'Campeão por fax': por que rivais rejeitam brasileirões do Palmeiras?
O Palmeiras chegou ao 12º título do Campeonato Brasileiro hoje (6). Porém, a conta é desdenhada por torcedores rivais, que desconsideram as já oficialmente reconhecidas conquistas antes de 1971 —ano em que foi criado o Brasileirão.
Por que virou 'campeão por fax'?
O termo ganhou coro entre os torcedores rivais após a CBF, em 2010, oficializar títulos nacionais de 1959 a 1970.
Na unificação foram incluídos os títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Taça de Prata).
Palmeiras e Santos foram os principais beneficiados: o Alviverde somou quatro conquistas, enquanto o Peixe agregou mais seis títulos à coleção. Bahia, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense também tiveram um título somado.
Campeões da Taça Brasil
- 1959 - Bahia
- 1960 - Palmeiras
- 1961 - Santos
- 1962 - Santos
- 1963 - Santos
- 1964 - Santos
- 1965 - Santos
- 1966 - Cruzeiro
- 1967 - Palmeiras
- 1968 - Botafogo
A Taça Brasil foi criada em 1959 com um representante por estado e era a única competição nacional até 1966.
O formato em mata-mata tinha participação dos campeões estaduais num modelo similar ao início da Copa do Brasil.
Os campeões de Rio e São Paulo entravam em fases mais avançadas.
O mesmo direito era concedido ao campeão da edição anterior.
Para participar da Taça Brasil, porém, era necessário ter conquistado antes o estadual.
O Bahia superou o Santos na final e foi o primeiro clube a vencer a competição.
O tricolor foi o representante do país na primeira edição da Libertadores de 1960.
Campeões do Torneio Roberto Gomes Pedrosa
- 1967 - Palmeiras
- 1968 - Santos
- 1969 - Palmeiras
- 1970 - Fluminense
O Roberto Gomes Pedrosa começou em 1967 e era organizado pelas federações de Rio e São Paulo, numa ampliação do torneio Rio-São Paulo.
A primeira edição contou com times de Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná.
O formato apresentava times divididos em grupos e mais de uma fase para definir o campeão.
O Palmeiras foi o primeiro campeão, com uma campanha de 20 jogos (10 vitórias, 8 empates e 2 derrotas).
A segunda edição contou com a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) como responsável e acrescentou outros centros: baianos e pernambucanos foram incluídos. Passou a ser conhecida como Taça de Prata.
Como contar essa história?
A CBF se baseou em um dossiê produzido pelo jornalista e pesquisador Odir Cunha, que montou o material histórico a pedido de clubes para convencer a entidade da unificação dos títulos.
O que diz o criador do dossiê, Odir Cunha
Por que foi importante? A unificação é importante por resgatar os campeões brasileiros na era de ouro do nosso futebol, em que a seleção brasileira ganhou três Copa do Mundo em 12 anos (1958 a 1970) com todos os jogadores, titulares e reservas, em atividades em clubes nacionais.
Campeão por fax? Se são apenas torcedores de clubes que não ganharam nada naquele período - como são-paulinos, corintianos, flamenguistas e vascaínos - eu acho uma reação normal de torcedores debochados. Mas se são jornalistas, e esportivos, fico mais preocupado. Ou melhor, decepcionado. Pois não leram o dossiê, não estudaram com o devido respeito a história do futebol brasileiro e acham que apenas a sua opinião tem mais valor do que uma pesquisa séria.
Se lessem o dossiê saberiam que o nome da competição e o número de jogos não importam, mas sim a finalidade dessa competição, seus critérios e sua chancela pela entidade responsável pelo futebol nacional - no caso a CBD, que virou CBF.
Há jornalistas mal informados que defendem que a Taça Brasil deveria ser unificada com a Copa do Brasil, já que têm os formatos de disputa semelhantes. Ocorre que o formato não torna competições equivalentes, e sim o objetivo pelo qual cada uma foi criada.
A Taça Brasil era a única competição nacional que definia o campeão brasileiro e o representante do Brasil na Libertadores, enquanto a Copa do Brasil sempre foi uma competição secundária. Ela nunca definiu o campeão brasileiro. O campeão da Copa do Brasil é apenas o campeão da Copa do Brasil.
Vejo e ouço alguns argumentos muito fracos, que não resistem a um pingo de coerência. Um deles é: como pode um time ser campeão brasileiro com apenas quatro jogos, como ocorreu algumas vezes na Taça Brasil?
Pois esses mesmos jornalistas, eu sei, torcem para times que foram campeões mundiais com apenas um jogo. Como eles se sentiriam se no futuro, quando tivermos Mundiais de Clubes com dezenas de equipes e muito mais partidas, alguém resolvesse anular os Mundiais com apenas um jogo?
Em agosto deste ano, a CBF reconheceu o título de campeão brasileiro do Atlético-MG em 1937. Em fevereiro de 2022, a entidade recebeu um estudo da diretoria do Galo com documentos e acervo histórico.
O que diz o colunista do UOL Paulo Vinícius Coelho
Era favorável à unificação? Eu debati contra a unificação. Perdi. Hoje, acho que temos de contar a história do jeito oficial. Cabral descobriu ou invadiu o Brasil? Ele chegou aqui em 22 de abril de 1500. Depois de contar a história, refletimos sobre ela.
Campeão por fax? Os campeonatos não foram conquistados por fax. Eles existiram. Havia mil maneiras de unificar, bons argumentos para unificar e para não unificar. Só não pode haver debates em que prevaleça a política e o clubismo.
Apesar de eu sempre ter sido contra a unificação, acho que houve ganho de cultura. Muita gente aprendeu sobre torneios e times que existiram.
A história do futebol brasileiro é um balaio de gato. A gente precisa contar de um jeito oficial para que um menino de 10 anos possa entender o que aconteceu, sem deixar que questões clubistas e políticas contaminem o debate.
Palmeiras dispara em títulos nacionais
O Palmeiras somou dois títulos nacionais em 2023. Além do 12º título do Brasileirão, o Alviverde também faturou a Supercopa do Brasil no início do ano. Agora, são 18 conquistas no total. O Flamengo é segundo colocado com 15.
- Campeonatos Brasileiros (1960, 1967, 1967, 1969, 1972, 1973, 1993, 1994, 2016, 2018, 2022 e 2023)
- Copas do Brasil (1998, 2012, 2015 e 2020)
- Copa dos Campeões (2000)
- Supercopa do Brasil (2023)
A lista dos campeões brasileiros
- Palmeiras - 12 (1960, 1967, 1967, 1969, 1972, 1973, 1993, 1994, 2016, 2018, 2022 e 2023)
- Santos - 8 (1961, 1962, 1963 , 1964 , 1965 , 1968, 2002 e 2004)
- Flamengo - 8 (1980, 1982, 1983, 1987*, 1992, 2009, 2019 e 2020)
- Corinthians - 7 (1990, 1998, 1999, 2005, 2011, 2015 e 2017)
- São Paulo - 6 (1977, 1986, 1991, 2006, 2007 e 2008)
- Cruzeiro - 4 (1966, 2003, 2013 e 2014)
- Fluminense - 4 (1970, 1984, 2010 e 2012)
- Vasco - 4 (1974, 1989, 1997 e 2000)
- Atlético-MG - 3 (1937, 1971 e 2021)
- Internacional - 3 (1975, 1976 e 1979)
- Bahia - 2 (1959 e 1988)
- Botafogo - 2 (1968 e 1995)
- Grêmio - 2 (1981 e 1996)
- Athletico-PR - 1 (2001)
- Coritiba - 1 (1985)
- Guarani - 1 (1978)
- Sport - 1 (1987)
*O Flamengo conquistou o módulo verde do Brasileiro de 1987 e se recusou a disputar o quadrangular final, que acabou vencido pelo Sport. A CBF reconheceu Fla e Sport como campeões de 1987, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) confirmou apenas o Sport como campeão daquele ano.