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'Teve problema emocional', diz Lúcio Flávio sobre a derrocada do Botafogo

Colaboração para o UOL, em Aracaju

13/12/2023 13h08

Ex-técnico do Botafogo, Lúcio Flávio admitiu em entrevista ao De Primeira que o fator emocional pesou para a derrocada na reta final do Brasileirão. Após fazer o melhor primeiro turno da história do pontos corridos, o Glorioso desabou no returno, perdeu a liderança e acabou o campeonato em 5º, classificado à pré-Libertadores.

Lúcio Flávio falou sobre os gatilhos emocionais que abalaram o Fogão, questionou a gestão de John Textor na SAF do clube e rebateu influenciadores digitais. Ele comentou ainda as diferenças de filosofia de Bruno Lage para Luís Castro e a queda de rendimento dos protagonistas do time no fim da temporada.

'Os gatilhos mentais atrapalharam': "[O aspecto mental] Foi um fator que, se a gente for colocar em proporções, eu acredito que sim. Se a gente for pegar em relação a esses momento, ele começa ali no jogo contra o Palmeiras, que ocorre pela primeira vez aquele tipo de situação. Fizemos um primeiro tempo com aquela margem, e depois toma a virada, sendo praticamente na última bola do jogo, e aí vem uma sequência de jogos que a gente passar por esse processo do psicológico, do emocional. No jogo contra o Grêmio, que também abriu um placar de 3 a 1, jogando bem, aí praticamente em 12, 13 minutos tomou novamente uma virada, isso aí já demonstrava os sinais. Quando a gente vai para o jogo seguinte, fora de casa, o Bragantino, uma equipe que brigava conosco, nós tivemos uma boa reação, porém novamente no final tomou o gol. Nos últimos jogos, já com o comando do Tiago, praticamente a mesma coisa, com a equipe tomando gol no final em situações que é pouco comum de se ver, principalmente naquele jogo contra o Coritiba, em que a equipe fez o gol no minuto 51, recomeçou a partir e tomou o gol de empate. Por aí, a gente observa que, quando se tinha esses momentos, era praticamente um gatilho onde a equipe acabou tendo essa dificuldade de superar e deixou muitos pontos nesses jogos finais".

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'A equipe teve problema emocional': "Num campeonatos de pontos corridos, você tem que ter regularidade, na tua sequência, quando mais você vencer, melhor, quando isso você conseguir isso, te dá mais tranquilidade e conforto para você passar a competição, já por ela ser longa, todos acabam oscilando, uns no início, outros no meio e outros, como no caso do Botafogo, aconteceu nessa reta final. É uma visão que eu tenho por estar dentro, a partir daquele jogo contra o Athletico-PR, aqueles apagões, não ter ido jogar em Fortaleza, aquela sequência pesou para o Botafogo, porque a partir dali nós tivemos jogos sequenciais e os resultados acabaram não sendo ideais, o que culminou no aspecto emocional que acabou atrapalhando essa finalização da equipe na competição. aquel equipe do primeiro turno demonstrou uma capacidade enorme, excelente dentro da competição, e mesmo no segundo turno, em alguns jogos, foi uma equipe de boas performances, mas não conseguir definir os jogos em razão desse problema emocional que a equipe teve".

O que não funcionou na reta final?: "Por mais que o treinador tenha uma característica que ele gosta, ele também tem que observar se aquilo vai encaixar com as características do elenco que ele tem. Por exemplo, quando houve uma forma que o Luís achou para que essa equipe jogasse, ela foi se adaptando, se moldando a esse modelo, mudava uma ou outra peça, mas a equipe tinha uma similaridade de jogo. A partir do momento que tem um treinador com uma característica diferente, alguns jogadores acabam perdendo performance porque não é o jeito que ele está acostumado a jogar ou que ele vá em tão pouco tempo conseguir mudar. Numa competição como é o Brasileiro, em que você precisa rapidamente virar a chave, o que eu percebi foi muito isso, em alguns momentos um certo desconforto de alguns jogadores para aquilo que eles estavam acostumados. Eles jogavam de um jeito e eram líderes da competição dessa forma, era mais viável ter uma continuidade para ter aquilo que queríamos e trazer aquilo que eles buscavam fazer. Em vários jogos, isso acabou ocorrendo bem, mas o resultado não veio, em razão da forma que nós tomamos gol. Em muitos jogos, faltou mais maturidade de jogo, usar uma falta tática, não permitir uma ação ofensiva do adversário. Isso aí gerou situações de gols que nós tomamos, esse foi um dos fatores que acabou atrapalhando a sequência do Botafogo".

Confira outros trechos da entrevista com Lúcio Flávio, ex-técnico do Botafogo

Diferença de Luís Castro para Bruno Lage

"O Luís Castro tinha um trabalho de mais de um ano que ele estava à frente, existia uma definição, tanto uma equipe base como uma forma de jogar. Era um time que tinha um sentido forte defensivo e de transição, que trabalhava muito forte isso. Uma das coisas da saída do Luís e da vinda do Caçapa, eu falei com ele para nós não mexermos numa estrutura que já existia, uma equipe que vinha dando certo. Teve jogos que não foram com rendimento bom, mas tiveram resultados, a equipe teve dificuldade em alguns jogos, mas teve resultados. Como veio outro profissional, automaticamente teria outro tipo de trabalho, ninguém que é treinador mesmo acaba copiando ou mantendo o trabalho que é de outro, e isso foi o que aconteceu. O Bruno, dentro da sua característica, buscando uma equipe com mais posse de bola, um jogo mais posicional, teve um pouco de dificuldade em razão da equipe já jogar há mais de um ano da mesma forma. Nesse sentido, houve essa diferença, na saída do Luís a equipe estava acostumada a uma forma de jogar; em contrapartida, na saída do Bruno, uma equipe que ainda estava adaptando a uma forma nova, um pouco mais propositiva de jogo, diferente do que era uma equipe mais reativa, como era o Luís Castro."

Queda de rendimento dos jogadores

"Até o próprio segundo turno mostra isso, que houve, sim, da parte de alguns. A aí entra essa questão, muitas vezes a gente tem que observar o todo, quando o clube trabalha numa forma, numa característica que ele traz um treinador que tem uma forma de jogar e no mesmo campeonato você traz um treinador com uma outra característica, muitas vezes essas são as dificuldades de você ter uma sequência, uma manutenção de resultados, é um risco que você corre. Por exemplo, da troca do Luís para o Bruno, eles são pessoas diferentes, com visões diferentes, isso acaba que num contexto de Série A, que você estava liderando e todo mundo correndo atrás de você, torcendo para que você tenha tropeços, isso acaba afetando os jogadores que estavam tendo um rendimento bem considerável, numa equipe que todos compreendiam e sabiam que o Botafogo era forte por causa do seu grupo, da formatação do elenco. Não tinha um ou outro jogador que era um destaque no sentido de todo jogo fazer diferença, tinha sempre uma boa base, uma boa capacidade de jogo, e um ou outro sempre se destacava porque assim é o futebol num time que está tecnicamente bem."

Jogadores pediram para ele assumir o Botafogo?

"Não, não teve diretamente para mim. Nós trabalhamos um dia, teve o jogo contra o Goiás e depois disso houve uma reunião dos jogadores com o Textor e o departamento de futebol e ali houve alguma manifestação em relação ao momento. Mas ninguém chegou para mim dizendo que queria eu ficasse, dos atletas. No dia seguinte, quando houve a notícia da saída do Bruno, fui comunicado pelo nosso diretor de futebol que eu comandaria e eles estariam trazendo o Joel Carli e mais o treinador do sub-20 para a gente trabalhar junto e dar sequência, mas não houve a vinda de nenhum jogador, nem de jogadores, para falar comigo a esse respeito. O que aconteceu é que o Bruno foi desligado, eu estava como assistente do clube e o clube decidiu que eu permaneceria para os próximos jogos. Eu sou do futebol há muitos anos, isso é normal, porque eu era só o auxiliar e o clube teve o posicionamento seguinte - 'ah, vamos deixar o Lúcio um, dois jogos, se ele for bem, nós damos continuidades'. E foi isso que aconteceu, porque depois nós vencemos Fluminense e América-MG."

Críticas à gestão de John Textor na SAF

"O próprio PVC, se não me engano, foi um dos primeiros a ter um contato com o John Textor. Em uma postagem do PVC, depois do jogo contra o Red Bull Bragantino, com a chegada do Tiago Nunes, o Textor passa para o PVC que eu seria realocado como auxiliar do clube, porque eu era um funcionário. Com a saída do Luís Castro, que o clube não queria nem imaginava, a partir do momento que teve o rompimento de contrato, acabou sendo eu, que era o treinador da equipe sub-23. Mesmo não estando lá diariamente, acompanhando muitos jogos e tendo conhecimento do que era feito, eu e o Caçapa entramos e demos sequência, toda história depois vocês já sabem: a vinda do Bruno, a minha continuidade, a saída do Bruno, a minha permanência, até por ter esse conhecimento do grupo. A opinião pública, e principalmente no Botafogo, teve a questão da rede social. O que a gente espera num momento como esse, até porque isso já havia acontecido com o Botafogo no sentido de um Estadual que não foi o ideal e também teve muita questão de rede social, em que o próprio Textor foi firme e manteve o comando. Eu não era o técnico que iria permanecer no clube, eu era um auxiliar que virei treinador interino e, dentro daquilo que foi colocado, nós tentamos dar continuidade para manter a equipe brigando. Infelizmente, nessa situação toda, o único profissional que acabou demitido fui eu. As SAFs vieram, mas a gente ainda precisa mudar muito nossos comportamentos e pensamentos em relação ao futebol brasileiro."

Críticas dos torcedores e influenciadores digitais

"Em relação a esses torcedores, influenciadores, eles vão muitos pelo resultado, após o jogo contra o Fluminense ou contra o América-MG, não teve nada disso daí, ou eu estou enganado? Será que depois do jogo contra o Fluminense eles falaram que eu não era treinador para o Botafogo? As pessoas querem ligar muito à questão pessoal, 'ah, a pessoa não gosta de você e vai falar isso', mas acredito que não tem muita relação, não. O que passou lá atrás, passou. E outra, no fim de 2020, o Botafogo não ganhou campeonato, não foi para decisões e nem por isso eu estava no clube para dizer que eu era culpado de alguma coisa."

Comparações com o time do "chororô"

"Isso aí não tem muita ligação, porque enquanto atleta você jogou no Botafogo, jogou em outros clubes, quando você passa a ser treinador tem uma outra condição. Não é porque você é um ex-atleta você vai ser um treinador, ou seja, não tem muita relação, haja vista que a gente já viu vários jogadores de alto nível que tentaram uma carreira de jogador e não deu certo. Aquela questão do jogo em si, foi um jogo que nós perdemos a Taça Guanabara ou foi a Taça Rio, e é uma questão interessante porque qualquer equipe que perde, principalmente quando você se sente prejudicado, como naquele jogo. Naquele período, houve uma sequência forte de erros contra o Botafogo, e muitos jogadores ali entraram de fato no vestiário indignados, alguns deles estavam chorando. Nosso presidente era o Bebeto de Freitas e ele disse que não era para ir na coletiva, aí o Cuca já pensou numa situação de a gente ir com o grupo todo, o Bebeto achou isso interessante. Só que tinha vários jogadores que estavam com o rosto marejado, chorando alguns, então criou aquela situação."

Assista ao De Primeira na íntegra

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