Quem é o brasileiro que comanda o time de Cristiano Ronaldo na Arábia
Marinho Saldanha
Do UOL, em Porto Alegre
14/11/2023 04h00
Desde a chegada de Cristiano Ronaldo, o Al-Nassr deixou de ser um clube conhecido apenas como um dos maiores da Arábia Saudita e se transformou em uma equipe global.
Mas pouca gente sabe que o time da cidade de Riad tem o futebol comandado por um brasileiro. É o pernambucano Marcelo Salazar, de 48 anos, que ocupa o posto de executivo de futebol da equipe de CR7.
Como um brasileiro é dirigente do Al-Nassr?
A chegada ao clube se deu com participação de Mano Menezes, primeiro para integrar a comissão técnica, e em seguida para função de diretor executivo de futebol.
"A esfera política tem muita relevância no futebol saudita. Desde junho desse ano, 75% de nosso clube foi adquirido pelo fundo soberano de investimento do Reino da Arábia Saudita (PIF). O executivo deve ter conhecimento técnico sobre o jogo e entender outros aspectos que cercam o futebol tais como finanças, mercado de transferências, geopolítica, gestão de crises, relacionamento e comunicação. Falo 5 idiomas, entre eles o árabe, e isso é um grande diferencial", contou.
Esta é minha terceira temporada aqui. Em maio de 2021, fui campeão da Copa do Rei da Arábia Saudita pelo Al Faisaly, coroando um excelente trabalho de 3 temporadas como auxiliar de Péricles Chamusca naquele clube. Decidi que era hora de dar um salto de qualidade e aceitei o convite do presidente do Al Nassr, Musali Al Munamar, que me recebeu pessoalmente na sua casa e me propôs integrar a comissão técnica de Mano Menezes como auxiliar do clube, para a temporada 21/22. Comecei em julho de 2021
Marcelo Salazar, executivo de futebol do Al-Nassr.
Cristiano Ronaldo mudou a realidade
Marcelo Salazar tem certeza de que foi Cristiano Ronaldo que impulsionou a Liga Saudita e abriu as portas para a chegada de outros craques mundiais, como Neymar, Benzema, Kanté, Firmino e Mané.
"CR7 é muito exigente com tudo que está no seu entorno. Ninguém chega e se mantém no patamar que ele está sem um nível de exigência, dedicação, esforço e profissionalismo altíssimo", afirmou.
A chegada dele foi um plano ambicioso, construído coletivamente e levado a cabo com maestria pelo presidente do clube. Minha relação com ele é amistosa, profissional, sincera e direta. Além de tudo, sou um grande admirador dele. Ele impactou o clube até mesmo antes de chegar, tanto dentro quanto fora de campo. Os níveis de exigência subiram demais e isso mudou o clube de patamar. Nos tornamos uma marca global. Hoje, vemos camisas do Al Nassr no mundo inteiro
Quem é ele?
Nascido em Recife, Marcelo sempre foi apaixonado pelo futebol e desde os 8 anos de idade competia em torneios de futsal. A paixão foi influência do pai, definido por ele como 'craque de bola', e que optou pela medicina como profissão.
Em 2001, quando concluiu o curso de educação física, resolveu se tornar profissional, jogando a Liga Nacional pelo Sport/Osasco.
Depois disso atuou na Bélgica, na Espanha, defendeu a seleção portuguesa de futsal em dois Mundiais (2004 e 2012) e encerrou a carreira no Kuwait.
Em seguida concluiu todos os cursos de treinador da CBF, e migrou para o futebol de campo como preparador físico do Al-Shabbab, do Kuwait. Após o título nacional e de ser finalista da Copa, aceitou convite de trabalhar no Al-Faisaly com Péricles Chamusca, e o Nassr veio como consequência desse trabalho.
Há uma frase que gosto muito e acho que li em algum livro do Bernardinho: "Nunca se é, sempre se está." Hoje "estou" diretor. Já "estive" treinador. Essa é minha paixão. O campo. O jogo. Mas independente da função que eu exerça, meu compromisso é entregar meu melhor, com humildade, honra e honestidade. Por todas as habilidades que desenvolvi até hoje, os conhecimentos que adquiri e dado meu apetite por aprender, meu plano é evoluir diariamente para estar apto a seguir no mais alto nível do futebol mundial, realizando meu propósito, que é impactar positivamente a vida das pessoas que me rodeiam através de meu trabalho no futebol. Sou ambicioso e não tenho limitação geográfica
Entre as 10 melhores ligas do mundo
Salazar vê a Liga Saudita entre as 10 melhores do mundo. Entretanto, ele prefere não comparar com o futebol brasileiro.
"Não gosto de comparações, pois para comparar, é necessário clareza de critérios e ainda assim o resultado será muito subjetivo, dada a paixão que o futebol suscita nos torcedores. No Brasil, não há uma liga. São duas grandes competições e existem pontos positivos e negativos em cada uma delas", opinou.
Para ele, a chegada de craques deve se repetir na próxima janela de transferências, pois há um movimento que mira ampliar o número de estrangeiros autorizados a jogarem ao mesmo tempo.
Hoje o limite está estabelecido em oito, mas pode crescer para até 10. Independentemente disso, a tendência é que novos jogadores de nível mundial cheguem atraídos pela qualidade dos clubes, o crescimento do futebol, a visibilidade e a qualidade de vida.
É um momento único, mas é bom que se diga que a Arábia Saudita é um país que ama o futebol. Existe cultura futebolística. Grandes nomes do futebol já passaram por aqui desde os anos 70. Nomes como Stoichkov e Denílson jogaram no Al-Nassr. Rivellino também jogou aqui na Arábia Saudita. A chegada à Liga Saudita de jogadores que deixaram clubes como Real Madrid, Manchester United, Chelsea, Manchester City, Bayern de Munique ou Liverpool certamente aumenta muito a qualidade