Chuteira e berimbau: City implementa capoeira às crianças da base do Bahia
Meiões e chuteiras vestem pés que se movimentam ao som do berimbau, atabaque e caxixi. A união entre futebol e capoeira acontece nos gramados da base do Bahia, e se torna uma interseção entre a cultura popular baiana e a filosofia do Grupo City, que faz a gestão desde maio.
O que aconteceu
As aulas de capoeira abrangem 250 crianças, que integram do sub-8 ao sub-13, e acontecem no Complexo Arena Villas, onde treinam as categorias menores do Tricolor de Aço.
A ideia é que a modalidade, que envolve elementos de dança e artes marciais, possa ajudar no desenvolvimento dos jovens, e gerar consequências também no futebol.
"Nesta idade, o cérebro está se desenvolvendo, descobrindo as atividades corporais. A capoeira é um esporte que traz grandes benefícios aos jovens jogadores de futebol. Eles melhoram a coordenação motora, o ritmo, a flexibilidade, o equilíbrio, a movimentação com as duas pernas, além de estimular a disciplina e a interação entre os indivíduos", disse Arivan Gomes, coordenador de Performance e Saúde do Bahia.
Estamos pensando em desenvolver atletas mais inteligentes, com mais estratégias corporais, com uma cultura maior, entendendo o que eles representam para a sociedade. Além de todos estes benefícios, estamos estimulando a musculatura destes meninos para diminuir os riscos de lesões futuras ao jogarem futebol Arivan Gomes
Capoeira e resistência
O responsável pelas aulas é Mestre Minhoca, que salienta a relação que a capoeira tem com a história de resistência que se entrelaça à da Bahia.
A expressão surgiu como uma resposta à violência à qual os negros escravizados eram submetidos. À época, os senhores proibiam que os escravizados praticassem esportes, e, então, os capoeiristas adaptaram movimentos e acrescentaram elementos coreográficos e musicais, camuflando a intenção inicial de defesa.
"A capoeira é um patrimônio cultural, está inserida dentro de nossa cultura e sempre foi utilizada para nos preparar de forma cognitiva para enfrentar os desafios de nossa sociedade. Para estes meninos do Bahia, ela traz benefícios motores, culturais, de disciplina e trabalho em equipe inacreditáveis. Eu fico até emocionado ao ver o clube abraçando este projeto", ressalta Mestre Minhoca.
Essa íntima relação da capoeira com a Bahia pesou na escolha do Grupo City para o início do projeto — o estado é o berço da primeira escola de capoeira do Brasil, fundada em 1937.
"Pensamos em ter outros esportes integrados neste projeto, mas decidimos começar com a capoeira por ser uma arte atrelada ao povo baiano, às nossas tradições culturais e às fortes heranças do povo africano. É um bem emblemático da Bahia. Este conhecimento cultural é muito importante no desenvolvimento destes atletas. Eles se sentem mais pertencentes à nossa instituição, ao nosso local. É muito importante este conhecimento científico, cultural e histórico", afirmou Arivan.
O mais legal é que o futebol e a capoeira têm tudo a ver com o nosso povo, com nossas raízes. E os movimentos são, de certa forma, bem parecidos; do ponto de vista motor, eles se assemelham muito Mestre Minhoca
O Mestre, inclusive, ressalta como a violência nas periferias tem um impacto direto na prática de esportes nas ruas:
"Dou aulas também nas periferias aqui de Salvador e hoje, por conta da violência, temos cada vez menos crianças podendo brincar na rua, como acontecia antigamente. As atividades esportivas, em especial a capoeira e o futebol, são muitas vezes as únicas oportunidades destas crianças para se desenvolverem de forma mais saudável e longe dos perigos".
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