'Se não vencesse, iam usar clichês de nunca ganhar', diz Diniz sobre título

Campeão da Libertadores, o técnico do Fluminense, Fernando Diniz, poderia ter perfeitamente feito como Zagallo, dito que deveriam engoli-lo ou que todos deveriam se retratar pelas críticas que o classificaram como fracassado. Não foi o que aconteceu na coletiva pós-jogo do time.

Seu momento de êxtase dentro de campo — com cambalhota, ida para a galera, abraços longos — deu lugar a falas reflexivas sobre como enxerga o futebol, a vitória e o fracasso, a vida, e até o jogo final contra o Boca Juniors. E até deu uma alfinetada aqui e ali.

"Em relação ao que chamam de Dinizismo, não sei se veio para ficar. Enquanto eu tiver que trabalhar, vou seguir minhas convicções. E minha maior convicção é ajudar os jogadores. O que fica é o que acredito. Não acho que pessoa campeã só porque ganhou o título. Vi campeões que não ganharam, e outros que não mereciam. Se não tivesse vencido hoje, poderiam usar esses clichês de nunca ganhar, que nunca vão pegar em mim. Os campeonatos acabam e a vida continua. O conceito que eu falo (de campeão) é de quem não desiste, continua sempre a melhorar. E consegue suplantar as críticas fáceis", disse o treinador.

O que mais ele falou

John Kennedy

"John Kennedy tem um poder de decisão. Ele é um das pessoas que o futebol perde. Ele chega precisando de afeto e carinho e o futebol não dá conta de absorver. Muitas pessoas usam o jogador como objeto. Ninguém olha para as carências afetivas. Ser campeão não vai fazer uma pessoa melhor. Trabalho muito e amo o que eu faço. Esses são meus maiores títulos. Não quero endeusamento. Não vou entrar em outro patamar. É importante ganhar o título. Não vou ser aquilo que vão falar. Vou celebrar, e depois voltar a trabalhar. Ele Nunca foi um jogador profissional e dedicado. Mas agora ele estava muito bem treinado. Ele está uma tora. É um jogador especial".

Atuação na final

"Com o tempo que a gente consegue isso. Um dos méritos do Fluminense é de saber jogar com inferioridade numérica porque jogamos muitas vezes assim. Boca é uma equipe que sabe se defender. É sempre difícil conseguir atacar e defender com a mesma eficiência. A gente soube jogar a partida. As outras finais foram jogos mais amarrados. Esse foi um jogo mais aberto. Sabíamos que o Boca teria uma proposta mais defensiva. Além da vitória, foi uma partida emocionante e um bom espetáculo de se ver. A gente treina para jogar a final todo dia. Sempre acredita que pode chegar na final. Foi acumulando treinamentos para poder suportar. Tem jogos que você pode ficar em inferioridade numérica. Teve um componente emocional. A equipe soube variar e ganhou com muita justiça".

Críticas ao acúmulo de Flu e seleção

"Tentaram (jogar para baixo). Se eu fosse conectado com isso (críticas), eu poderia me deixar afetado. É muito trabalho, mas eu dou conta. Agora quem tem opinião tem que manter a opinião. Quem acha que isso atrapalha tem que continuar pensando isso. Quem falou que atrapalha, atrapalha. Agora tem que dizer que podia atrapalhar".

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Quem criticou veteranos

"Quem disse que nunca podia jogar aqui Marcelo, Felipe Mello e Ganso junto? Tem que ter colhão para manter".

Orçamento menor

"Vai ganhar quase sempre o time que tem mais dinheiro. A gente subverteu essa lógica no Fluminense. Tem R$ 8/R$ 9 milhões de folha salarial. Com a força do trabalho, dá para competir. Fluminense ganhar nas condições tem méritos. É tudo apertado, às vezes atrasa. Não tem como trazer um jogador mais confiante, tem que trabalhar quem está aqui para tornar um jogador melhor".

Enfrentar Guardiola

"Para enfrentar o City, tem um jogo da semifinal. Tem que trabalhar para fazer o melhor possível para ter a chance de enfrentar o City. Os jogos são sempre difíceis. Ganhar é muito bom. É uma grande baboseira achar que quem perde é um grande fracassado".

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Voz mais forte

"A minha voz é amplificada. Depois de hoje, coisas que falo a vida inteira vão ficar circulando porque as pessoas se miram em que ganha. Temos que nos mirar em que trabalha duramente, honestamente, e não em quem ganha. Quero que meus filhos aprendam, não que tenham nota azul. Temos que focar nos efeitos e não nas causas. Que eu possa aprender com essa vitória como aprendi as derrotas."

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