa e a gente queria muito, acreditava desde o início, trabalhamos muito e sabíamos da dificuldade. Nos colocamos à prova a todo momento, desde o jogo contra o Sport, ganhamos 2 a 0 fora, em cinco minutos o Sport fez dois gols e levou aos pênaltis; depois, dois clássicos seguidos, Palmeiras e Corinthians, tivemos que fazer grandes jogos e fomos testados mais uma vez; e aí a final contra o Flamengo, atual campeão da competição, com grandes nomes, foi um grande campeonato de grandes jogos e com certeza vai ficar marcado na história de cada um que participou."
'Um dos melhores dias da minha vida'
"Os quatro títulos [de Rafael na Copa do Brasil, recorde no torneio ao lado de Roger Machado] têm uma importância grande. A gente faz parte de um grupo de 40 atletas, nem todos podem estar em campo, o quanto que o Jandrei, Felipe Alves, o quanto eles foram importantes nessa conquista, a vitória é do grupo inteiro, todos tiveram uma importância muito grande, mas não posso negar que estar em campo em todos os jogos foi mágico. É algo surreal o que eu vivi, toda a festa, vou lembrar não só do título, mas do dia inteiro, 63 mil pessoas no estádio, da alegria do torcedor, estar com minha família em campo depois do título, foi um dia muito especial e vou guardar como um dos melhores dias da minha vida."
Tensão nos momentos finais no Morumbi
"A única briga nossa era com relógio, o tempo não passava, estava no final e precisava muito assegurar esse resultado, tanto que na hora que o Ayrton Lucas chuta no gol tinha muita gente na minha frente. A gente entra no jogo sempre para ganhar, mas sabíamos que tinha o empate, quando chega faltando cinco, dez minutos para acabar, a gente sabe que a briga é com o relógio, manter a bola mais longe do gol, essa era a meta e deu certo. Neutralizamos bem e no segundo tempo eles tiveram menos chances de gols, controlamos bem. Numa final contra uma grande equipe como o Flamengo, é importante saber passar por todas as etapas do jogo."
Pressão no gol do São Paulo?
"A pressão nunca vai passar, com Ceni nunca passou, teve Zetti antes disso, e antes dele outros que fizeram história. A história deles no São Paulo é inatingível, surreal, uma história linda, mas para conseguir marcar o nome uma coisa é importante: conquistar. Eles conquistaram muito pelo clube, você marca seu nome conquistando títulos, hoje eu posso falar que estou muito feliz porque consegui deixar o meu nome da história do São Paulo. Para seguir os passos desses grandes goleiros, é conquistar, se conquistar, mais pra frente o Zetti, o Ceni e o Rafael terão seus nomes lembramos por conquistas e títulos. A gente quer cada vez mais o carinho do torcedor, conquistar essa identidade também."
'Dorival faz isso como ninguém'
"O Dorival é um cara que todos nós que trabalhamos no futebol, tanto atletas como repórteres e comentaristas, todo mundo tem coisas positivas, é surreal como profissional e como pessoa. Ele é incrível nesse lado humano, de fazer todo mundo se sentir bem, importante. Ele tinha uma missão muito grande aqui, o São Paulo hoje conta com 40 jogadores, muitos voltando de lesão, grandes nomes, tem que escalar 11 e saber gerir, ele faz isso como ninguém, deixa todo mundo feliz com o trabalho, buscando seu espaço, deu oportunidade para todo mundo jogar. Nós tivemos a parada da Data Fifa, nosso treinamento foi incrível, todo mundo teve três, quatro dias de folga, nós tivemos um dia de folga e ele já voltou com uma reunião falando da importância dessa final, que a gente iria ganhar na preparação e não nos dois jogos. Nós fizemos uma imersão muito grande de treinamento, no Flamengo, do que somos capazes, como íamos ganhar o jogo, do que precisava fazer. Então, a gente entrou bem preparado psicologicamente, mentalmente e fisicamente, e a gente sabia o que precisava fazer para ganhar o jogo e o que a gente não podia fazer para perder. A preparação foi muito importante, ele fez com que a gente chegasse com os mínimos detalhes para o jogo."
Gestão do grupo de Dorival
"Ele é um dos caras que sabem fazer isso, nosso ambiente é muito bom, todo mundo vai feliz, leve, alegre para fazer o trabalho e no convívio. No futebol, a gente passa mais tempo com o grupo do que com nossa família, quando chegam momentos como esse, a gente precisa ter uma união, uma ligação muito forte, para que num momento que um jogador meu erre, a gente dá ainda mais a vida porque não podemos tomar um gol pelo erro do meu companheiro. Correr mais, eu acho que isso foi um aspecto muito forte do nosso time, o coletivo, isso foi uma marca do nosso time, a entrega, a dedicação, saímos exaustos, cansados depois dos jogos, nós corremos tanto que não demos espaço nem tempo pra esses times jogarem. A dificuldade não era porque eles estavam abaixo, mas a gente correu tanto que eles não tiveram tempo necessário dentro de campo."
Palmeiras, Corinthians e Flamengo até o título
"Nós surpreendemos muita gente, a gente ouviu contra o Palmeiras que o 1 a 0 em casa seria pouco para jogar contra eles fora, a gente sabe da grandeza dos jogos, mas sabemos da nossa grandeza também, fizemos um grande jogo, de igual pra igual, corremos muito, não demos espaço para criar. Contra o Corinthians, apesar da derrota no primeiro jogo, fizemos um grande jogo, tivemos mais volume, mais posse, mais pressão, tivemos o controle. E na final também, o segundo jogo foi mais equilibrado, mas é normal depois que você faz 1 a 0 e tem que controlar o jogo, mas o primeiro jogo foi de uma intensidade surreal, não demos espaço para o Flamengo jogar. Tudo passa pelo que nós corremos e produzimos por todo esse trabalho, o que corremos e fizemos de entrega foi fundamental para neutralizar os adversários."
A importância de Rogério Ceni
"O Calleri fez um agradecimento ao Rogério e eu achei muito válido isso. No início do ano, a chegada de vários jogadores foi feita pelo Rogério, foi questionada por muitos e ele bancando. Eu fui uma dessas pessoas e se estou hoje no São Paulo se deve muito ao Rogério, sou muito grato a ele, todo mundo lá é muito grato a ele. Se hoje nós conquistamos é porque tem muito do trabalho dele, que montou o grupo, é claro que no futebol acaba que sempre vai haver comparações, mas eu acredito que todos hoje no São Paulo têm um carinho muito grande pelo Rogério, o próprio Dorival na chegada falou disso, nós fomos muito gratos. Houve essa troca, não dá para comparar os dois treinadores porque são dois gigantes, cada um com sua maneira, sua filosofia, são dois profissionais que sou muito grato por poder ter trabalhado, aprendo muito com os dois. O Rogério, sendo da minha posição, sendo um ídolo pra mim, dar o aval para minha contratação é algo que terei pela minha vida inteira. A chegada do Dorival, a confiança que ele manteve em mim, todas as conversas, tudo que ele faz, sou muito grato e tenho um carinho enorme. Sou abençoado por ter trabalhado com os dois, pelo título e pelo ano que a gente vive, que é muito pelas mãos dos dois treinadores que passaram por aqui."
Começo com Dorival na base
"Fui jogar contra o Dorival. Antes, eu era o goleiro da base que subia para completar o treino, eu achava que o Dorival não ia lembrar de mim, a quantidade de jogadores que esses caras têm, tinham passado três, quatro anos, nem estava de titular, fui entrando no túnel e o Dorival falou assim: 'Que felicidade, que alegria a minha poder ver você, que as coisas estão dando certo, subiu para o profissional, está como segundo goleiro'. Isso mostra um pouco o que é o Dorival. O quinto goleiro em 2007, que ficou com ele dois meses, ele me chamou pelo nome, lembrava de mim, falou da satisfação que tinha, tem coisas que marcam com pequenos gestos, isso é só uma pequena demonstração do quanto o Dorival é grande. Naquele momento eu pensei - 'caramba, o Dorival lembra de mim'. Isso foi algo que jamais vou esquecer na vida: 5º goleiro, o cara da base, menino, nem os profissionais lembravam meu nome, e ele lembrou e falou da satisfação de me ver como segundo goleiro do Cruzeiro. Isso mostra o que o Dorival é como pessoa, como gestor, como tudo. Ele faz cada um se sentir especial, consegue tirar o melhor de cada um, é algo dele e que tem que ser ressaltado porque é um cara espetacular."
'O São Paulo é gigante'
"O São Paulo, desde o ano passado, vem dando mostras que vem brigando, vem incomodando muita gente, voltando a ser o São Paulo que está sempre nas finais, só que no ano passado as conquistas não vieram. É importante ganhar, muitas vezes a gente chega na final e o futebol só dá valor para o vencedor, o São Paulo já vem retomando sua força, retomada de tudo, o clube vinha passando por uma reestruturação em que as coisas estão se ajeitando, vejo muitas coisas boas pela frente e a gente tem feito nosso melhor. O São Paulo é gigante porque está acostumado a vencer e ganhar títulos, a gente procura manter o São Paulo onde sempre foi o lugar dele, de vencedor e campeão."
'Escolhi o número 23 porque seria um ano especial na minha vida'
"Eu escolhi o número 23 porque eu achava que o ano de 2023 ia ser um ano especial na minha vida, onde tudo ia mudar. Seria o ano da chegada da minha filha e onde eu tinha colocado na minha cabeça que ia ser o início de um ano mágico, ia dar tudo certo. Quando cheguei, eu falei isso, que escolhi a 23 porque 2023 ia ser um ano maravilhoso, e Deus me abençoou com esse título. Só tenho a agradecer e curto ainda mais o número 23. Minha filha se chama Clara, está com cinco meses e meio e foi um divisor de águas que trouxe ainda mais benção para minha vida."
Paixão pela aviação: 'Tenho um simulador de Boeing'
"Sou apaixonado pela aviação, eu fiquei doido na hora que os aviões [da Esquadrilha da Fumaça, antes do jogo no Morumbi] passaram baixo. Eu sou alucinado, tenho um simulador de Boeing aqui em casa, antes estava aqui com meu irmão fazendo um voo curto, estava decolando em Congonhas e pousando em Guarulhos com ele. Tenho uma paixão pela aviação e gosto demais, sempre que posso brinco com alguns amigos. O voo mais longo que eu fiz foi BH a Porto Alegre, tem que ficar 2h no simulador, quando meus amigos vêm, decolo em Congonhas e pouso em Guarulhos pra galera treinar decolagem e pouso. Às vezes, faço Santos Dumont-Galeão, ou então voos curtos, de SP para o Rio, para ficar uma coisa legal e todo mundo brincar. O pessoal que veio fazer a matéria aqui, o pessoal da TV do São Paulo, só o Felipe Spinola conseguiu, o restante ou quebrou a asa ou o trem de pouso, mas é bem difícil de início. Tem que ter um pouco de prática para poder manusear com uma certa facilidade, eles foram bem, mas precisam mais de prática. O Santos Dumont tem uma das pistas mais curtas do Brasil, 1,3 km, tem que praticar bastante, o Galeão já tem mais de 3km, então tem mais espaço para pousar. Cada vez que eu conheço mais, fico mais tranquilo, tenho simulador em casa, podem viajar tranquilos, a segurança hoje que o avião consegue proporcionar para pilotos e passageiros é algo incrível. Vocês vão ver que é algo apaixonante e seguro, eu gosto demais".
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