Ex-jogador de São Paulo, Santos, Cruzeiro, entre outros clubes, Thiago Ribeiro abriu o coração sobre o período em que sofreu com depressão. Em entrevista ao UOL, o atacante de 37 anos que defenderá o Catanduva no Paulista da Série A3 em 2024 disse que chegou a pensar no pior.
'Eu pensei que poderia morrer'
Thiago falou abertamente sobre o período em que sofreu com depressão. Foi no fim de 2014, enquanto defendia o Santos. Segundo ele, a fé aliada à ajuda de profissionais evitou o pior.
"É uma coisa... no meu caso foi bem estranha. Eu não estava passando por nenhum problema naquele momento. Na questão pessoal, profissional, realmente foi uma situação que começou do nada. Até hoje eu tento entender por que começou naquela época", disse Thiago.
"Olha, quando eu estava passando por esse momento bem complicado, a primeira coisa que busquei foi força em Deus. Esse é o principal. Segundo ponto, meus familiares mais próximos e amigos que sempre me deram força pra não desanimar. Nunca passou pela minha cabeça fazer alguma besteira ou desistir de tudo", completou.
Durante o período mais complicado, Thiago conta que sofreu muito e que chegou a perder seis quilos em razão do quadro. Ele notou também redução na capacidade atlética, na força, em seu rendimento em campo.
Thiago temeu pela própria vida e superou a depressão com tratamento. Sem sucesso com antidepressivos, ele jogou futebol por três anos lidando com os altos e baixos da doença, e aos poucos se recuperou.
Em alguns momentos eu fiquei preocupado e pensei que poderia morrer. Você fica com medo porque sente muita falta de ar, um sufoco. Parece que quer respirar e não consegue. Teve alguns momentos ali que me deu uma ansiedade assim tão forte que você não consegue respirar normalmente, que às vezes, sim, parece que você vai morrer. Por isso que isso é uma situação que tem que ter muito cuidado.
Thiago Ribeiro
'Muitos jogadores passam por isso'
O futebol no dia a dia tem muita pressão. Hoje em dia ainda tem a questão das redes sociais. Quando você joga e o time ganha, você vai bem, é só elogios. E quando o time perde, você não vai bem, vem críticas e xingamentos. Por causa das redes sociais, muitas pessoas estão ficando doentes. Porque eles não têm preparo para lidar com essas coisas. Todo mundo consegue lidar com elogios, mas são poucas pessoas que conseguem lidar com as críticas. Eu acredito que no meio do futebol, pela exigência que tem, com certeza muitos jogadores estão passando por isso, só não têm coragem de falar.
Jogar até os 40
Thiago Ribeiro está com 37 anos e não pensa em parar agora. O objetivo é fazer uma boa passagem pelo Catanduva e atuar por mais três temporadas. Depois de pendurar as chuteiras, o objetivo é virar treinador.
O 'professor Ribeiro' se inspira em nomes que marcaram sua trajetória, como Paulo Autuori, Muricy, Oswaldo de Oliveira e Antônio Carlos Zago. "O lado bom de trabalhar com muitos treinadores é que você tira experiências", disse.
Eu coloquei um número na minha cabeça: 40 anos. Quero jogar até os 40. Acredito que fisicamente eu ainda consigo render, aí vamos ver chegar nos 40. Se estiver bem posso ficar mais um ano, mais dois, vamos deixar o meu corpo decidir. Depois que eu parar, pretendo trabalhar como treinador. Já estou até pensando em começar a fazer os cursos.
Campeão mundial com 19 anos e 'cigano da bola'
Thiago Ribeiro partiu do Rio Branco-SP para o Bordeaux (FRA) no início da carreira. De volta ao Brasil depois do clube francês não exercer a opção de compra dele, foi levado pelo empresário Juan Figger ao São Paulo, onde realizou sonho atuando entre 2005 e 2006. Pelo Tricolor, conquistou o Mundial de Clubes contra o Liverpool com apenas 19 anos.
"Quando saímos do aeroporto de Guarulhos tinha um mar de gente, eu nunca vi um aeroporto tão lotado de torcedores como naquele dia. Dali até o momento que voltamos foi especial. Nos minutos finais contra o Liverpool, naquela pressão, o Rogério (Ceni) pegando tudo, eles fizeram três gols impedidos, o bandeira acertou nos três, todos milimétricos... Isso fica muito na memória", revelou.
Em seguida partiu para o futebol do Qatar, saída que ele não esconde a motivação financeira. "Eu fui pelo lado financeiro, não pelo projeto esportivo", disse. "Três anos de contrato, ganho meu dinheiro, com 24 estou livre e posso voltar ao Brasil, jogar, me destacar e ir pra Europa ainda" completou.
Ainda que a experiência gere a reflexão de que de repente poderia ter sido melhor esperar, ele fez exatamente o que tinha em mente. Regressou ao país para ter sucesso no Cruzeiro, depois partiu para o Cagliari (ITA).
Depois Santos, Atlético-MG, Bahia, Londrina, Guarani, Bragantino, Grêmio Novorizontino, Chapecoense, Democrata de Sete Lagoas e por fim o Catanduva. Uma trajetória de 'cigano da bola'.
Isso atrapalha, sim. De todas as escolhas que fiz na minha carreira, eu acho que se fosse hoje eu não teria voltado para o Brasil na época, porque o presidente do Cagliari gostava muito de mim e não queria me emprestar, não queria me vender, ele só me vendeu para o Santos porque eu praticamente forcei ele a me vender. Mas hoje, parando para pensar, eu poderia ter ficado mais um, dois anos no Cagliari, por exemplo, e depois até quem sabe ir para um time de maior expressão dentro da própria Itália. Faltou um pouco de paciência para mim.
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