Em entrevista ao UOL News Esporte, o ex-goleiro e hoje comentarista Fernando Prass analisou que o retrospecto recente ruim nas disputas de pênalti pesa contra o Palmeiras. O Alviverde encara o Boca Juniors, amanhã (5), no Allianz Parque, por uma vaga na final da Libertadores.
'Retrospecto nos pênaltis atrapalha o Palmeiras': "Quando é um número muito histórico, por exemplo, confrontos entre Palmeiras e Boca desde 1910, não tem muita relevância. Mas na era do Abel, tantas decisões por pênaltis, com uma vitória, é óbvio que isso atrapalha. Se está perdendo, o treinador e os jogadores provavelmente vão analisar: 'Por que nós perdemos essa e ganhamos aquela?' Só nessa reflexão, para poder trabalhar, achar uma forma de melhorar, tu já absorve um pouco. Mas os jogadores profissionais, principalmente do Palmeiras dessa era mais vitoriosa do clube, um dos quesitos básicos para você chegar nesse patamar é a parte mental, então isso se traz, só que a diferença é que o jogador profissional aprende a lidar com esse nervosismo. Eu vi um estudo dos pênaltis dos quatro goleiros das semifinais, e os números são até parecidos. A torcida dá muita importância para esses dados e isso chega uma hora que entra na cabeça do jogador".
Rivalidade entre Palmeiras e Boca Juniors: "A última vez [que o Boca eliminou o Palmeiras], eu até estava, foi em 2018. Eles estavam no mesmo grupo, a gente ganhou do Junior de Barranquilla em casa com três gols do Borja, e combinado com o resultado do Boca na Bombonera eles se classificaram. Aí nas quartas, se não me engano, a gente pega eles. Mas é outro treinador, são outros jogadores, tem pouquíssimos daquelas época, eu particularmente não trazia isso para o confronto, não".
'Abel Ferreira é um treinador espetacular': "Infelizmente, não trabalhei com ele, é um cara com quem eu gostaria de trabalhar. Ele chegou no fim de 2020, eu saí no fim de 2019. Mas os depoimentos e as conversas que tenho com pessoas do Palmeiras são de que eles adoram o Abel. São opiniões importantes porque são de quem está no dia a dia, normalmente o dia a dia é que é difícil de convivência, quando tu vive de vez em quando, tu acha a pessoa maravilhosa e sensacional, mas é o convívio do dia a dia que é desgastante. Então, é um baita profissional, óbvio que tem seus defeitos, como eu e vocês têm, mas é um profissional que está num clube de ponta, que é exposto todo dia praticamente, então os defeitos aparecem mais do que os nossos, mas como profissional do futebol é um treinador espetacular".
Classificação e jogos
Confira outros trechos da entrevista com Fernando Prass
Estratégia do Palmeiras contra o Boca
"São dois times que não vão jogar para frente, de maneira nenhuma. O Palmeiras é um time que, claro, nos primeiros minutos vai ter aquela pressão, mas estrategicamente o Palmeiras não vai se expor de maneira nenhuma, até porque não precisa, ele não está em desvantagem. E o Boca muito menos, pelo histórico do goleiro, pelo campo sintético que eles reclamaram muito, pelos jogos pregressos, que foram praticamente só empate. Eu acho que vai ser um jogo muito estudado e amarrado, diferente do Beira-Rio, que apesar do Inter não precisar desesperadamente do resultado, porque está em igualdade, mas do outro lado tem um time que joga muito mais que o Boca. A gente vai ver jogos quarta e quinta com propostas muito diferentes."
Quem é mais difícil de enfrentar: Cano ou Enner Valencia?
"Eu acho que o Cano é mais difícil de enfrentar, não vou nem entrar em qualidade, se o Cano é melhor ou pior do que o Valencia, até acho que o Valencia tem mais recurso técnico que o Cano. Esse é outro debate, uma vez joguei com o Túlio Maravilha, que não era um cara de recurso técnico, mas fazia muito gol. E aí os caras criticavam ele, que ele não sabia driblar, chutar, cabecear e tals, e ele dizia: 'Eu que sou o verdadeiro fenômeno, não sei fazer nada disso e tenho quase mil gols'. Então, o recurso técnico é muito relativo, o recurso técnico do Cano para finalizar é absurdo, os gols do Cano são de primeira, é um cara que não precisa de muito espaço e para o goleiro isso é terrível, porque quando menos espera ele finaliza e de todas as maneiras. Ele não tem um ponto fortíssimo, mas também não tem um ponto fraco, o que é muito difícil para o goleiro, porque sempre que você faz jogar, você faz análise do atacante, se ele bate de direita, se esquerda, se antecipa no primeiro pau, se bate na bola chapando, e o Cano tem um repertório muito grande."
Quem se classifica: Inter ou Fluminense?
"Pelo ambiente em Porto Alegre, se tivesse que escolher um, apesar do equilíbrio, eu escolheria o Inter."
Qual o goleiro mais impactante da Libertadores?
"Eu me identifico mais com o Fábio, pela longevidade, ele é da minha geração, o Weverton já é 10 anos mais novo, e também pelo impacto no jogo. Sem dúvida nenhuma, o modo de jogo em que o goleiro mais impacta é o do Diniz. O Abel é um meio-termo, mas durante a pandemia vi umas lives com o pessoal de Portugal em que o Abel libera as imagens do treino dele, e tem um jogada bem próximo à área, numa zona de perigo, que a gente fala de zona erro zero, e aí ele fala: 'Eu não gosto e não peço que meus jogadores arrisquem nessa zona, mas ali é decisão deles, eu treino eles para tomar as melhores decisões'. Então, ele dá essa liberdade, mas o Diniz necessita do goleiro para o modelo de jogo dar certo, porque ele sempre tenta criar superioridade na bola, que às vezes só consegue com o goleiro, porque o time adianta a marcação, encaixa e o só vai sobrar o goleiro. Então, para mim, é o Fábio."
Longevidade dos treinadores
"Tem essa influência da longevidade do treinador e das gestões também. O Marcelo Paz está desde 2017 no Fortaleza, e o Palmeiras vem com a mesma linha de administração desde 2013. Então, isso faz diferença porque tu consegues alinhar projetos. No futebol, os resultados podem até vir cedo, mas se tu não tiver a estrutura por trás, física e de processos, de pessoas, esses resultados não são duradouros. Essa questão da longevidade para mim é fundamental, o Fortaleza começou lá no Rogério, às vezes tu tem um treinador que te entrega resultado, formação de time, aí ele vai embora, como Rogério foi, como muitos jogadores vão, e o processo acaba sofrendo uma quebra. Então, o Rogério provavelmente entregou para o Fortaleza, além de time, processos, porque ele é um cara muito metódico. Ele ajudou na construção do clube, isso é fundamental, muitas vezes as pessoas focam só na formação do time, no resultado instantâneo, não quer saber o que vai entregar ao futuro do clube, as pessoas focam muito na formação do time, não temos paciência com quem está plantando para depois colher, só que um clube bom ele sustenta um time bom durante muito mais tempo. Então, essa manutenção do Fortaleza como bom desempenho se deve muito à estruturação do clube."
Trabalho de Fernando Diniz
"Se fala muito de pênaltis entre Palmeiras e Boca até porque são times que têm uma proposta diferente do Diniz, e o Boca, nos últimos 9 jogos eliminatórios, empatou 8, é uma estatística que dá, não é um espaço amostral pequeno que dá para tirar alguma conclusão. E é um jogo muito equilibrado, o Palmeiras é um time que gosta de ser atacado para ter espaço nas costas, e o Boca provavelmente não vai fazer isso, ainda mais porque eu considero que o Boca tem a vantagem do empate. E o Diniz é um cara que aplicou alguns conceitos diferentes do que a gente via no Brasil, ele chegou num equilíbrio depois da passagem dele pelo Athletico-PR muito interessante, só que o jogo dele é um jogo de mais risco. Mas eu concordo com ele que às vezes ele vai errar, só que a gente tem que ver quantas vezes ele fez isso, quantas deu certo e quantas deu errado. Se o risco tiver sendo maior que o benefício, o cara tem que ser inteligente para mudar, adaptar, mas se todo mundo pensasse futebol igual, não tem a coisa do certo ou errado, são formas de ver o futebol, essa diversidade contribui muito."
Demissão de Bruno Lage do Botafogo
"É uma situação que foge um pouco da normalidade, mesmo do futebol brasileiro, que vira e mexe nos surpreende. A questão do Bruno Lage, para além do resultado esportivo, que foram 15 jogos e quatro vitórias se não me engano, pesou muito a questão da gestão do grupo. O Textor teve uma conversa com os jogadores e usou isso como um dos elementos para a saída. É complicado porque é uma saída muito de repente, e aí não tem planejamento. O Botafogo vai ter que correr atrás agora e é uma segunda troca, é um momento muito sensível para o Botafogo."
Palmeiras x Boca Juniors: onde assistir
O jogo entre Palmeiras e Boca será transmitido ao vivo pela ESPN, na TV fechada, e pelo Star+, no streaming. Gian Oddi e Zinho comentarão a partida, e Fernando Prass estará no Allianz Parque ao longo da programação dos canais Disney.
O duelo decisivo começa às 21h30, horário de Brasília. No primeiro jogo da semifinal, Palmeiras e Boca empataram sem gols, na Bombonera. Novo empate leva a disputa para os pênaltis; quem vencer, garante vaga na grande final da Libertadores.
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