Especialista em surpreender, Vojvoda muda patamar do Fortaleza e busca taça

Um personagem sintetiza o Fortaleza e sua esperança de conquistar a taça inédita da Sul-Americana: Juan Pablo Vojvoda. O treinador de 48 anos se especializou em "fazer mais com menos", montou um time competitivo sem grande investimento e não abriu mão de sua identificação com o clube.

O que aconteceu

Comparar o Fortaleza antes da chegada de Vojvoda e depois é perceber que o time subiu degraus importantes. A desconfiança que existia — principalmente depois da saída de Rogério Ceni - é coisa do passado.

Hoje (28), o técnico busca o maior título de sua carreira (e o do clube), levando o Fortaleza a se tornar o primeiro time do Nordeste brasileiro a conquistar um torneio continental. A decisão será contra LDU, do Equador, às 17h (de Brasília), no Uruguai.

A consolidação do Leão do Pici se deu dentro do que o argentino faz de melhor: surpreender. Desde 2021 no clube, ele já conquistou o Estadual três vezes, a Copa do Nordeste do ano passado, além de se tornar o primeiro clube da região a se classificar para duas Libertadores seguidas: 2022 e 2023.

Faz mais com menos

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Imagem: Lucas Emanuel/Agif

Juan Pablo Vojvoda chegou ao Fortaleza em maio de 2021, quando o Leão tinha em Rogério Ceni seu expoente no comando técnico. Foi sob tutela do ídolo do São Paulo que o time cearense subiu para Série A conquistando a Série B de 2018, e em seguida ergueu a taça da Copa do Nordeste de 2019.

Ceni, em novembro de 2020, repetiu o que havia feito no ano anterior: deixou o clube. Em 2019, se desligou para ir ao Cruzeiro e foi demitido algum tempo depois. Em 2020, trocou o Leão pelo Flamengo, conquistou Brasileirão, Supercopa e Carioca, e saiu demitido em julho de 2021.

Foi criado, então, um hiato. Marcelo Chamusca e Enderson Moreira antecederam Vojvoda no comando. Foi quando o Fortaleza se embasou no trabalho realizado pelo argentino no Unión La Calera, do Chile, para efetuar sua contratação.

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Respeito, amizade e sucesso

Vojvoda e os auxiliares Nahuel Martínez e Gastón Liendo são lembrados com carinho pelo tempo que passaram pelo Unión La Calera. O trabalho deles impulsionou um clube modesto para feitos bem acima do esperado, e qualquer semelhança com o que acontece no Leão não é mera coincidência.

Foi com eles no leme que o clube conquistou pela primeira vez uma vaga na Libertadores, sendo vice-campeão nacional. Além disso, outro feito marcante no futebol chileno foi ter eliminado o Fluminense da Copa Sul-Americana.

No dia a dia do La Calera, Vojvoda e seus pares eram vistos como profissionais atenciosos com todos, abertos a ouvir quem já trabalhava no clube e muito profissionais.

O ambiente proporcionou ao time o crescimento em campo mesmo sem grandes investimentos no mercado da bola. Outra semelhança com o trabalho feito no Brasil, como contou ao UOL o gerente geral do La Calera na época, Tomás Roca.

A passagem pelo La Calera pode ter um paralelismo com o Fortaleza, sim, já que não é um clube com grandes recursos em comparação com outros mais fortes dos respectivos países. A relação dele com o grupo sempre foi muito boa, mantendo equilíbrio entre exigência e proximidade. Sua passagem ficará marcada por ter liderado um time muito competitivo, que jogava um bom futebol, conseguiu ser vice-campeão, eliminou o Fluminense da Sul-Americana, se classificou para a Libertadores. E além dos feitos desportivos, a cordialidade e o respeito marcaram

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Tomás Roca, ex-dirigente do La Calera que atualmente trabalha no River Plate (ARG)

Já sofreu, atraiu gigantes, mas se nega a sair

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Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Vojvoda já sofreu de um mal que acompanha o futebol brasileiro e talvez tenha condicionado suas decisões no país: a instabilidade de treinadores.

Antes do sucesso no Chile, o treinador foi demitido do Huracán, da Argentina, com somente sete jogos no comando. A razão para o rompimento foi a falta de resultados, mas alimentada pela conduta da direção do clube na época capitaneada por Alejandro Nadur, conhecido por tomar decisões repentinas.

"Sua passagem pelo Hucarán foi estranha, é difícil tirar conclusões. Todos pensávamos que era um treinador capacitado porque tinha feito boas campanhas com o Defensa y Justicia. Não houve tempo para isso", contou o jornalista Tomás Montibelli, da Rádio Mitre.

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No Brasil, talvez calejado pela instabilidade que teve na Argentina, Vojvoda não fez o mesmo que Ceni. Sondado por gigantes, se negou a sair.

Seu nome já foi associado a Flamengo, Corinthians, Grêmio, Inter, Botafogo, Atlético-MG, clubes do México e da Arábia Saudita, mas para todos disse não.

Pode ficar com vontade de trazer, mas não vai trazer. O Vojvoda tem contrato com o Fortaleza até o final do ano que vem, mas muito mais do que o contrato, ele tem um vínculo com o clube, um projeto. Eu não tenho medo quanto a isso

Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, em entrevista ao Mundo GV

Quase foi médico

O treinador que mudou o Fortaleza de patamar poderia ter outra profissão: médico.

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Vojvoda foi zagueiro do Newell's old Boys (ARG) e começou a cursar medicina enquanto jogava. Ele precisou interromper a graduação quando foi negociado para o futebol espanhol.

Ao pendurar as chuteiras, em 2012, começou a trabalhar como técnico na base do Newell's e retomou a faculdade pela UNR (Universidade Nacional de Rosario).

Em 2017 ele já estava perto de completar a graduação, pois realizava sua prática final obrigatória, uma espécie de estágio de conclusão de curso.

Foi quando assumiu o Defensa y Justicia, no seu primeiro trabalho como técnico de um time principal, brecando o desejo de virar médico. Para o bem do Leão do Pici.

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