Por que 'Libertadores'? Ele rodou América para resgatar origens do torneio

A final da Libertadores reúne times de duas potências do futebol mundial: Brasil (representado, hoje, pelo Fluminense) e Argentina (representada, hoje, pelo Boca Juniors). Um dos dois será o campeão de um torneio que simboliza muito mais do que um troféu.

Por que Libertadores?

O nome do torneio, realizado pela primeira vez em 1960, presta uma homenagem a líderes de movimentos que libertaram a América do Sul de europeus: os mais lembrados deles são o venezuelano Simón Bolívar e o argentino José de San Martín.

Diferentemente do Brasil, os demais países do continente travaram duras batalhas antes da libertação do Reino da Espanha — e foram os dois, entre os anos 1700 e 1800, que protagonizaram as maiores conquistas sul-americanas.

Bolívar e San Martín são classificados como heróis e se transformaram em nomes de avenidas, de monumentos e, inclusive, de times locais. O Bolívar, da Bolívia, já participou da Libertadores mais de 30 vezes, enquanto o San Martín, da Argentina, é mais modesto e não tem grande glamour no país.

Alejandro Droznes em estádio em Guayaquil (Equador)
Alejandro Droznes em estádio em Guayaquil (Equador) Imagem: Reprodução / Instagram

Alejandro Droznes, um argentino fã de futebol, resolveu se aprofundar no tema: entre 2011 e 2018, ele viajou por dez cidades — nove sul-americanas e uma europeia.

O objetivo era entender como a história impacta o cenário esportivo do continente. A saga virou livro da editora Corner, intitulado "Libertadores da América".

O conteúdo mistura passado e presente: em cada região, Droznes relembra episódios relacionados às independências locais — e de que maneira isso interferiu na cultura futebolística dos clubes.

Um dos exemplos envolve Potosí, cidade boliviana até então abundante em prata que tinha tudo para sediar um clube de potência mundial. Os espanhóis, no entanto, fizeram jogo duro e esfriaram a euforia com longas batalhas. Hoje, o principal time local é coadjuvante até mesmo no cenário nacional, apesar de já ter disputado a Libertadores.

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Yacuiba, também na Bolívia, foi outra região explorada. Sua localização, quase que na Argentina, foi pivô de discussão entre os países envolvidos. Hoje, o modesto Gran Petrolero, que tinha tudo para ser conterrâneo do Boca Juniors, vive uma realidade bem diferente devido à fragilidade boliviana no futebol.

Uma viagem pela história

O UOL falou com o autor, que explicou o motivo de pegar a estrada (ou aeroportos) e visitar estádios nem sempre luxuosos do continente. Ele esteve nas seguintes cidades: Guayaquil, Yacuiba, Caracas, Buenos Aires, Assunção, San Miguel de Tucumã, Riobamba, São Paulo, Potosí e Madri.

Como surgiu a ideia?

"O que primeiro me despertou a curiosidade sobre a Libertadores foi, há muitos anos, o início de cada transmissão televisiva. Antes de um jogo começar, a TV se 'esquecia' por alguns momentos do gramado e, nesses segundos, as câmeras mostravam as partes externas dos estádios. A geografia de cada lugar me chamou a atenção."

Pode citar exemplos?

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"Nos jogos do Deportes Iquique (Chile), você pode ver a imensa duna que rodeia a cidade; no estádio do Cienciano (Peru), dá pra notar as encostas andinas; no Rosário Central (Argentina) é possível ver o Rio Paraná, e assim por diante. Dessa forma, descobrindo diferentes paisagens à medida que a hora do jogo se aproximava, me apaixonei pela Libertadores. E foi por isso também que quis escrever um livro: para resgatar a magia geográfica do torneio."

Qual a viagem mais complicada?

"Sem dúvidas, Yacuiba (no sul da Bolívia). Os serviços entre San Salvador de Jujuy e Salvador Mazza, que é onde fica o posto de fronteira que separa a Argentina da Bolívia, eram escassos ou inexistentes. Isso me obrigou a viajar em vários ônibus locais."

Qual estádio visitado mais curioso?

"O Victor Agustín Ugarte, do Real Potosí (Bolívia). O gramado me encheu os olhos porque era quase que brilhante: era um retângulo verde fincado em uma rocha enorme de muitos quilômetros, onde não cresce quase — ou absolutamente — nada."

Vista do estádio Victor Agustin Ugarte, em Potosí (Bolívia)
Vista do estádio Victor Agustin Ugarte, em Potosí (Bolívia) Imagem: Tim Clayton/Corbis via Getty Images
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E entre os clubes: qual o mais "diferente"?

"Os próprios Club Petrolero (em Yacuiba) e Real Potosí, da Bolívia. São bons exemplos de equipes que estão bem longe do glamour conhecido pelos torcedores quando o assunto é Libertadores."

Como "fisgar" o torcedor brasileiro?

"É como digo no livro: vai saber o que os brasileiros entendem pela palavra 'Libertadores'... Quero que o livro esteja disponível em todos os países da América do Sul. O diferencial envolvendo o Brasil é que todo o processo envolve uma tradução, e o país viveu uma história bem diferente do restante do continente."

Sobre futebol: a hegemonia de brasileiros e argentinos vai acabar?

"Eu não acredito nisso, ao menos não tão cedo. Mas, pessoalmente, tenho muita simpatia por times paraguaios."

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