Atlético-MG, Cruzeiro e Internacional lançam nesta quarta-feira (1º) camisas em homenagem ao mês da Consciência Negra, celebrado em novembro.
A campanha é uma colaboração entre Adidas e Laboratório Fantasma, coletivo de cultura urbana que conta com artistas como Emicida, Evandro Fióti e Rael.
Os modelos desenvolvidos pela Lab Fantasma trazem como base o conceito das tranças, elemento ancestral de resistência do povo negro.
A campanha teve Fióti, CEO da Lab Fantasma, como diretor criativo e o rapper Rael como voz do vídeo de divulgação.
Em entrevista ao UOL, Fióti e Rael falaram sobre a importância da representatividade e excelência negra na colaboração com a marca de materiais esportivos. Veja a entrevista completa com Fióti e Rael no vídeo que está no topo desta matéria.
"O mais importante, o mais simbólico é que estamos falando de clubes grandes, com capilaridade nacional, dentro do esporte mais consumido, por duas marcas reconhecidas por preservar esses valores. Então, vai ter uma criancinha de três, quatro, cinco anos assistindo a um jogo de futebol com um time com essa camiseta e vai se sentir contemplada, vai se sentir amada. E acho que é isso que a gente quer inspirar, o melhor das pessoas", disse Fióti.
Fióti também explicou a representação do conceito das tranças, que aparecem nas camisas dos três clubes. O significado vai muito além de um penteado e passa diretamente pela resistência do povo negro contra uma tentativa de esvaziar a cultura trazida ao Brasil por antepassados africanos.
"A pessoa pode não ter o letramento racial, mas a partir do momento que ela começa ou a trançar o cabelo, ou fazer dread, ou cuidar da sua autoestima, a vida dela muda por consequência inteira, porque a autoestima vem como central. Então, trazer esse contexto vem muito nesse sentido de mostrar as tranças como elemento ancestral de resistência", contou.
"Isso não é só um penteado, é uma manifestação de resistência da cultura de um povo que passa por séculos a um projeto, a uma trajetória histórica de tentativa de genocídio. E, ainda assim, não só isso não foi possível como a gente ainda é a maior população desse país hoje. E continuar lutando contra isso é lutar contra a sua própria existência nesse país ou pela felicidade dele mesmo. Então, acho que o tom de denúncia é muito isso", completou.
Rael, que deu voz ao vídeo de divulgação, comentou a importância de participar de uma campanha voltada ao mês da Consciência Negra e como a cultura hip-hop pode ser aliar ao esporte no combate ao racismo.
"Acho que essa coisa que de ser a voz (da campanha) é um modo de me posicionar também, de concordar com o que Adidas está pensando. A gente chegou num momento que não dá para ficar em cima do muro mais. Não tem como. Eu acho que a cultura se alia trazendo esse tipo de perspectiva através dessas campanhas, através dessas atitudes também", afirmou.
O rapper também cobrou punições mais duras a quem comete atos racistas. Rael citou como exemplo os seguidos casos contra Vinicius Júnior, do Real Madrid.
"Vi até o Vini Jr. falando que é a 19ª vez que é um episódio isolado. É bizarro. Como que o mundo inteiro vê isso e ninguém faz nada? Tem que começar a ser punido de verdade, tem que ser um crime de verdade. Acho que está existindo ainda mão na cabeça. Fiquei feliz de ver essa collab da Adidas e Laboratório Fantasma, de fazer parte de alguma maneira, de enaltecer para dar voz para esse tipo de atitude", disse.
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Quero receber"O que acontece com o Vini Jr. na Espanha, na verdade, no mundo inteiro, porque também no digital tem uma visibilidade global, é parte desse processo de não querer compreender o indivíduo negro como um indivíduo de excelência. Todos nós aqui passamos por isso em alguma medida cotidianamente. Por isso eu o admiro muito porque no lugar que ele está, o debate que ele tem levantado é um debate que individualmente para ele vai ter um preço, só que ao mesmo tempo também se evidenciou que ele não está sozinho", completou Fióti.
Novos projetos
Além do trabalho com na campanha das novas camisas, Rael também vai ser apresentador ao lado de Maju Coutinho. A partir do dia 5 de novembro, no Fantástico, a dupla vai comandar o quadro "Música Preta Brasileira", que terá participações de grandes artistas nacionais.
"Acho que a importância é o fato de que nunca aconteceu na história da televisão brasileira um programa com essa dimensão em televisão aberta, abordando essa temática, com artistas maravilhosos contando a sua perspectiva. Acho que a importância é a representatividade e o protagonismo. A gente naturalizou a ausência dos negros no lugar de destaque. Acho que a importância é a representatividade e o protagonismo", contou Rael.
"Eu já tinha feito coisas de apresentar no Rael Convida, onde era um anfitrião, recebia pessoas e fazia perguntas. Não se compara, porque como você vai fingir naturalidade na frente de Gilberto Gil, por exemplo? É difícil", completou.
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