Um dos grandes destaques da retomada palmeirense rumo ao 12º título brasileiro, Endrick conferiu a Abel Ferreira boa parte de seus méritos na convocação para a seleção brasileira.
"Abel sempre conversou comigo. No começo desse ano também. Ele é um cara fenomenal, espetacular. Uma pessoa que sempre tá com você ali. Devo muito. Minha convocação também devo muito a ele", afirmou a joia do Palmeiras em entrevista ao Bola da Vez, da ESPN.
Sobre o grande momento que vive, o garoto diz ser difícil de acreditar: "Parece que tô vivendo um sonho. Quando fui convocado, bateu um tempo para acreditar. Eu não sabia antes."
Prestes a viajar para Madrid para aproveitar as férias, Endrick assegurou que não deixa a fase e a fama subirem à cabeça, mas revelou nunca ter duvidado do sucesso que fará no futuro. "Não tive. No começo do ano estava mais acanhado, mas depois só entreguei nas mãos de Deus e segui jogando com alegria", afirmou.
Endrick no Bola da Vez: confira outras respostas do craque de 17 anos:
Também se impressiona com a própria maturidade?
Não, porque minha mãe sempre me criou do jeito certo, pra ser um homem de caráter, de respeito, que não vá fazer coisas erradas. Meus pais me ensinaram desde cedo a ser um garoto inteligente. E sou 100% fiel a meu trabalho, sempre busquei ter uma maturidade onde eu estiver. Não posso deixar subir à cabeça, tenho que manter os pés no chão. Isso minha família me ensinou.
História do começo de carreira e passagem pelo São Paulo
Era uma época muito boa. Era muito 'da hora'. Prezo muito a gratidão, e foram meu primeiro time. Pensava que poderia ficar lá pela gratidão. E qualquer time que viesse, se fosse da vontade dos meus pais, eu ficaria no São Paulo pela gratidão. Depois que falaram aquilo, não daria pra viver com isso. Quando veio o Palmeiras, que foi o primeiro, então graças a Deus no segundo dia de avaliação eu já tinha passado. Eles deram tudo. Foi um gesto de sinceridade, de gratidão, de humildade do João Paulo de acreditar em mim. Agradeço muito ao São Paulo. Meu pai postou o vídeo no Youtube, e alguns times foram atrás. Fiz testes no Athletico também, depois para o Palmeiras. Quando cheguei no Palmeiras, foi uma conexão surreal. Foi muito bom. Não posso esquecer do Alemão, o treinador, um cara que falava pra eu ir pra cima sempre.
Nas idas e vindas pro Palmeiras, como encarava jogar e depois deixar de jogar?
Quando subi, foi um tempo que ficava aflito sobre estrear ou não. Sempre que tinha chance, alguém era expulso (risos). Mas acredito muito em Deus, sempre orava e pedia que tudo acontecesse no tempo certo. E no Athletico, perdendo por 1 a 0, entro no intervalo e faço dois gols. Acabou sendo o jogo do título. São coisas surreais. Abel sempre conversou comigo. No começo desse ano também. Ele é um cara fenomenal, espetacular. Uma pessoa que sempre tá com você ali. Devo muito a ele, minha convocação também devo muito a ele.
Físico ou mental, o que te valeu mais?
Foi um conjunto muito bom. O físico é muito bom, a explosão. E isso me ajuda bastante. E tenho muita fé na minha explosão. Mas, pra mim, minha capacidade mental é muito boa a partir de agora. Quando o jogador tá feliz, tudo acontece naturalmente.
O que te deixava p* da vida? Quando não começava ou quando saía durante o jogo?
Todo jogador quer jogar mais. E sabemos que tem suplentes ali. Mas nenhum gosta de sair, sempre quer jogar mais, estar ali jogando, buscando sempre o gol. Tinha vezes que eu saía e a bola sobrava bem ali, e eu estava no banco. É difícil saber que pode sair durante o jogo. É a pior coisa do jogo.
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Quero receberAinda se incomoda com o planejamento de minutos do Abel?
Eu confio muito no Abel. Não importa se eu fizer gol, errar, se eu der assistência. Confio muito nele, e sei das opções dele. Só em momentos especiais ele me chamava pra conversar, perguntar. Ele tem uma filha da minha idade, e ele no início do ano viu que eu estava meio bravo, dizia que não me via sorrindo, conversava comigo.
Em algum momento teve dúvida sobre seu futuro?
Não. No começo do ano eu estava acanhado, mas depois só entreguei nas mãos de deus e segui jogando com alegria.
O que aconteceu de 22 de fevereiro, dia do suposto choro contra o Bragantino, para o dia da vitória contra o Botafogo?
Não estava chorando. Eu sentei no banco, tinha saído 10 minutos, e pra mim eu estava bem no jogo. Comecei a ir pra cima, estava finalizando. Olhei pra trás, vi que ia sair, e fiquei mal. Olhei pra cima, coloquei o colete na cabeça e conversei com Deus. Eu estava orando. E no Botafogo, depois que fiz meus 17 anos, mudei uma chave na minha cabeça de dizer que quem precisava ser feliz era eu, não as pessoas. E meu melhor jogo nem foi o do Botafogo, acho, mas o do Santos. Contra o Botafogo eu me exaltei um pouco, pra mim foi um erro, acho que expus meu time.
O que sentiu durante o jogo da virada contra o Botafogo?
Foi muito engraçado. Eu achava que estavam gritando "é, campeão!". Fiquei muito bravo, falei pro Murilo. Fomos pro jogo, tomamos 3 gols. Teve uma bola no primeiro tempo, que fui, tentei, e ali percebi que ia dar certo. E pude fazer os dois gols e dar assistência. No pós-jogo eu estava doidinho, fiquei conversando com o Murilo, que senta comigo no avião. Foi um dia muito bom, vi meu pai, meu irmão, minha mãe comemorando nos stories do Instagram.
Mudança da tática do time influenciou na evolução. Jogar de 9 não era problema?
O Abel soube montar um esquema muito bom, e ali ainda estou de 9. O Breno volta mais pra marcar e eu fico no centro. Tô com liberdade a mais. Não sou um cara tão alto pra ficar esperando bola no alto. E como sempre vi Benzema e Suárez saindo da área, isso foi uma coisa que comecei a fazer. E contra o Botafogo foi o que fiz, busquei a bola.
O Flamengo foi atrás de você mesmo?
Não sei. Meu pai e meus empresários devem saber. Prefiro ficar longe disso e só jogar futebol. Quanto ao contrato do Real, eu só pedi pra passar quem me queria. Não queria participar de valores. Só jogar minha bola mesmo e deixo tudo nas mãos dos meu pai e empresários.
Como se vê no futebol europeu?
Gosto muito de me movimentar. Deixar o zagueiro confortável é ruim. Se você vai nas costas, prum lado, pro outro, o zagueiro fica um pouco assim. Treinar com o Gómez e o Murilo é ótimo porque são os dois melhores do Brasil. Nunca [aliviaram pra mim].
Já sente a pressão do Real?
Como eu falei, quando eu era mais novo ficava nas redes sociais, via as coisas e gostava de ver o que falavam. Via que falavam que não estava desenvolvendo bem, e eu queria rebater, queria jogar. E aquilo não fazia bem. Foi uma época difícil pra mim, de rede social. Por isso que parei.
Suárez te elogiou. Ainda tem dificuldade de assimilar isso?
É um cara que eu via. Falei do gol dele contra o PSG, que dribla o David Luiz e chuta na gaveta foi histórico. Receber elogio do Suárez é muito bom pra mim. Espero que possa vê-lo jogando mais. Ver os movimentos dele, perto de campo, é uma coisa muito boa pra mim.
Como é a relação com o Real? Existe? Alguém já falou com você?
Tem uma comunicação, sim. Falei com o Ancelotti uma vez, quando estive com o Ronaldo. Foi uma conversa muito boa. Duas grandes pessoas. O Ronaldo, grande jogador, e o Ancelotti um grande treinador. Sempre estou por dentro dos jogos do Real. Pra mim é muito bom ter sido vendido pra um clube assim. O sonho de todo garoto é jogar a Champions League. Vivo um dia de cada vez, deixo nas mãos de Deus.
Tira de letra esse sucesso e a fama? Se imagina já no Real, no vestiário?
Jogo muito Fifa. Tenho o modo carreira jogador, e lá eu jogo no Real Madrid. E tem como entrar no vestiário, conversar com os jogadores. E lá dá pra imaginar um pouco, mas tem que voltar pra realidade.
Se vê formando um quinteto com Vini, Rodrygo, Bellingham e mais algum craque como Mbappé ou Haaland?
Eu vi o documentário do Beckham, que não tinha espaço pra ele porque eram craques ali. Saber que vou estar com caras fenomenais. Já pude experimentar na seleção com caras assim. É muito gratificante, e saber que o Real é um time gigante, o maior do mundo.
Aprendendo línguas
Sempre tem que estar ativo nas línguas. E eu quero me comunicar com os fãs. Quero aprender quatro línguas. Quero aprender Libras também, porque quero conversar com todo mundo que quer conversar comigo.
Se inspira em algum atleta? E cuidado pra não escorregar?
Tenho o Kobe, que é um cara que, todos sabem, tinha a Mamba Mentality. Era um cara muito centrado no que queria fazer dentro e fora das quadras. Era um negócio impressionante, que acordava mais cedo que todos pra trabalhar. E eu quero sempre trabalhar. Me inspiro bastante nele, nesses detalhes. Quando era mais novo via coisas na internet, sabia coisas que podia fazer e o que não podia fazer pra ser boa minha carreira.
Cuidar da humildade é da tua natureza ou trabalho de alguém que conversou com você?
Como eu falo, a educação que recebi dos meus pais é muito boa. Minha mãe ensinou o que tem que ser o Endrick homem. E as coisas aconteceram muito precoces pra mim. Via páginas de fofoca falando de jogadores, e via coisas que não podia trazer pra minha vida, coisas que não fariam bem pra minha carreira.
Sobre os que te ajudaram: quais são os jogadores?
Tenho o Veiga, o Murilo. Murilo a gente senta junto no avião, conversa sobre o jogo, sobre a vida. O Veiga eu visito sempre a casa dele.
Pergunta de Raphael Veiga: Qual foi a sensação de subir na cadeira da seleção?
Dá um negocinho. Água no sovaco, sobe, desce cadeira. Comecei a falar, na primeira cantei uma música. Eu tinha treinado a semana toda. Aí disseram "essa ai não, desce e de novo você volta". Depois cantei uma que ninguém tinha cantado, mas fiquei em choque e foi muito boa a experiência.
Como reage a essa fase que tem vivido?
Parece que tô vivendo um sonho. Quando fui convocado, bateu um tempo pra acreditar. Eu não sabia antes. Eu estava treinando com o Vinicius, meu treinador. Começou a tocar meu celular, e não queria ver o celular. Era meu pai me ligando, mandando foto. Quando acabou o treino eu vi, bateu a borboleta no estômago.
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