Em 2002, Marcelo Teixeira era presidente do Santos. O clube estava sem dinheiro. Emerson Leão foi contratado como treinador, montou um time com garotos da base e foi campeão brasileiro.
Hoje, quase 22 anos depois, a situação é parecida. Marcelo Teixeira assume o clube pela terceira vez e, novamente, a situação financeira não é boa. O senso comum aponta para a solução de sempre, a solução de 2002: olhar para baixo.
Leão, agora aposentado do futebol, não acredita que possa dar certo. "A diferença é que o Santos estava na Série A e agora está na segunda divisão. E não é todo dia que tem pão quente. Aquela reunião de jogadores jovens é muito difícil de aparecer novamente, com Robinho, Diego, Elano, Renato, Alex e Paulo Almeida, um injustiçado", conta.
"E não foi nada planejado. O Alex ia ser dispensado, fiquei sabendo, mandei voltar no outro dia e em dez dias de treino já era meu titular. Tudo se encaixou muito bem", continua Leão.
Mas se a solução não está na base, onde está? "Não seria ético de minha parte ficar dando soluções ou opiniões, nem estou totalmente por dentro das condições da base do Santos. Mas o importante é saber que hoje em dia não basta ser jogador de futebol, tem que ser atleta profissional de futebol. Precisa se dedicar muito. E é preciso reunir os jogadores para formar uma equipe e não um bando.
Se a situação é ruim, Leão consegue ver dois pontos positivos. "O primeiro é que Marcelo Teixeira é um cara experiente, muito mais agora do que naquele tempo. Ele conviveu, dentro do Santos, com gente de todo tipo: gente culta, sem estudo, mau caráter, abnegado, e vai saber escolher com quem trabalhar. O segundo ponto é que tem tempo para trabalhar. Não está assumindo no meio da crise", explica.
Leão entende que é fundamental resolver logo a equipe de trabalho. "Lembra que eu falei do pão quente, fazer um forno para que jogadores possam crescer em igualdade. Se for preciso trabalhar em três períodos, então que trabalhe. Agora, se for treinar das 10h ao meio-dia e ganhar folga depois, pode desistir. É preciso trabalho e hierarquia."
Ele lembra de um gesto icônico no seu processo de "montar uma equipe". Recebeu uma lista de jogadores com observações ao lado, alguns ficariam e outros sairiam. Pediu um prazo, trabalhou dez dias com todos e... rasgou a lista. Foi chamado para explicar. "Esta lista foi feita por vocês, psicólogos, diretores, entendidos. Eu trabalhei com eles e vi muita vontade de acertar. E na minha lista, eles estão."
Longe do futebol, Leão curte os netos Pedro, César e Aurora. Vendeu muitas propriedades rurais, ficou com poucas e também mantém suas obras de arte. Compra muitos quadros. "É um prazer e não um hobby". E vai torcer para o Santos de longe. "Um clube assim e uma cidade dessas não merecem a segunda divisão".
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