Tite e Felipão não se falam há 13 anos e romperam amizade. O que aconteceu?
Marinho Saldanha
Do UOL, em Porto Alegre
28/11/2023 04h00
Tite e Felipão já foram íntimos, mas romperam relações e não se falam há 13 anos. Amanhã (29), o duelo entre Flamengo e Atlético-MG opõe treinadores cujas histórias, entre tapas e beijos, estão unidas há décadas.
Amizade, desentendimento e ressentimento
Tite e Felipão foram próximos durante muito tempo. Miro Bachi, irmão de Tite, contou ao UOL que Scolari esteve, inclusive, em uma festa de aniversário de Matheus, filho do treinador e auxiliar do Flamengo.
Tudo mudou em 2010, quando eles romperam amizade e jamais retomaram.
Na penúltima rodada do Brasileirão de 2010, o Corinthians de Tite dependia do Palmeiras de Felipão na briga pelo título. Se o Verdão parasse o Fluminense, o Timão, ganhando seu jogo contra o Vasco, assumiria a ponta. Mas não aconteceu, e o Flu acabou campeão. Para Tite, faltou empenho do antigo amigo.
Em 2011, depois de perder para o Tolima-COL e ser eliminado da Libertadores, uma declaração de Felipão sobre Tite não caiu bem. Scolari disse que se o cargo do então amigo dependesse de uma vitória ele "gostaria de perder o jogo". O que acabou acontecendo.
No encontro seguinte houve uma nova polêmica, quando Tite protagonizou a cena que ficou marcada pelo "fala muito" à beira do campo. Nem mesmo um abraço trocado em 2012 mudou o tom da relação. Virou estritamente profissional.
No calor do jogo, muita coisa acaba sendo mal interpretada. Aqueles episódios romperam a relação. Os dois ganham no futebol, são técnicos vencedores, ambos são pessoas de bem, de família, isso a gente reconhece. Mas cada um quer ganhar de uma forma. O meu irmão não quer usar artimanha, quer ganhar sendo o melhor. O Felipão é raposão, é a malandragem do futebol.
Miro Bachi, irmão de Tite
Desde então...
Houve algumas tentativas não respondidas de contato. Felipão argumenta que procurou Tite e não foi atendido, Tite relata que, quando assumiu a seleção, buscou contato com Scolari e também não houve retorno.
O irmão de Tite revelou que ambos estiveram em eventos ao mesmo tempo e procuraram não se encontrar. "Foi cada um para um lado", disse. Certa vez, Tite e Felipão estiveram no mesmo voo, em assentos próximos. Ali houve uma tentativa de cumprimento de Tite, sem qualquer resposta amigável de Luiz Felipe. E nada mais.
Cada um tem um diagnóstico para o rompimento. O meu irmão acha que na hora em que ele poderia ajudar ganhando do Fluminense, não ajudou. Eles tinham uma relação muito forte e ele esperava outra postura. Essa é a visão do meu irmão. O Felipe, claro, acha que isso não aconteceu e pensa que meu irmão foi ingrato. Assim que a relação se rompeu. Eu não sei se vão reatar, mas tenho certeza que lá no íntimo ambos gostariam. O Felipão é muito orgulhoso, meu irmão também é. O Tite é um cara que diz: "eu perdoo, mas não esqueço". São pessoas do bem, mas não sei se vão reatar por isso. No fundo, sei que gostariam. Eu gostaria também. Confesso que não gosto do Felipe, dessa coisa da malandragem, mas eu gostaria que reatassem
Miro Bachi, irmão de Tite
Diferentes em tudo
Tite e Felipão fizeram história e grandes amigos no Caxias. Um deles é o doutor Aloir de Oliveira, de 71 anos, que há 40 trabalha como diretor médico do clube e relatou como ambos eram diferentes.
Felipão jogou pelo Caxias com o nariz quebrado contra o Internacional e ainda assim foi o melhor em campo, mesmo que a cada lance de cabeça jorrasse sangue de seu nariz.
"Ficou bem quebrado o nariz, precisamos levar para o bloco cirúrgico, toda imprensa dizia que ele não jogaria, mas ele me convenceu, pediu para jogar, insistiu", disse.
Tite, por outro lado, foi acompanhado de Aloir ao estádio do Inter prestes a enfrentar o Grêmio. O objetivo era coletar provas de que a direção gremista havia fechado a drenagem do Olímpico na decisão do Gauchão de 2000. A alegação ocasionou o adiamento da partida que culminou com o título da equipe.
Tudo começou na escola
Felipão e Tite se conheceram no Instituto Cristóvão de Mendoza, em Caxias do Sul. Em meados dos anos 70, Scolari alternava as atividades de jogador do Caxias com a função de professor de educação física, ainda como estagiário, e Tite, ainda sem o apelido, era aluno.
Mais tarde, com Adenor Bachi no Colégio Henrique Emílio Mayer, houve o primeiro duelo entre eles. Scolari treinava o time adversário em uma competição escolar e depois do jogo convidou Ade (apelido da época) e Tite (o original, outro garoto) para testes no Caxias.
Eis que o Tite verdadeiro não compareceu, e Ade foi aprovado. Então o próprio Scolari batizou Adenor com o apelido do amigo que faltou ao teste: Ade virou Tite, e permanece assim até hoje.
Era comum na época jogadores do time principal treinarem as categorias de base, e Felipão treinou Tite nos primeiros momentos de Caxias.
Eles chegaram até a jogar juntos pela equipe grená, mas por pouco tempo. Tite era um jovem em ascensão, Felipão já um zagueiro sem o mesmo prestígio de outros momentos.
11 anos sem duelos
O último duelo entre Tite e Scolari ocorreu em 2012, pelo Campeonato Brasileiro. Treinado pelo atual comandante do Flamengo, o Corinthians bateu o Palmeiras por 2 a 1. Naquele ano, o Verdão seria rebaixado. Foram seis confrontos ao todo com quatro vitórias de Tite e dois empates. Em 2011, o Palmeiras de Felipão chegou a vencer o Corinthians de Tite, mas Scolari não comandou o time pois cumpria suspensão.