Neymar cedeu advogado e enviou R$ 800 mil para reduzir pena de Daniel Alves
Preso em Barcelona e sem acesso aos seus bens, Daniel Alves recorreu à ajuda financeira e jurídica de Neymar e família.
O UOL ouviu de três fontes próximas a Daniel que Neymar da Silva Santos, o pai de Neymar, transferiu dinheiro para auxiliar na defesa do lateral.
O valor foi utilizado para pagar uma multa de 150 mil euros (R$ 800 mil) à Justiça espanhola. Chamado de "atenuante de reparação de dano causado", o montante pode reduzir a pena de Daniel, em caso de condenação.
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Além disso, Daniel constituiu como procurador, em 28 de junho de 2023, Gustavo Xisto, um dos representantes jurídicos mais antigos das empresas de Neymar pai. No mesmo dia, o lateral destituiu da gestão de seu patrimônio Dinorah Santana, sua ex-mulher.
O ato foi chancelado pelo Ministério das Relações Exteriores do governo brasileiro.
O UOL entrou em contato com o estafe de Neymar, que afirmou não ter nada a declarar sobre o assunto.
Acusações e dívidas
Enquanto Daniel Alves aguarda julgamento preso na Espanha, acusado de agressão sexual a uma mulher de 23 anos, seu patrimônio no Brasil virou alvo de guerra.
Rompido com sua ex-mulher Dinorah Santana, ele teve suas contas bloqueadas e é alvo de uma ação por não pagamento de pensão alimentícia.
A reportagem teve acesso, em novembro de 2023, à prova da ajuda financeira da família de Neymar: o comprovante de transferência do valor para uma das advogadas de Alves no caso, Miraida Puente. O pagamento à Justiça espanhola aconteceu no dia 9 de agosto.
Procurada oito vezes pelo UOL, a advogada não respondeu a nenhuma pergunta sobre a transferência e disse não ter interesse em falar sobre o caso.
O advogado que atuava com Miraida na defesa do jogador na época do pagamento, Cristóbal Martell, disse não ter conhecimento da operação e, como não é mais advogado do caso, não irá falar a respeito. Daniel Alves começa a ser julgado na Espanha em 5 de fevereiro.
Irmão de Daniel ataca
Em outra frente, Miraida sofre ataques da família de Daniel Alves. Nesta segunda-feira (8), o irmão do jogador, Disney Alves, publicou uma série de stories no Instagram a acusando de golpe.
Nos prints das mensagens enviadas à advogada do irmão, Disney afirma que ela estaria trabalhando contra a liberdade de Daniel e junto da ex-mulher do jogador, Dinorah Santana.
Ainda nas mensagens, ele menciona que Miraida teria afastado pessoas que teriam interesse em ajudar Daniel Alves — entre elas, Neymar Jr.
Procurada pelo UOL, Dinorah Santana nega ter se associado a Miraida para tentar prejudicá-lo e diz que entrará com medidas judiciais contra quem difamá-la. Sobre a ação relacionada à pensão alimentícia, afirma que o processo corre em segredo de justiça.
Apesar de o casal ter se separado em 2012, Dinorah foi representante de Daniel nos últimos dez anos, tendo sociedade em empresas e acesso ao patrimônio do lateral.
Em 10 de agosto de 2023, contudo, Dinorah acionou a Justiça no Rio, cobrando de Daniel Alves R$ 13 milhões em pensão alimentícia devida desde 2022 aos dois filhos.
O processo bloqueou R$ 7 milhões em contas do jogador e 30% do que recebe pelo acordo com o São Paulo, para o pagamento de salários atrasados — hoje, única fonte de renda do jogador.
No Brasil, Xisto transferiu a procuração que recebeu de Daniel ao advogado Maurício Júnior da Hora, que o defende contra Dinorah e que tem movido ações para tentar preservar seu patrimônio.
Relação com ex-esposa foi chave
Daniel Alves e Dinorah Santana casaram em julho de 2003 e se divorciaram em novembro de 2012, na Espanha — o divórcio foi homologado no Brasil, em 2016, pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Mesmo separados, Dinorah era peça-chave na administração da carreira do jogador.
O UOL teve acesso a procurações nas quais Daniel dá plenos poderes de gestão a Dinorah, registradas em cartórios em São Paulo em fevereiro de 2021 e março de 2023, e em Salvador, em setembro de 2018.
Essa relação se manteve mesmo depois da prisão de Daniel, em janeiro de 2023. Dinorah viajou a Barcelona, deu entrevistas em defesa do lateral e ajudou a escolher os advogados que iriam defendê-lo.
Nos bastidores, entretanto, ela já havia começado um processo de ruptura.
Desde 2019, Daniel pagava a pensão alimentícia de forma irregular. O acordo previa 30% dos seus rendimentos líquidos e mais 10 mil euros mensais para cada um dos dois filhos.
Em junho de 2022, contudo, ele avisou que não honraria mais o acordo e pediu que fosse modificado. "Precisamos rever o contrato que temos e acordar algo diferente. Não estou podendo mais pagar tudo isso", diz na conversa de WhatsApp à qual a reportagem teve acesso.
Naquele mesmo mês, com Dinorah destituída de poderes, entrou em ação o apoio jurídico e financeiro de Neymar e família.
Antes mesmo do pagamento da multa à Justiça espanhola, Dinorah já havia contratado uma auditoria para mapear o patrimônio e vencimentos do ex-marido nos últimos anos.
O relatório, datado do dia 5 de agosto, foi base para a ação cobrando pensão alimentícia do jogador. No dia 22 de agosto, Daniel Alves teve suas contas e valores futuros a receber bloqueados pela Justiça.
R$ 77 mil nas contas
O bloqueio de valores na ação de pensão alimentícia não é o único problema judicial de Daniel Alves no Brasil. Ele também é alvo de uma cobrança de R$ 550 mil do Banco Safra, por um empréstimo feito a uma de suas empresas.
Nesse processo, também houve busca e bloqueio nas contas do jogador — foram encontrados R$ 77 mil.
Daniel alega à Justiça que R$ 3 milhões em bens que lhe pertencem e compõem seu patrimônio estariam em posse de um ex-sócio, e move uma ação pedindo a devolução. O valor original pedido pelo jogador era de R$ 139 milhões.
Na lista apresentada pelo ex-jogador estão móveis, tapetes e um carro, mas o principal item era a estátua de um cavalo que, segundo seus representantes, teria sido avaliada em R$ 137 milhões. Nesta semana, o próprio Daniel peticionou a Justiça e tirou a obra da relação.
O processo, por enquanto, não caminhou: Daniel alegou não ter condições de arcar com os custos processuais, mas o juiz responsável pelo caso considerou que não foram apresentadas evidências suficientes para eximi-lo do pagamento dos valores.