Chuteira preta virou símbolo na luta de Marta pela igualdade no futebol

Quando Marta está em campo, os holofotes são todos dela. Por isso, quando ela entrou em campo na Copa do Mundo feminina de 2019 com uma chuteira toda preta, sem marca esportiva, o mundo parou para ouvir. A jogadora tinha coberto o símbolo da marca de material esportivo com uma bandeira que protestava contra a desigualdade de salários entre homens e mulheres no esporte.

Naquele ano, Marta tinha recusado uma série de ofertas de patrocínios por um só motivo: o contrato oferecido para a jogadora seis vezes eleita melhor do mundo era menor do que aqueles oferecidos a jogadores homens sem as mesmas qualificações —lembrando que Lionel Messi tinha apenas cinco títulos de melhor do mundo no meio de 2019, quando a Copa foi disputada. Quando marcou segundo gol naquele Mundial, de pênalti contra a Itália, Marta apontou para a bandeira da igualdade em seu pé.

Aquele gol a transformou na maior artilheira da história de Copas do Mundo da Fifa. Entre homens e mulheres, só ela soma 17 gols nos torneios. Mesmo assim, sua chuteira não tinha patrocínio. O panorama não mudou e, no Mundial de 2023, a atleta voltou a protestar com chuteiras sem marcas.

Há anos Marta luta pela equidade de gênero, valorização do futebol feminino e pelo movimento hGBTQIAP+. Por isso foi escolhida para ser embaixadora da ONU Mulheres em 2018 e virou símbolo mundial de campanhas contra o sexismo e discriminação de gênero. A meta da entidade é alcançar a igualdade em escala global até 2030 e, para isso, conta muito com a influência da estrela brasileira.

"A palavra que define todos esses movimentos, todas essas manifestações e todas essas conquistas é somente orgulho. Só quem conheceu a Marta Vieira da Silva no início, quando ela chega da pequena cidade de Dois Riachos, em Alagoas, sabe o tamanho dela e de todas as conquistas que ela proporcionou para todo o futebol feminino brasileiro", destacou Daniela Alves, ex-jogadora da seleção brasileira, medalhista olímpica e atualmente treinadora licenciada pela CBF, ao UOL.

"Creio que essas ideias vêm desde cedo na cabeça dela através da vontade de vencer na vida, e por ela ter passado por muitas dificuldades para conquistar um espaço num esporte que, no nosso país, é muito dominado pelos homens", disse Formiga, que sente falta de outras atletas participando no movimento. "Ele sempre tentou mudar e ter a valorização não só diretamente para ela, mas para todas as mulheres. Quando ela entra nessas brigas, ela não vê só o futebol, ela vê a mulher em geral. Mas uma andorinha só não faz verão, certo? Eu fico muito feliz por termos essa força para realmente buscar esse espaço, mas, por outro lado, fico triste porque, em certos momentos, nem todas se abraçam", completou a volante ao UOL.

Nas duas últimas Copas, Marta fez desabafos sobre a valorização do futebol feminino.

  • "Não vai ter uma Marta para sempre, uma Cristiane, uma Formiga. E o futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Chore no começo para sorrir no fim", Marta, após a eliminação do Brasil diante da anfitriã França em 2019.
  • "Quero que o Brasil siga com o mesmo entusiasmo, apoiando. Resultado não acontece de um dia para o outro. A Marta acaba por aqui, estou muito grata pela oportunidade que tive e estou muito contente com o que está acontecendo. Para elas é só o começo, para mim é o fim da linha", disse, após a eliminação na primeira fase em 2023.

Marta também não se calou em 2021, quando as atletas da seleção brasileira protestaram contra o presidente da CBF, Rogério Caboclo, foi afastado por denúncias de assédio moral e sexual. A Rainha e o restante do elenco entraram em campo como uma faixa escrita "assédio não" e publicaram, em conjunto, um manifesto. "Somos obviamente contra qualquer tipo de assédio. Sem fazer pré-julgamentos, os fatos estão aí para serem apurados, mas a gente necessitava mostrar nosso posicionamento. E a gente fez em conjunto, como sempre fazemos em todas outras situações", disse a atacante na época.

Continua após a publicidade

Dentro ou fora das quatro linhas, Marta já expôs que deseja seguir na luta pelo espaço das mulheres. Em seus atos, a Rainha do futebol já mostrou que mulher pode jogar bola, pode entrar em campo com batom, pode ser valorizada tanto quanto um homem que faz a mesma função e, principalmente, nunca deve se calar.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.