Messi pode mudar geografia do futebol com oitava conquista na Bola de Ouro
Colaboração para o UOL, de Barcelona (ESP)
30/10/2023 04h00
Lionel Messi já conquistou o mundo com o título da Copa-2022, em dezembro passado. Nesta segunda-feira (30), o argentino pode mudar para sempre a geografia do planeta bola.
Caso leve a Bola de Ouro pela oitava vez, ele será o primeiro jogador atuando fora da Europa a ganhar o mais famoso troféu individual do esporte. Quando os candidatos forem anunciados no Théâtre du Châtelet, em Paris, Messi será identificado como jogador do Inter Miami, da MLS, a liga norte-americana.
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Tecnicamente, o período de Messi nos Estados Unidos valerá pouco para o prêmio. Pela segunda vez em sua história, a Bola de Ouro contará os feitos da temporada, e não do ano natural. Segundo o regulamento, os votantes devem considerar o desempenho dos atletas no período entre 22 de agosto de 2022 e 31 de julho de 2023.
A estreia de Messi no Inter Miami aconteceu no dia 21 de julho; o segundo jogo foi no dia 25. Nos dois jogos, ele marcou três gols e deu uma assistência. Mas a possível conquista do argentino passa pelo que ele fez antes: a conquista da Copa do Mundo no Qatar, com direito a sete gols, três assistências e atuações memoráveis na semifinal e na grande decisão.
Ainda assim, a presença do argentino entre os melhores do mundo enquanto atua por um clube da MLS rompe a lógica que reina na Bola de Ouro desde que o prêmio foi criado pela revista France Football, em 1956.
Um prêmio para europeus
A lista de premiados da Bola de Ouro é um desfile de clubes europeus e conta muito da história do esporte no continente.
O primeiro vencedor, o inglês Stanley Matthews, jogava no Blackpool, hoje na terceira divisão inglesa; Josef Masopust, ganhador em 1962, era jogador do Dukla Prague, da então Tchecoslováquia; em 1967, o vencedor foi Florian Albert, do húngaro Ferencvaros.
Em 1986, ano em que o mundo consagrou Diego Armando Maradona, quem levou a Bola de Ouro foi o atacante ucraniano Igor Belanov, então no Dínamo de Kiev, da União Soviética.
A ausência de Maradona — e, claro, de Pelé — na lista de premiados explica-se pelo regulamento da Bola de Ouro. Até 1994, apenas jogadores europeus podiam ganhar o prêmio. Em 1995, o liberiano George Weah tornou-se o primeiro de outro continente a ficar com o troféu.
Nos anos seguintes, os sul-americanos marcaram presença com Ronaldo (1997, 2002), Rivaldo (1999), Ronaldinho (2005) e Kaká (2007). Em 2009, Messi entrou na lista de vencedores e nela apareceu mais que qualquer outro (também venceu em 2010, 2011, 2012, 2015, 2019 e 2021); mas os clubes nunca entraram de fato na briga.
Neymar, nos tempos de Santos, chegou a receber votos, mas nunca foi um candidato real ao prêmio. Em 2011, ainda como jogador do Santos, ele ficou em 10º, com 1,12% dos votos. Em 2012, também jogando no Brasil, foi o 13º (0,61%). Só em 2013, quando jogou metade do ano no Brasil e a outra metade do Barcelona, ele se aproximou dos primeiros: terminou em quinto lugar, com 3,17% dos votos.
Desde então, todos os candidatos foram de clubes europeus. Até a edição atual. Além de Messi, do Inter Miami, dois jogadores da Liga Saudita estão entre os indicados: o goleiro marroquino Yassine Bounou, do Al-Hilal, e o atacante francês Karim Benzema, do Al-Ittihad.
Prêmio corrigiu injustiças
A limitação geográfica do prêmio tirou de jogadores como Pelé e Maradona a chance de competir pela Bola de Ouro, mas a revista France Football tentou corrigir esta distorção em 2015, quando fez uma reportagem em que listava quem seriam os vencedores desde 1956, caso a votação fosse universal.
Na época, a revista considerou que Pelé teria conquistado o prêmio sete vezes, em 1958, 1959, 1960, 1961, 1963, 1964 e 1970. Maradona, por sua vez, teria sido o vencedor em 1986 e 1990.
Além dos dois ícones, a France Football também reconheceu que Garrincha teria vencido em 1962, Mario Kempes em 1978, e Romário em 1994. Nos três casos, o título e o destaque na Copa do Mundo teriam feito a diferença.
Nos casos de Pelé e Maradona, a homenagem foi além, e eles receberam réplicas do troféu. O Rei recebeu seu troféu em 2014.
Rivais de Messi brilharam na Europa
O mês de Messi na Copa do Mundo é o que credencia o argentino como grande favorito à conquista de sua oitava Bola de Ouro, apesar de ter uma temporada de menos proeminência no futebol de clubes.
Para além das duas partidas do Inter Miami que contam na votação, o argentino entrou em campo 41 vezes com o PSG, com 21 gols marcados e 20 assistências. A média de uma participação em gol por partida, mas as cifras não se comparam a nenhum dos anos em que o argentino conquistou o prêmio. Em 2012, quando ganhou sua quarta Bola de Ouro, ele marcou 91 gols.
Enquanto Messi se apoia no título da Copa do Mundo para conquistar o prêmio, os maiores adversários foram destaques da temporada de clubes na Europa. Segundo as principais casas de apostas, o maior rival do argentino é o norueguês Erling Haaland, que nem sequer disputou o Mundial do Qatar.
O atacante do Manchester City ajudou o time treinado por Guardiola a conquistar o triplete — Premier League, Copa da Inglaterra e Champions League — marcando 52 gols em 53 partidas. Outro jogador do City na lista é o volante Rodri, autor do gol do título europeu, e de desempenho discreto na Copa do Mundo pela Espanha, jogando improvisado na defesa.
A lista de principais candidatos tem ainda dois ingleses: Harry Kane e Jude Bellingham. Ambos foram bem na Copa do Mundo com a seleção inglesa, mas foi o desempenho nos clubes que os colocou na relação final de candidatos.
Sexto favorito nas casas de apostas, Kylian Mbappé brilhou na Copa e fez boa temporada no PSG, mas a ausência de títulos — no Mundial e na Champions League — diminui o apelo por votos no astro francês.