'Kombi do Fla': Pai de Filipe Luís fala como jogador se realizou no clube
Moisés Kasmirski era um torcedor saudosista do Santos, mas hoje dá graças a Deus por não ter conseguido influenciar o filho. Nascido em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, Filipe Luís se tornou Flamengo e realizou a inquietação pessoal ao ser buscado pela "kombi" rubro-negra em 2019. Entre as alegrias e sucessos, o agora ex-jogador gerou alívio ao pai, que dormiu tranquilo pela primeira vez em 20 anos.
O Flamengo foi buscar
Filipe usou aprendizado do pai para lhe contar que iria ao Flamengo em 2019. Quando era criança, ele faltou a um treino de futsal e justificou dizendo que era reserva e, por isso, não iria. O pai respondeu: "Se arruma direitinho, fica pronto que daqui a pouco a kombi do Flamengo vem te pegar. Eles estão precisando de um cara bom assim".
"Ele pegou a bicicleta e foi treinar. Nunca mais falamos disso, mas ele não esqueceu essa passagem. Anos depois, quando veio a proposta do Flamengo, ele me ligou e disse: "Pai, a kombi do Flamengo está aqui em Madri para me levar". Não esqueceu. Citei a kombi só como um objeto e ele se "vingou", lembrou Moisés.
A chegada ao Rio foi com previsão de títulos. Filipe foi apresentado em julho de 2019 ao lado dos familiares. Nas primeiras atividades com Jorge Jesus, já sabia o que viria a seguir.
Nos primeiros treinos ele me ligava e dizia: "pai, tu não tem ideia da qualidade que nós temos aqui. Cara, é muito diferente dos times que eu passei. Os caras eram bons para c******, mas não tinha tanta gente boa junto. Nós vamos ser campeões, nós vamos ganhar tudo aqui". O time ganhava e a gente sabia que ia ganhar.
Moisés Kasmirski
Inquietação
Vários motivos fizeram a família celebrar a volta ao Brasil. Primeiro pela possibilidade de ficarem mais próximos e também a chance de mostrar quem realmente era Filipe. "A imagem dele do Brasil não era aquela que ele tinha na Europa", lembra Moisés.
A principal, porém, era a chance de jogar no time do coração. "Já tinha dito várias vezes que se ele voltasse para o Brasil, seria para jogar no Flamengo. É aquela coisa de criança. Isso era algo que talvez inquietasse a família e muito a ele também. Seria uma coisa fantástica ser campeão no clube que você ama", contou o pai.
Na cidade natal de Filipe, Flamengo ou Vasco dominam a cena. Influenciado por um tio, ele se apaixonou pelo Rubro-Negro. "Eu era santista, na época do Pelé, saudosista. Talvez não tenha trabalhado ele o suficiente para ser santista e veio alguém com juízo e fez ele torcer para o Flamengo. A partir daí virou uma religião. Era um flamenguista nato", lembrou Moisés.
"O Filipe sempre corria atrás da bola desde menino e dizia: "Olha um dia eu vou jogar no Flamengo". As pessoas às vezes não levam a sério, mas meu sogro acreditava. Acabou não vendo, mas acreditava muito nisso. Nossa família é muito grande e no dia do jogo, quando subiu o mosaico com a imagem deles, o choro tomou conta. Vou trazer o mosaico aqui para Santa Catarina para colocar no CT do Filipe Luís. Foi uma homenagem fantástica que mexeu com nossos corações."
Reconhecimento e alívio
Moisés garante que realizou todos os sonhos que poderia como pai. Durão na infância, ele se emociona ao falar sobre o que Filipe construiu. No Maracanã, viu o filho, geralmente frio, se "derramar em lágrimas". "Isso mexe com qualquer pessoa", afirmou..
"Acho que a primeira semana que dormi tranquilo foi essa quando acabaram os jogos. Eu e o Filipe tivemos uma cumplicidade muito grande desde o dia que ele saiu de casa. Quando foi sair, ele deitou na cama entre eu e minha mulher, pegamos as mãos dele e choramos os três. Minha esposa perguntou para mim: "Você tem certeza que vai mandar ele para o futebol?". Eu disse: "Tenho certeza que vai dar certo". Queria muito isso."
O fim foi difícil para Filipe Luís. Jogando pouco pelo Flamengo e com problemas físicos, ele decidiu parar ainda no meio do ano. O agora ex-jogador não queria "ser carregado pelos outros". Só continuaria se pudesse brigar por vaga.
Confesso que eu ficava contando o número de partidas que faltavam para terminar. Ele gostava muito da concentração, do ambiente, de chegar cedo no clube, de sair tarde. Isso é a vida dele, né? Cheguei a sofrer vendo ele ser incapaz de realizar o que mais gosta, o que sabe fazer. Não foi legal. Torcemos muito para que pudesse se despedir com um ou dois títulos, que era o sonho dele.
Moisés
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