Quando acabaram os 90 minutos da final da Libertadores, o time do Fluminense se reuniu em volta de Fernando Diniz. Ele movimentava muito a cabeça, gesticulava com força em volta da prancheta, com jogadores vidrados em sua volta. Antes de iniciar a prorrogação, ele chamou Fábio para se juntar ao grupo.
A cena mostra como Diniz transformou o Fluminense na sua face, ainda que sempre ressalte seu trabalho é desenvolver o potencial dos outros. Não por acaso a torcida gritou o seu nome.
O plano Diniz foi construído aos poucos. E tem apostas certeiras:
Veteranos
Houve muitos questionamentos ao fato de o Fluminense ter um certo número de veteranos no time. Fábio, Felipe Mello, Marcelo, Ganso. Quem vai marcar? O time não ficará muito exposto?
Fernando Diniz mencionou essas críticas e foi dos poucos momentos em que alfinetou quem criticou a escolha. Na coletiva depois do título, afirmou que aqueles que pensavam assim tinham que ter 'colhão' para manter a posição.
Marcelo se tornou uma opção de jogador de meio-campo, com atuações memoráveis em que saia da lateral até a ponta-direita. Falhou também na marcação, inclusive na final.
Felipe Mello teve atuações seguras na zaga.
O goleiro Fábio aprendeu a jogar com os pés com Diniz, como ele mesmo contou.
Paulo Henrique Ganso voltou a ser inquestionável, num momento da carreira em que se as limitações físicas são tão evidentes quanto compensadas pela eficiência técnica. A contribuição dele ao time faz as cobranças serem na medida do que ele pode oferecer.
Dinizismo 2.0
Que o estilo dos times de Diniz é fato conhecido e dissecado, assim como a predileção por acumular jogadores em um lado do campo. Mas a temporada de 2023 viu um Fluminense com um novo esquema, o 4-2-4, com modus operandi sufoco total no adversário.
Na Libertadores, ficou marcado como o time pressionou o Olimpia desta forma, com Arias na direita, Cano e John Kennedy no meio, e Keno pela esquerda. E Diniz foi ousado ao escalar esse time também no Paraguai, e diante do Inter na primeira semifinal.
Detalhe: nesta formação, o Fluminense chegou a jogar com posições mais fixas em determinados jogos, quase em um jogo mais posicional, contrário da natureza originária de Diniz. Uma legítima evolução.
Aprender a se defender
A ousadia dos times de Diniz sempre foi tão conhecida quanto a propensão para sofrer contra-ataques. Obviamente, isso não acabou e quem se arrisca está exposto à retomada rival.
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Quero receberDito isso, quando foi necessário, o Fluminense claramente evoluiu no modo de se defender atrás da linha da bola. Na final diante do Boca, chegou a fazer uma linha de cinco e até seis já que o time argentino basicamente cruzava bolas na área. Assim, impedia os cruzamentos da ponta e tinha mais gente para rebater.
John Kennedy
Promessa do Fluminense, ele enfrentou problemas extracampo que abalaram sua carreira. Foi para a Ferroviária, onde apresentou um bom desempenho, podia ter parado na MLS. Foi uma aposta de Diniz como um jogador que poderia ser recuperado.
Não é preciso lembrar que foi o gol do título e mudou os rumos da final. Ainda cravou o empate na segunda semifinal diante do Inter.
Diniz diz que Kennedy é um daqueles jogadores que têm carências e que não foram tratadas no futebol. Reconheceu que, por isso, ele não tinha um compromisso profissional. Isso mudou e agora ele é um touro, segundo o técnico.
Flexibilidade de posições
Durante a temporada, os jogadores do Fluminense foram apreendendo a jogar em diversas posições. Marcelo não era mais lateral, e virou meio-campista, mas podia ser ponta-direita. Árias é ponta, mas pode ser lateral para fechar a linha de cinco.
André foi zagueiro quando o time precisou ser ofensivo. Ganso jogou de primeiro volante e até passou a sair a bola junto ao goleiro. Fábio aprendeu a jogar com os pés como nunca em sua carreira.
Para que o time tenha variações táticas, e diferentes formas de jogar, cada jogador adotou mais de uma função. Isso se viu na final quando o Fluminense teve três estilos diferentes durante o mesmo jogo.
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