Filho revela problema de dirigente do Fla com Bebeto em venda frustrada

Mattheus Oliveira deixou o Brasil cedo. Um dos motivos era desvincular a imagem de "filho do Bebeto" que sempre precisou carregar. O outro foi o momento complicado que vivia no Flamengo, clube que o formou. O meia garante não ter mágoas e segue a carreira em Portugal há sete anos.

Flamengo

Mattheus não esconde que ficaria mais tempo no Flamengo, mas não tem arrependimentos sobre sair cedo do Brasil. Ele deixou o time carioca em 2015, quando foi para o Estoril. "Eu gostaria de ter conquistado títulos, ter jogado mais? A resposta vai ser sempre sim. Era um sonho meu", disse ao UOL.

Uma ida frustrada à Juventus começou a complicar essa história. O Flamengo chegou a acertar a venda do jovem em março de 2013, mas uma mudança de diretoria e problemas envolvendo Bebeto mudaram o rumo das coisas.

"O presidente da Juventus assinou e mandou a proposta, mas, quando chegou, o clube disse que não iria aceitar mais. A presidência trocou na época da Patrícia Amorim para o Bandeira de Mello e Wallim [Vasconcellos], que estava tocando a negociação. Faltando uma semana para a janela fechar, ele disse que não aceitaria. Por motivos até extracampo em relação ao meu pai, coisa que não tinha nada a ver com o assunto", contou.

Mattheus renovou com o Flamengo, mas foi afastado logo depois. Ele diz que com apenas uma semana da renovação ele sequer podia treinar com o profissional e desceu para a base. "Na época, ouvi muita coisa, chamando de mercenário. As pessoas não sabiam que joguei o ano inteiro no profissional ganhando mil reais. O treinador da época, acho que o Mano Menezes, nem veio falar comigo, foi o auxiliar", contou.

A Juventus seguiu querendo Mattheus após a renovação. Ele diz que chegou a abrir mão das luvas para o Flamengo, mas o clube não quis. "Não queria sair pela porta dos fundos jamais. Acho que isso atrapalhou um pouco na minha volta ao profissional, tirou a confiança. Mas não guardo mágoa de ninguém."

Eram outros tempos, e o Flamengo era um clube desorganizado financeiramente, de estrutura. Para o pessoal da base, era difícil. Hoje tem estrutura, lugar para ficar, alimentação, briga por títulos. Flamengo é sempre pressão, mas imagina entrar em um jogo que está 2 a 0 a favor, o Maracanã lotado te apoiando. É diferente de uma partida tomando de 3 a 0 em casa e 'vai lá, tenta resolver'. Não digo que hoje seja muito mais fácil, mas é mais propício para o atleta que sobe. Hoje, o Flamengo é nível Real Madrid em termos de estrutura de centro de treinamento Mattheus

Mattheus acabou ficando marcado pela derrota na Copa do Brasil para o Atlético-MG em 2014. Ele entrou aos 22 minutos do segundo tempo quando o Fla já perdia por 2 a 1 e teve atuação tímida, mas foi colocado como vilão.

"Depois daquele jogo, pegaram muito no meu pé. Estava três, quatro meses sem jogar, entrei um pouco antes contra a Chapecoense faltando 10 minutos para acabar. E depois entro na semifinal. O Atlético tinha feito mais um gol e estava vindo para cima. Eu nem toquei na bola. Os torcedores falaram muitas coisas. Aquilo acabou minando um pouco a minha saída, mas foi na hora certa."

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Bebeto

Mattheus foi o único filho que Bebeto não esteve no nascimento. A icônica comemoração na Copa de 1994 foi justamente uma forma de homenageá-lo. "Foi uma coisa muito espontânea, meu pai sempre fala que não tinha em mente", explicou Mattheus.

Ele cresceu envolvido pelo futebol. Gostava de chutar a bola, quebrava as coisas em casa e ia aos treinos do pai. Quando quis levar a sério, foi atrás de um tio conselheiro do Flamengo para fazer um teste no clube.

"Ele conseguiu o teste para mim no futsal e meu pai não foi. Nos três ou quatro primeiros meses, ele nunca apareceu lá. As pessoas não sabiam que eu era filho dele. Quando viram ele pela primeira vez, perguntaram o que estava fazendo lá. Ele não queria falar muito, sempre viu o jogo escondido. Ele sempre falou que queria que o filho caminhasse com as próprias pernas para evitar essa coisa de achar que está ali porque é filho do Bebeto."

Mattheus admite que ser filho de Bebeto pesou para ele. "Eu sempre tentei separar ao máximo. Tenho muito orgulho de ser filho de quem eu sou, mas queria caminhar com as minhas próprias pernas na carreira."

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Imagina uma criança de 10 anos ouvindo que só está lá porque é filho do Bebeto, só está jogando no Flamengo por isso. Não temos uma cabeça formada, eu sempre digo que tive que amadurecer muito antes do normal. Meu pai dizia, em uma pressão boa, digamos, que eu teria de me provar duas vezes mais para os outros. É uma pressão muito grande ser filho de quem eu sou. Falo com orgulho, mas procuro separar. Na minha carreira, eu sou o Mattheus Oliveira Mattheus

Treinadores portugueses

Um dos motivos de deixar o Brasil foi desvincular a imagem de Bebeto. E Portugal foi o destino. Há sete anos no país, ele conhece alguns personagens marcantes para o futebol brasileiro atualmente. "Os treinadores portugueses realmente são muito bons taticamente. Trabalhei com Jorge Jesus e Luis Castro. De jogar contra foram Abel e António Oliveira. Boa parte trabalha muito a parte tática. Acho que isso faltava no Brasil uns anos atrás, estava ficando para trás. Muitos deles deram certo no Brasil porque implementaram um pouco mais isso. Hoje tem brasileiros que também são fantásticos nisso."

A torcida do Flamengo lembra com carinho de Jorge Jesus, assim como Mattheus. Apesar de não ter jogado muito com o treinador no Sporting, o meio-campista exaltou o estilo. "Taticamente é um treinador fantástico, é muito perfeccionista, tinha vezes que a gente trabalhava a parte defensiva com ele duas horas. Enquanto não ficasse do jeito que ele queria, a gente não saía."

Os trabalhos são muito intensos, ele exige o máximo. Pessoal até diz que isso é um pouco desgastante, é um cara que cobra muito, pega muito no pé mesmo, mas eu acho que é bom. Tem dias que estamos mais cansados, pensamos que não vamos treinar, mas com o Jesus não tem isso. Tinha que estar todo dia ali ligado 100%, 120%. É um dos melhores treinadores que eu trabalhei. Quando você chega no jogo, já sai no automático se já tem tudo preparado na mente. Por isso, ele deu certo no Flamengo. O clube abraçou a ideia, os jogadores também Mattheus

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Abel Ferreira também foi exaltado. "O Abel é um treinador jovem ainda, se for parar para ver, ele não tinha tanta notoriedade no mundo porque ainda não tinha os títulos. Mas joguei contra ele no Braga algumas vezes e era um time muito bom. Difícil de jogar contra porque defensivamente era muito bom, ofensivamente também. Um time muito organizado. O que faltava mesmo para ele eram os títulos."

Mattheus tem contrato até o final da temporada no Farense. No momento, ele não descarta a volta ao Brasil, mas quer manter o foco na equipe portuguesa.

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O que aconteceu com seu pai em relação ao Wallim?

Esse problema com o Wallim foi algo relacionado à saída do meu pai do Flamengo para o Vasco, não lembro exatamente a história. Mas as pessoas também não sabem o que aconteceu na época da saída. Não sabem o motivo de ter saído do Flamengo, os detalhes da negociação. Antigamente era completamente diferente. Foi um período difícil para mim. Mas de verdade não guardo mágoa de ninguém, não estou criticando a instituição Flamengo. Jamais eu farei isso na minha vida. Digo especificamente das pessoas que trabalhavam lá na época. Passei mais tempo no clube do que em casa, então jamais falaria mal.

Como foi a briga entre Bebeto e Romário?

Essa discussão foi mais uma questão política, nem isso de ganhar a Copa sozinho. Até porque o Romário sempre foi um cara irreverente nas falas, um pouco mais marrento. Meu pai sempre foi tranquilo, humilde, um cara sem muitos holofotes. Sempre digo que meu pai é subestimado. Não acho que tem o reconhecimento que merecia. Mas na briga eu falei: "vocês são dois caras velhos, vai ficar brigando depois de velho, não precisa disso". Eu acho que o Romário foi um pouco infeliz. Um pouco não, ele foi bastante infeliz na fala dele. Pegou pesado. Se ele tivesse algum problema, chegasse no meu pai, ligava para ele e falava. Mais cedo ou mais tarde ele vai acabar reparando que não tinha necessidade de falar daquele jeito. São parceiros há tantos anos, têm uma história tão linda no futebol. Brigar por coisa tão boba, política. Hoje as pessoas se matam por causa de política, perdeu um pouco a noção. Não tem necessidade. Meu pai é um cara muito tranquilo, da paz, também não gosta disso. Sempre vai falar bem porque é um cara que tem história com ele. O Romário pegou um pouco pesado na fala. Os amigos se ligam, se comunicam, se resolvem. Mais cedo ou mais tarde os dois vão acabar resolvendo. Eu acho que ele ficou um pouco triste mesmo.

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Você acha que o Bebeto devia ser mais reconhecido?

Eu digo que sim porque acho que meu pai nunca foi um cara de holofote, de mídia. Sempre foi mais caseiro, na dele, aquele baianinho mais quietinho. O povo brasileiro idolatra meu pai de uma forma impressionante, mas acho que a imprensa poderia valorizar um pouco mais. Não digo só pela Copa do Mundo, mas me diz um atleta que vai para um clube na Europa que é um recém-rebaixado e torna um clube grande. O que ele fez no La Coruña é impressionante. Era o melhor jogador da América e no ano que chega o clube fica em segundo, perde por saldo de gols e ele é o artilheiro. As pessoas talvez não têm noção das coisas que ele fez para o futebol. Brasileiro às vezes tem memória curta. Fui com ele na Espanha uns anos atrás e ele não conseguia andar na rua. Não digo isso por ser filho dele. O que eles fizeram na Copa foi uma coisa extraordinária. Eu entendo as pessoas falarem do Romário porque foi o artilheiro, mas pega 90, 80% dos gols dele e quem que deu o passe. Ele não vai nem gostar de me ver falando isso. Mas digo pela imprensa, não pelo povo brasileiro. Até hoje vai na rua e param ele. É difícil um cara que jogou no Flamengo e no Vasco ser querido pelas duas torcidas e por outras também.

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