Nova força? Futebol do Equador se consolida com exportação, títulos e Copas
Marinho Saldanha
Do UOL, em Porto Alegre
26/10/2023 04h00
O futebol do Equador já deu bons motivos para ser considerado uma potência continental. Novamente representado numa final, com a LDU na decisão da Sul-Americana, o país se consolidou como exportador e vê sua seleção como figura frequente na Copa do Mundo.
O que aconteceu
Antes pouco relevante no cenário continental, o futebol do Equador se consolidou a partir de um trabalho de base que envolveu clubes e a seleção nacional. Os resultados são facilmente percebidos nos últimos anos.
No sábado (28), a LDU encara o Fortaleza na final da Sul-Americana, campeonato cujo atual campeão é o Independiente del Valle, também equatoriano.
Títulos internacionais
A conquista do ano passado não foi a primeira do futebol equatoriano na Sul-Americana. Em 2019, o Del Valle já tinha levado o título. Dessa vez a taça veio combinada com a conquista da Recopa, meses mais tarde, diante do Flamengo.
A LDU, que encara o Fortaleza na decisão, já tinha sido finalista da competição em 2011, quando perdeu pra Universidad de Chile.
Apenas um clube equatoriano, exatamente a LDU, em 2008, conquistou a Libertadores na história, mas o crescimento do futebol por lá também está refletido na competição de clubes mais importante do continente.
O Independiente del Valle foi finalista em 2016, perdendo para o Atletico Nacional, da Colômbia.
O Barcelona de Guayaquil foi semifinalista da Libertadores em 2021 e 2017, sendo eliminado por Flamengo e Grêmio respectivamente.
Em 2020, de forma inédita, três clubes equatorianos estavam nas oitavas: LDU, Independiente del Valle e Delfin.
Especialmente os times mais tradicionais perderam um pouco o protagonismo, e se sobressaiu um projeto. O Del Valle trouxe o novo, investimento em base, em infraestrutura, em jogadores menos renomados. Isso foi revolucionário e acabou motivando os grandes a se reinventarem. Ao mesmo tempo que tem isso com o Del Valle, a LDU buscou o outro lado, o resgate do protagonismo com grandes figuras, como Guerrero, Ibarra, Alexander Domínguez. Não tem uma fórmula, mas dois cenários que fizeram o futebol equatoriano crescer. Países como Chile, Uruguai, Colômbia, mais enfraquecidos em termos de clubes, também abriram espaço
Lucho Silveira, comentarista dos canais ESPN.
Exportador de talentos
O Equador, aos poucos, também se consolidou como um grande exportador de talentos. Hoje é fácil encontrar atletas do país em destaque nos mais diversos países.
No Brasil, por exemplo, atua o maior artilheiro da história do Equador, Enner Valencia, que defende o Internacional. Além de jogadores com histórico de convocações, como Arboleda e Jhegson Méndez (São Paulo), Leo Realpe (Red Bull Bragantino) e Alan Franco (Atlético-MG).
A negociação mais cara da história da Premier League (primeira divisão inglesa) envolveu um jogador nascido no Equador: Moisés Caicedo. Ele foi comprado pelo Chelsea por 133,5 milhões de euros (R$ 706,3 milhões na cotação atual).
Os Bleus também agiram rápido para contratar a principal promessa do país atualmente, o meia-atacante Kendry Páez, de 16 anos, que já atua como titular da seleção. Ele foi comprado por 17,5 milhões de libras (R$ 106,2 milhões na cotação atual).
Outro expoente da seleção equatoriana na Europa é Piero Hincapié, que atua pelo Bayer Leverkusen, da Alemanha.
O atleticismo é um elemento cada vez mais relevante na perfomance dos atletas, e por consequência, das equipes, e os equatorianos têm na região de Esmeraldas, ao norte do país, uma verdadeira "mina" de privilegiados geneticamente para aquilo que o futebol demanda hoje, explosão e intensidade
Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil. A empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo cantor Jay-Z, se tornou acionista majoritária e controladora da TFM Agency, e gerencia as carreiras de Vinicius Jr, Gabriel Martinelli, Lucas Paquetá e Endrick.
Seleção forte
A produção de jogadores, por consequência, subiu o nível da seleção, primeiramente nas categorias de base.
A sub-20 do país foi terceira colocada no Mundial da categoria em 2019 e chegou até as oitavas de final da competição neste ano. No Sul-Americano, o Equador foi campeão em 2019, vice em 2017 e quarto colocado neste ano.
'La Tri', como é chamada a seleção, também tem empilhado participações em Copas do Mundo. A primeira aparição em Copas foi em 2002, e desde então eles marcaram presença em 2006, 2014 e 2022.
A evolução e crescimento do futebol equatoriano começa com a federação, que resolveu apostar e melhorar a formação dos clubes. Tudo isso junto com o trabalho do Independiente Del Valle. Então, os clubes passaram a formar mais jogadores e se tornarem mais competitivos, algo refletido na Seleção do Equador também
Gabriel Correa, analista do Footure
A revolução veio da base
Pioneiro na aposta absoluta em formação de jogadores, o Independiente del Valle catapultou o crescimento do futebol equatoriano.
O clube investiu na construção de um CT de alto rendimento, que receberá ainda mais investimento já garantido pela direção do clube após a venda de Kendry Páez ao Chelsea.
Além de formar seus jogadores, o Del Valle também passou a levar suas equipes de formação para torneios na Europa e criou um torneio de base chamado Copa Mitad del Mundo, que já contou com times brasileiros e até uma equipe europeia, o Real Sociedad, da Espanha.
O sucesso do Del Valle motivou outros times a fazer ações semelhantes, e atualmente equipes como El Nacional, Orense e Universidad Católica têm projetos de formação cada vez mais fortes.
A LDU, por sua vez, apostou em convênios com clubes formadores pelo país e já conseguiu sucesso com isso também na negociação de Nilson Angulo, que atualmente defende o Anderlecht, da Bélgica.
"Muitos clubes de ponta têm buscado no Equador atletas cada vez mais jovens, de 16, 17 anos, com potencial de crescimento e revenda. Se continuar com essa tendência, é natural que o país esteja sempre chegando nas principais competições", disse Júnior Chávare, atual diretor executivo de futebol da Ferroviária-SP e com passagens por Grêmio, São Paulo e Atlético-MG.
Foi o trabalho de formação que fez o futebol equatoriano crescer. Este investimento forte na formação de seus jogadores, e depois na venda deles, é que tem sustentado este novo momento
Fernando Estrada, diretor de esportes da Equador TV