Trocas de mensagens entre a jovem Livia e o jogador Dimas, do sub-20 do Corinthians, mostram os bastidores do encontro que virou tragédia. O Domingo Espetacular, da Record, e o Fantástico, da Globo, tiveram acesso a conteúdos das conversas entre eles por celular.
Conversas por celular
A estudante de enfermagem de 19 anos e o atleta, de 18, marcaram de se encontrar na última terça (30). Eles se envolveram sexualmente na casa do jogador, e Lívia morreu após o ato. O atestado de óbito aponta uma ruptura na escavação retouterina (região genital localizada entre o útero e o reto).
Eles se conheciam, pelo menos, desde o ano passado, como consta em mensagens trocadas entre eles em abril de 2023. Segundo a mãe, Lidia, a jovem não falava de Dimas como namorado, e sim como amigo. Desde janeiro deste ano, conversavam com frequência.
No ano passado eles tinham um grupo de amigos que era do Corinthians. Ela falava dessa pessoa como um amigo, não como namorado. Lidia Matos, mãe de Livia
As circunstâncias do encontro entre eles causam divergência. Dimas teria convidado a jovem para ir ao apartamento dele, mas, para a família, eles iriam sair. Além disso, as partes discordam sobre ser ou não a primeira vez que os dois se viam presencialmente.
Tiago Lenois, advogado de Dimas, disse que eles nunca haviam se encontrado. "Vinham mantendo conversas havia muito tempo, mas não se encontraram pessoalmente", afirmou.
O pai da jovem, Rubens Matos, rebateu. "Ele disse para mim que já tinha se encontrado com minha filha antes", relatou. Advogado da família, Alfredo Porcer acrescenta que o combinado era que os dois saíssem para jantar: "Não era para ela ter subido no apartamento dele".
Em um áudio enviado para uma amiga, Livia disse que eles quase namoraram. "A gente estava quase namorando, a gente se encontra, a gente sai, ele é muito legal", disse, em mensagem de voz. Em trocas de mensagens, eles se referiam de maneira carinhosa um ao outro.
Na troca de mensagens entre eles, Dimas perguntou se ela havia contado para a mãe aonde ia, e Livia assentiu. "Sim, ela nem liga", escreveu a estudante. Na versão da mãe, a filha disse que ia para um bar com amigos para assistir ao jogo — naquele dia, o Corinthians enfrentou o São Paulo.
O dia do encontro
Livia avisou Dimas que estava perto da casa dele por volta das 18h. "Estou chegando", digitou.
Uma hora depois, o Samu foi acionado. O jogador que fez a ligação, que durou mais de 20 minutos, segundo o advogado do atleta. O jogador teria tentado ressuscitar a jovem antes de o socorro chegar.
Segundo relato de Dimas, os dois estavam sozinhos, fizeram uso de cigarro eletrônico e se relacionaram sexualmente. O ato, de acordo com seu advogado, foi "consensual e com uso de preservativo". O atleta teria percebido um sangramento na parte íntima da jovem após uma segunda relação sexual.
O jogador relatou que ela teve um mal súbito e desmaiou. Livia foi levada ao hospital municipal do Tatuapé, e ele ajudou a equipe médica a contatar a família da estudante.
A jovem sofreu duas paradas cardíacas durante o socorro, e mais duas no hospital. Na quarta vez, ela não resistiu.
Circunstâncias do ato
O pai de Livia disse que estranhou comportamento de Dimas. Segundo ele, o jogador estava querendo "se livrar de alguma coisa" e não demonstrava preocupação com a jovem.
Ele disse: 'Estou com meu pai aqui, ele comprou uma passagem para mim e tenho que ir embora'. Parece que queria se livrar de alguma coisa que ia complicar ele, tive impressão. Senti nele muita apatia, sem compaixão nenhuma. Não estava preocupado com a minha filha. Rubens Matos, pai de Lívia
O Fantástico informou que o jogador tinha uma passagem comprada para João Pessoa-PB, onde nasceu. Ele embarcaria às 23h15 daquele 30 de janeiro, após o encontro com Lívia.
Rubens teria perguntado se o atleta abusou de sua filha, o que foi negado por Dimas. "Tive a noção de que havia abusado sexualmente dela pelo sangramento na vagina", explicou.
O advogado do atleta afirmou que não houve crime: "Ele não cometeu crime nenhum, não matou essa garota. Nunca se envolveu em nenhuma ocorrência policial, nenhum problema fora do futebol. Filho exemplar, amigos de todos. Ele está sendo tratado como testemunha de uma morte desconhecida, não praticou nenhum crime", ressaltou.
Parentes de Lívia desconfiam das circunstâncias e da participação de mais pessoas no ato. "Quando cheguei no hospital, estava ele e mais dois amigos. Um deles, que não foi ouvido, estava com um dos pés sujo de sangue. Onde sujou?", questionou o pai. A tia, Nádia, disse que "era visível que a jovem tinha levado umas pancadas", apresentando marcas no pescoço e unhas quebradas. "No IML não iam fazer isso, foi como se tivesse quebrado forçado", disparou.
O advogado da família de Lívia cobrou explicações. "Tem que ser apurado como foi essa relação sexual, se tinha mais alguém presente, e se algum objeto causou esse sangramento", disse, à Record. Ao Fantástico, Porcer completou: "O que ele narrou não é verossímil. Tem sangramento pra caramba".
Já advogado do jogador declarou ao Fantástico que não teve utilização de objeto, e o quarto do jogador foi periciado. Ao Domingo Espetacular, citou que o jogador estava acompanhado no hospital do empresário e de um amigo menor de idade, também atleta do Corinthians, que teria levado um carregador de celular para ele.
Como é que eu ia estuprar uma mulher? Pensei em me matar, você é louco. Dimas, em áudio enviado a amigo
Dimas já foi ouvido pela polícia, e um novo depoimento é esperado para essa semana. Ele não quis gravar entrevista para as emissoras. Para ambas, o advogado afirmou que o jogador "está muito abalado com a situação" e respeita o momento da família de Lívia.
95 comentários
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Júlio Pereira
Alguma filha sai dizendo para o pais que vai até o apartamento de um rapaz para se divertir num sexo casual? È claro que não. A moça era adulta e como todos nós adultos tempos segredos. Como disse Nelson Rodrigues; " se todo mundo soubesse da vida sexual de todo mundo ninguém nem se cumprimentaria." O rapaz não tentou ocultar nada; desesperado fez aquilo que qualquer um faria; ligou para o SAMU. A reação da família da mulher é natural, afinal ninguém está preparado para perder uma filha assim, mas pintar a mulher como uma inocente que foi violentada e morta é uma coisa criminosa. Há necessidade da Polícia investigar, sim, até para que não restem dúvida. Sabemos que existe muita violência, mas sabemos tb que a nossa sociedade doente se alimenta dessas tragédias ( reais ou imaginárias), mas precisamos parar com essa coisa de transformar tudo em um enredo de mocinho e bandido. O que temos aqui é uma tragédia ( não crime), e duas vitimas.
Helimar Souza Cabral
Uma jovem morta, aparentemente uma fatalidade, a imprensa não pensa na dor da família, no direito da privacidade das vitimas.....até quando a ética será seletiva dessa forma? A imprensa precisa urgentemente de um freio de arrumação. Isso não é de interesse publico, isso é escarnio.
Laila Andrade Sampaio
Eu acredito no rapaz. Afinal, ele chamou a ambulância enquanto ela ainda estava viva e, portanto, se estivesse sido agredida poderia ter contado durante o atendimento ou numa possível recuperação. Um agressor teria esperado a vítima falecer ou teria ele mesmo a sufocado. Acredito que foi uma tragédia, é raro, mas não é impossível. Penso que, como muitas garotas de 19 anos, ela poderia ter omitido aos pais que iria para o apartamento dele, nada demais. A ambulância deu instruções de primeiros socorros ao jogador? talvez isso a teria salvo. A imprensa não divulga quanto tempo levou para a ambulância chegar. Se ele for inocente, e é até que seja provado o contrário, está sofrendo um precipitado linchamento virtual promovido pela imprensa, que finge ser parcial mas claramente evidencia o lado dos acusadores e não evidencia fatos que favorecem o jogador.