Zagallo superou 'sombra' para liderar maior seleção da história das Copas

Mário Jorge Lobo Zagallo liderou o time considerado maior da história da seleção brasileira no título da Copa do Mundo de 1970. Mas, antes dele, aquela equipe estrelada começou a ser montada por João Saldanha, demitido por João Havelange meses antes da competição.

O que aconteceu

Zagallo assumiu a seleção 77 dias antes da Copa. Saldanha idealizou o time que veio a ser campeão e batizou os titulares como "Feras" com a campanha perfeita nas Eliminatórias.

Naquele momento, Zagallo deixava o Botafogo e, aos 38 anos, já era campeão como treinador da Taça Brasil de 1968, o bicampeonato do Campeonato Carioca (1967 e 1968) e também da Taça Guanabara. Quando chegou na seleção, já promoveu algumas mudanças.

A seleção chegou a ser vaiada em jogos no Brasil, mas tudo mudou. Zagallo não escalava Tostão e Pelé juntos, algo que Saldanha tinha feito e isso gerava insatisfação. Contra a Áustria no Maracanã, no último compromisso em solo nacional antes do embarque para o México, a torcida reconheceu a atuação e aplaudiu.

Uma das alterações mais marcantes no trabalho foi a escolha dos cinco jogadores mais avançados. Com Gérson, Rivellino, Tostão, Pelé e Jairzinho, todos camisas 10 nos respectivos clubes, a seleção conquistou o tri.

A equipe de gênios e a habilidade do treinador foram decisivos. Um dos fatores apontados como fundamentais foi a preparação. A equipe ficou 21 dias treinando em Guanajuato, a mais de 2 mil metros de altitude, para melhorar a parte física.

Os jogadores me respeitavam como técnico, apesar de eu ser muito jovem. Eram atletas tarimbados, mas me ouviam, conversávamos muito

Zagallo

A sombra do antecessor

Tostão afirmou que Zagallo e Parreira nunca reconheceram a importância de Saldanha. "Zagallo, quando entrou na seleção, logo falou que se jogasse no esquema tático que o Saldanha jogava o Brasil não ganharia a Copa. Eles viam o Saldanha como um sujeito fora do futebol, um jornalista", disse ao UOL em 2020.

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Zagallo era aquele pensamento, "méritos meus somente". "Se eu não entrasse o time não ganhava". Ele falava isso, não houve nenhum gesto de gentileza, de reconhecimento, sempre quando perguntado não davam nenhuma importância ao Saldanha.

Tostão ao Blog Mauro Cezar Pereira, no UOL, em 2020

João Saldanha se dispôs a assumir o comando da seleção e garantir a classificação brasileira ao Mundial do México. Ele assumiu a vaga de Aymoré Moreira no início de 1969 e tinha a missão de superar a eliminação na primeira fase da Copa de 1966.

Entre 1969 e 1970, venceu 14 dos 17 jogos. Dois resultados ruins custaram o cargo, mas não só isso. Saldanha era filiado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) em meio à Ditadura Militar e ainda entrou em rota de colisão com o presidente da república, Emílio Garrastazu Médici, por causa da convocação de Dadá Maravilha defendida pelo político.

Cronista esportivo, Saldanha escreveu sobre a campanha do Brasil naquela Copa como convidado do jornal O Globo, além da BBC, de Londres. Naquele Mundial, foi vetado de fazer entrevistas com os jogadores da seleção na concentração e ficou chateado.

No período, fez diversas críticas, mas também elogios. Com o título, chamou a conquista de "vitória do futebol". Fez ainda um mea-culpa sobre pensamentos que teve e se mostraram errados durante a campanha. No fim, porém, relembrou os resultados das Eliminatórias.

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Ele se sentiu campeão de alguma forma, porque a Copa do Mundo começou nas Eliminatórias. Ele classificou o Brasil, o time não perdeu nenhum jogo. O Maracanã lotava, ele deu chance para o Tostão se recuperar, colocou Tostão e Pelé para jogar juntos

José Trajano em entrevista ao UOL em 2020

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