Márcio Araújo lembra vaia da torcida e surgimento de Diniz: 'Nível europeu'
Vanderlei Lima, Flavio Latif e Marinho Saldanha
Do UOL, em São Paulo e Porto Alegre
13/01/2024 04h00
Márcio Araújo viveu realidades diferentes em Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG. O antigo volante esteve nos três clubes protagonistas recentes do futebol brasileiro, com títulos relevantes, quando a situação não era exatamente assim. Ao revisitar a carreira, hoje aos 39 anos, ele lembra das vaias da torcida e do início de Fernando Diniz.
Carreira de provações
Márcio Araújo faz questão de dizer que nunca gostou muito dos holofotes. Era o tipo de jogador que se dava por satisfeito ao ajudar, não precisava ganhar as manchetes por isso.
"Eu não sinto falta de nada disso. Talvez o que faria mais na carreira seria meu trabalho. Essa parte externa nunca foi algo que chamou minha atenção, não mudaria nada em relação a isso. Passar essa imagem ou aquela, não mudaria nada para mim", afirmou ao UOL.
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Muitas vezes, em momentos complicados pelos times que passou, sofreu com cobranças da torcida.
"Toda minha carreira foi um momento de provação. Mas vocês nunca me viram reclamando, brigando com ninguém, são situações que eu vivi. Eu me converti muito cedo, aceitei Jesus e minha vida ficou transformada. Então, ter uma carreira que eu tinha, eu creio que as bênçãos de Deus foram muito maiores do que as provações que eu enfrentei. Isso é pequeno, a gente fala de provação hoje, de luta no meio do futebol, mas a gente sabe que tudo isso é passageiro, existem pessoas que passam por lutas muito maiores que as nossas, eu nem considero a minha como uma luta, eu considero como um privilégio que eu tive na minha vida, de poder vestir grandes camisas, jogar grandes clássicos, participar de vários grupos extraordinários", contou.
Mas ainda que entenda ser um privilegiado por tudo que o futebol lhe deu, Araújo se recorda das marcas que as vaias deixaram em momentos específicos da carreira.
É difícil a gente falar de tristeza, é claro que a gente fica chateado com algumas coisas que acontecem no meio do futebol. Mas isso é normal também, a gente passa a entender que faz parte da nossa profissão. Eu passei em todos os clubes que passei e consegui jogar por muito tempo. A gente analisando o que é o futebol, o que são as pessoas, o torcedor, a paixão, a gente sabe que passa por várias coisas que a gente não gostaria de passar, com certeza, até porque a gente não vive nesse mundo sozinho, a gente tem família, tem esposa, tem filhos, são situações que a gente passa e a gente fica chateado de ser vaiado no jogo, de ser cobrado, além do que é o normal.
Viu "nascimento" de Diniz
Técnico do Fluminense, Fernando Diniz iniciava sua carreira quando esteve frente a frente com Márcio Araújo. Foi em um jogo-treino entre Audax, de Diniz, e Palmeiras.
"Eu lembro que ninguém conhecia ele, não se tinha contato com o estilo dele. No intervalo do jogo, ele reuniu todo mundo (jogadores do Audax) do outro lado e passamos para tomar água. Era uma gritaria, xingando todo mundo", recordou Araújo.
Segundo ele, o treinador tem nível europeu e mostra qualidades que precisam ser valorizadas no futebol brasileiro.
Naquela época, o estilo dele era novo, mas já chamava atenção. A gente valoriza muito o que é de fora. Já vieram muitos treinadores aqui, temos importado muitos treinadores, e o que chama atenção é como o treinador tem os jogadores na mão, a forma de jogar. O Diniz é esse cara. A formação que ele faz é algo assim fora do normal. Nível europeu.
Carreira consolidada
De todos os clubes que Márcio defendeu, três chamam atenção pelo número de jogos e pelo que se tornaram no futuro. Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG o tiveram em campo por mais de 200 partidas em cada um deles.
No Palmeiras, ele viveu a experiência de ser campeão da Copa do Brasil e depois rebaixado para Série B. No Fla, vestiu a camisa do time que torcia na infância e conquistou o Estadual duas vezes. E no Galo também ergueu a taça do Estadual.
Acho que os três são especiais, foram períodos da minha carreira que foram muito importantes, o Atlético foi o início de tudo no futebol, não que eu iniciei profissionalmente lá, mas foi o clube de maior expressão no início de carreira. O Palmeiras também não se compara. Foram processos de transição na minha carreira. Cada clube que eu fui foi muito especial. Quando eu fui no Palmeiras também, de como eu recebi mensagem, de como tinha amigos que torceram para o Palmeiras. Então, o acolhimento também foi muito bom. No Flamengo, talvez tenha uma pitada especial em relação aos outros, todos os outros são muito especiais, mas o Flamengo um pouco mais, porque era o meu clube de infância.
Futuro após aposentadoria
"Faz dois anos que estou parado. Acabei passando por uma cirurgia nos dois calcanhares, que acelerou a minha aposentadoria. Meu cunhado, eu lembro que quando eu joguei no Palmeiras, ele foi pra São Paulo, estava parando de jogar também, conheceu uma empresária, acabou trabalhando com uma empresária nesses últimos anos. E quando eu parei, ele me chamou pra trabalhar junto, a gente abriu um escritório aqui em São Luís, a gente tá nessa correria aí há praticamente uns oito meses, pegando alguns guris aqui que a gente tem em São Luís, levando pros clubes, fazer teste, estamos aí na caminhada, Acho que eu vou ficar nessa área."