Diniz diz que Flu envolveu City por 15 minutos e explica abismo entre times
Igor Siqueira
Do UOL, em Jeddah (SAU)
22/12/2023 18h56Atualizada em 23/12/2023 09h16
Classificação e Jogos
O técnico Fernando Diniz analisou o comportamento do Fluminense e o contexto em que está o Manchester City inserido ao explicar a goleada por 4 a 0 na final do Mundial de Clubes.
O treinador citou o dinheiro como fator relevante na disparidade entre os times, mas disse que não abriria mão de jogar como jogou, sendo "Fluminense do início ao fim".
Quem consegue no mundo envolver o Manchester City por 15, 20 minutos? Qual foi o time? A gente envolveu. Fernando Diniz, técnico do Fluminense.
O que mais ele disse?
DNA do time. "O Fluminense foi Fluminense do começo ao fim do ano. O resultado é muito amargo, ruim para caramba, mas a maneira como o time se portou é o Fluminense que a gente gosta de ver. Com coragem para fazer as coisas e não se submetendo a ninguém".
Mais sobre o controle. "Falar do resultado e imaginar que tem a ver com a maneira de a gente jogar é absolutamente equivocado. Tem muito mais a ver que a gente conseguiu em determinado momento do jogo ter domínio contra o maior time do mundo por conta do jeito de jogar. É isso que fica".
Elementos financeiros. "Não é que só o dinheiro. O dinheiro tem a ver com isso. Junto com o dinheiro, você consegue melhores entretenimentos, melhores campos, traz os melhores jogadores, tem a melhor estrutura. Então, você vai colocando tudo de melhor. A diferença não é só o dinheiro. Mas é muito por conta do dinheiro".
Outras respostas de Diniz
Ainda sobre o lado financeiro
"Por que o Guardiola trabalha lá? Muito por conta do que ele é remunerado. Ele não vai sair do Manchester para vir trabalhar no Fluminense e receber o que eu recebo. Então, você vai acumulando um monte de coisas que o dinheiro te favorece. A questão do fluxo de caixa é uma disparidade muito grande. Fora que lá é um centro extremamente competitivo. Não só a Premier League, mas a Champions e outras ligas da Europa".
Poder para contratar
"Eles levam os jogadores cada vez mais cedo para lá. Eu querer jogar contra o City é uma coisa. Eu queria ter o Felipe Melo e o Marcelo dez anos mais novos. Ganso e Fábio também. É diferente. Não é igual. A gente fez muita coisa".
Deu para virar a chave da Libertadores para o Mundial?
"Um outro cenário para o jogo para o Fluminense. A Libertadores era uma obsessão de todo mundo. Depois que a gente ganhou, veio um relaxamento natural. Em 121 anos de história e você ganha a Libertadores. A gente se preparou o ano inteiro para a Libertadores. Mas a gente não se preparou o ano inteiro para o Mundial. A gente foi se preparar de fato quando chegou na Arábia. Foi difícil levar o Brasileiro até o final. Acho que a gente fez um jogo digno. Tomamos um gol com 50 segundos. Não era o objetivo claro da temporada vir disputar a final do Mundial. A gente só conseguiu passar a semi por um adversário difícil porque trabalhou muito. A gente conseguir em determinados momentos ser muito Fluminense contra o maior time do mundo".
Concorrência com europeus
"Se eu pudesse ter a chance de jogar mais vezes contra o City, Liverpool, Inter de Milão, a gente melhoraria mais rápido. Quando a gente joga contra, a gente vê, aprende, depois vai para o vídeo e vai melhorando".
Momentos do jogo
"O primeiro gol deu um baque, mas nem tanto. Depois a gente tomou o segundo com todo mundo atrás, a gente sentiu mais. Voltamos para o segundo tempo e tínhamos um plano de trocar os jogadores. Você vai trocando, ganha energia, mas perde organização para esse jogo. Os jogadores que iniciaram tinham um plano muito claro. A gente soube fazer o ajuste na marcação, soube sair muitas vezes na saída de bola. Mas faltou, principalmente no primeiro tempo, foi ter mais profundidade. A gente ganhou isso com a entrada no John Kennedy".
Posse e toques na saída de bola
"Essa tomada (saída de bola) que tem atrás era o jogo que mais nos favorecia. Porque o time dos caras é muito forte, com cinco gigantes atrás, fortes e rápidos. A gente tinha que fazer as coisas de forma coletiva o tempo todo. Aquela é uma maneira coletiva de jogar e muito treinada. Tão treinada é que a gente pegou pressão extremamente agressiva e conseguimos sair várias vezes, o jogo todo. A saída para a gente não foi o problema. A gente teve mais problema quando a gente voltou, estava mais recuado. O primeiro gol foi uma infelicidade. No segundo, estávamos com o time todo atrás e fizemos um movimento desorganizado na marcação e tomamos o gol".
Fluminense como vitrine
"Alguém viu alguns bons jogadores nossos por conta disso. Quando só fica com a bunda lá atrás, você não vê ninguém. Vê só o time marcando, mas cadê os jogadores? Hoje, alguém notou o André, o Martinelli, John Kennedy. Alexander também entrou bem".
E se jogasse mais fechado?
"O Urawa jogou atrás o tempo todo, tomou de 3 a 0, não assustou em nenhum momento. E o goleiro foi o melhor em campo. Não é isso que iria fazer a gente jogar melhor. A estratégia eu acho que foi a adequada. Se a gente tivesse mais tempo para preparar para um jogo específico como esse... A gente teve dois dias. O que mais atrapalhou, fora a qualidade muito grande deles, foi tomar o gol muito cedo e tomar o segundo quando a gente estava melhor no jogo".
John Kennedy
"Ele não demorou a entrar. Entrou no intervalo. Ele não é titular porque no Brasil aconteceu muitas coisas. Ele tem uma história. Provavelmente, no ano que vem se mantendo assim, tem tudo para ser um dos maiores destaques do futebol brasileiro".
Balanço do ano
"Olhando para o ano, talvez tenha sido o ano mais glorioso da história do clube. Porque ganhamos o Carioca, mas não foi um Carioca qualquer. Conseguimos fazer um resultado histórico diante de um grande rival, no domingo de Páscoa. É daqueles jogos que nenhum torcedor tricolor vai esquecer. E depois, no 4 de novembro, a tão sonhada Libertadores".
E o ano que vem?
"Para a gente vir aqui ao Mundial em condições, foi muito difícil ser o melhor Fluminense aqui. Final de temporada. A gente conseguiu trazer todo mundo com saúde, mas foi difícil reunir forças e se conectar com o campeonato do mundo. A Libertadores era quase que um final de ano para todo mundo. Isso pesou contra a disputa do Mundial. A gente só conseguiu passar pela semifinal porque a gente conseguiu se conectar muito, treinar bastante. A final, com dois dias para se preparar. Não poderia preparar o City jogando contra o Al Ahly. A gente preparou bem, na medida do possível. Para o ano que vem, temos que saber acreditar mais. Em torneios como esse, tudo é possível".
Semente do Dinizismo
"Eu acho que deixa uma boa semente daquilo que a gente pode ser e fazer. Um jogo como esse tem que se jogar com um nível de concentração... Isso também é um treino para nós. Quando se desconcentra um pouco, é a diferença de ganhar, perder e tomar quatro gols. Para gente o que fica é que temos a possibilidade de ser grande. O time teve momentos de parabéns. O resultado foi amargo demais pelo que a gente fez no jogo. O Fluminense ofereceu momentos muito bons para todo mundo conhecer o jeito de jogar, os jogadores. É essência do meu trabalho oferecer ferramentas para que os jogadores consigam se mostrar. Os torcedores reconheceram que foi o time que teve a nossa cara do começo ao fim do ano".