Lições da Inglaterra: Fracasso do Arsenal deixa alerta ao Botafogo
Um primeiro turno muito bom impulsiona o time sensação do país à liderança do campeonato. Muitos dizem que o título está ganho, que o torneio acabou, que não há mais nada em disputa. Mas o returno vem acompanhado por uma queda brusca, derrota em confronto direto e o que parecia firme como rocha se desfaz.
Essa foi a realidade do Arsenal na Premier League de 2022/2023. Os Gunners chegaram a abrir oito pontos de vantagem contra o Manchester City, tiveram que lidar com número de jogos diferentes, perderam confronto direto e deixaram a taça escapar.
Mas o protagonista dessa história poderia muito bem ser outro: o Botafogo. O Alvinegro tenta contrariar a história do clube londrino e escrever um final feliz a partir de hoje (9), quando enfrenta o Grêmio.
O que aconteceu
O Botafogo lidera o Campeonato Brasileiro desde a terceira rodada, mas sofre pressão cada vez mais forte dos concorrentes ao topo.
O grande vilão de General Severiano é o returno da competição. Foram apenas 12 pontos conquistados, com aproveitamento de 33,3%, um dos piores entre todos os participantes da competição.
Bem diferente dos 47 pontos e aproveitamento de 82,4% da metade inicial dos jogos.
Ao fim desta rodada, o Botafogo deve manter o primeiro lugar, mesmo com uma derrota para o Grêmio - neste cenário, ambos terão 59 pontos, mas os cariocas levam vantagem no saldo de gols (24 a 7).
Um espelho na Inglaterra
O Arsenal perdeu o Campeonato Inglês exatamente por uma queda acentuada de rendimento no segundo turno.
Até o confronto direto com o City, teve 64,1% de aproveitamento, diferente dos 87,7% do início da disputa, que garantiram o melhor primeiro turno da história da competição — igual o Botafogo no Brasileirão de pontos corridos.
O time treinado por Mikel Arteta liderou a Premier League passada por 27 das 38 rodadas, ou seja, praticamente 70% do torneio.
O encontro com o City ocorreu na 33ª rodada (exatamente a mesma em que o Botafogo enfrenta hoje, diante do Grêmio). Os Citizens venceram por 4 a 1, mostrando um potencial de disputa muito maior.
O triunfo deixou a diferença em dois pontos, sendo que os comandados de Guardiola tinham dois jogos a menos. Bastou confirmar vitórias para a ultrapassagem, que ocorreu na rodada seguinte contra o Fulham.
O título veio sem que a equipe de Manchester entrasse em campo, com a derrota do Arsenal para o Nottingham Forest. O City terminou a competição com cinco pontos a mais do que o Arsenal.
É muito difícil ser campeão, quando não se está acostumado a ser campeão. O Botafogo é um clube vencedor, mas as últimas décadas dele não foram vencedoras. Pode se falar que este time não está habituado a vencer, como não estava o Arsenal. Temos outros exemplos, o Borussia Dortmund entregou um campeonato ganho para o Bayern na Alemanha. O Napoli chegou a hesitar, mas tinha uma vantagem tão astronômica que não tinha mais como perder. É muito difícil romper essa barreira. Para quem já é vencedor, ganhar é mais fácil. E se torna ainda mais difícil quando se tem no encalço um time vencedor. Como foram os casos do Arsenal para o City, do Borussia para o Bayern e agora do Botafogo para o Palmeiras Rafael Reis, colunista do UOL
O que aprender com Arsenal
Segundo o colunista do UOL Thiago Arantes, o Arsenal deixa um legado que o Botafogo pode assimilar enquanto ainda há tempo.
"Uma das lições é a falta de um elenco mais amplo: o time londrino sofreu muito com as lesões, por não ter peças à altura para substituir Gabriel Jesus e William Saliba em momentos importantes do ano", pontuou Arantes.
"Outra é mais difícil de medir em números: houve um momento da temporada em que, nos jogos mais acirrados e decididos nos detalhes, o Arsenal levava a melhor. Foi assim, por exemplo, na vitória por 3 a 2 contra o Manchester United, no Emirates. Só que, nos dois últimos meses da temporada, a equipe parecia duvidar a própria capacidade de ser campeã", contou.
Exemplos da 'crise mental' foram os empates consecutivos contra Liverpool, West Ham e Southampton que precederam a derrota para o Manchester City por 4 a 1.
O 3 a 3 com o Southampton - então lanterna do campeonato — aconteceu cinco dias antes da 'final' contra o City. Aos 14 minutos de partida, o Arsenal perdia por 2 a 0, até reagiu, mas era tarde para buscar os três pontos.
"Ali, o Arsenal mostrou que estava duvidando de suas próprias chances", afirmou Arantes.
Embora essa derrota para o time de Guardiola seja apontada como o jogo que decidiu o título, os problemas já existiam antes da goleada sofrida: sem elenco, o time chegou à reta final da temporada com jogadores desgastados, e sem a atitude de quem está na luta por um título Thiago Arantes, colunista do UOL