Joguei contra time tricampeão mundial do São Paulo e fui marcado por Lugano

Seria impreciso dizer que eu pendurei as chuteiras. Não. Na verdade, elas estavam guardadas no fundo do armário e, talvez por isso, quando fui buscá-las para o desafio de jogar contra o time tricampeão mundial do São Paulo, as encontrei com o solado aberto.

Todo o restante do uniforme foi cedido pela organização do evento 'Tributo à Terceira Estrela', que reuniu em Campos do Jordão (SP) grande parte do elenco que venceu o Liverpool (ING) em 2005 para dar ao Tricolor o terceiro título mundial.

Quando eu cheguei no local do jogo, Turibio Leite, o organizador, me perguntou se eu queria escolher algum número. Veja, existe um motivo para eu estar aqui escrevendo essa reportagem e não dentro das quatro linhas ganhando mais: eu não sou bom de bola.

A minha história não é daquelas de quem tentou o futebol e foi parar na beira do campo. Não. Eu nem tentei. Dito isso, eu respondi ao Turibio que não tinha nem futebol suficiente para escolher um número. Ganhei a 19, "do James Rodríguez", disseram.

O meu objetivo ali naquele jogo era um só: jogar poucos minutos para escrever essa matéria. Me apresentei ao técnico da nossa equipe, expus minhas intenções e ganhei a titularidade no ataque para enfrentar uma linha de três que tinha: Fabão, Lugano e Alex Bruno. Estava fácil?

O restante da equipe do tri era formada por Roger no gol, Josué e Júnior no meio, Amoroso na frente. Luizão esteve presente, mas colocou seu filho em seu lugar por causa de um problema no quadril.

Rogério Ceni, Edcarlos, Cicinho, Mineiro, Danilo e Aloísio foram ausências. Os dois primeiros foram substituídos pelos reservas imediatos do time de 2005. Mineiro também poderia ter sido substituído por Renan, mas o volante jogou na equipe dos patrocinadores e convidados.

Com uma chuteira emprestada, iniciei o jogo como centroavante centralizado e meu marcador era o Lugano. Poucas vezes na vida o uruguaio teve tanto trabalho. Não dentro de campo, claro. Eu sequer incomodei o zagueiro, a bola não chegava. O trabalho do Lugano foi para se desvencilhar de fotos e autógrafos antes do jogo, no intervalo e após a partida; de longe o mais assediado.

Em um lance no início do jogo, a bola foi rebatida pela defesa dos convidados e veio no alto até o meio-campo. Eu subi para disputar de cabeça com o Alex Bruno, a bola sobrou ainda viva e eu ia erguendo o pé em direção a ela quando vi Fabão tendo a mesma ideia que eu. É fascinante como o ser humano consegue, em fração de segundo, tomar decisões que vão mudar para sempre nossas vidas. Ao ver o pé do Fabão no alto vindo na minha direção, eu imediatamente recolhi o meu, preservei minha vida e sobrevivi para contar a história.

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Alguns minutos após esse duelo, nosso time ganhou um lateral pela direita e avançou no campo. Eu estava no limite do impedimento, projetei o corpo e pedi o lançamento, que veio. A bola não foi perfeita, bateu na minha perna, mas eu consegui puxar para partir em direção ao gol. Só que neste momento subiu a bandeira marcando impedimento. Infelizmente não havia VAR para checar meu posicionamento.

Pouco depois desse lance eu fui para o banco. Nessa altura o jogo ainda estava 1 a 0. O desfalcado time do tri demorou a abrir o placar, mas quando começou não parou mais. Com show de Júnior e Amoroso, que brincavam de tabelar dentro da área, a equipe terminaria vencendo por uns 8 a 2.

Logo no início da partida, Fabão foi o primeiro a falar para o restante do time ir para o ataque e deixar eles três ali atrás. A partida se desenhou tão tranquila que o zagueiro terminou curtindo uma de ponta direita, sofrendo até pênalti.

E por falar em pênalti, eu voltei ao gramado na segunda etapa do jogo para presenciar um esquema proposto pelo próprio juiz. Após o sétimo gol dos tricolores, o árbitro chamou Lugano antes da saída de bola e propôs que ele fizesse um pênalti para tomar cartão amarelo. "A torcida vai ficar louca", disse o homem do apito.

Em nome da isenção jornalística, eu não topei fazer parte de tal esquema (de aposta?). Na cabeça de todos, seria um pênalti simples, um puxão bastaria, afinal estava tudo combinado. Só não avisaram ao Lugano? Assim que o nosso atacante entrou na área, o uruguaio deu a famosa 'botinada' que fez o adversário levantar voo.

Lugano recebeu o amarelo e arrancou risadas de todos em campo. Josué era um dos mais inconformados com a pancada distribuída pelo amigo. Gesticulava com um sorriso incrédulo no rosto apontando para o uruguaio.

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Na cobrança, o time dos convidados marcou e o árbitro decidiu terminar o duelo. "Já é hora da segunda parte, né?", dissera Fabão minutos antes. A partida arrecadou 500kg de alimentos doados à Fundação Proser.

A "segunda parte" era uma feijoada com chopp, onde os tricampeões se juntaram para relembrar histórias daquela época. Mas isso é assunto para outra hora...

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