Abílio Diniz presidente da CBF? Em coluna no UOL, ele falou sobre o plano
Do UOL, em São Paulo
19/02/2024 14h24
Em 2015, o futebol mundial enfrentava sua maior crise: com investigações do FBI sobre corrupção na Fifa, uma série de dirigentes foi preso, Joseph Blatter seria banido do esporte e a CBF mergulhava em uma crise. Foi neste momento que Abílio Diniz quase tomou o caminho que o tornaria o homem mais importante do futebol brasileiro.
Ele conta assim na coluna no UOL, que manteve entre 2014 e 2017:
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"A ação fulminante da polícia americana contra a corrupção no futebol mundial criou uma oportunidade única de mudar o futebol brasileiro. Precisamos aproveitar essa chance, por mais difícil que seja a batalha.
Foi com esse senso de oportunidade que muitos amigos me procuraram para encabeçar uma chapa para concorrer à vaga aberta de vice-presidente da CBF e, a partir daí, chegar à presidência e promover, rapidamente, as mudanças nos estatutos e na governança que tornariam as reformas possíveis.
Fiquei honrado pelo apoio de pessoas e entidades tão relevantes, mas, além dos meus compromissos com as empresas onde atuo, não houve tempo hábil para seguir.
Continuo disposto a ajudar o nosso futebol a se livrar dessa prisão e torná-lo novamente uma fonte de alegria ao povo brasileiro. Só vamos conseguir isso com mudanças profundas na CBF e também na mentalidade dos dirigentes das federações e dos clubes.
Nossa luta continua."
Nessa época, o presidente da CBF era Marco Polo del Nero. Eleito em 2014, tomou posse em 2015 e se afastou diante das denúncias de corrupção trazidas pelo FifaGate, investigação que apontou recebimento de suborno em contratos de direitos de transmissão. Del Nero posteriormente foi banido pela Fifa de todas as atividades relacionadas ao futebol por 20 anos. Ele até hoje nega envolvimento.
O texto de Abílio faz parte de quase quatro anos de relatos que o empresário fez em sua coluna no UOL 2014 e 2017. Os textos mostram a luta e a decepção vividas para melhorar o futebol brasileiro. Em seu primeiro texto, ele escreve assim:
"Nem os 7 a 1 contra a Alemanha criaram um senso de urgência geral de que precisamos mudar o futebol brasileiro. (...) Minha proposta aqui neste blog será discutir com vocês o que pode ser feito para colocarmos novamente nosso futebol entre os melhores do mundo. E também comentar os jogos do meu São Paulo e de outros times."
Ao longo do período, ele dá exemplos do que acha que deve ser feito. E mostra que ele mesmo fez muita coisa. Você sabia que ele criou um time de futebol? Aconteceu no início dos anos 2000, com o Audax (que nasceu como Pão de Açúcar Esporte Clube):
"Revelamos grandes craques. Entre eles, Paulinho (ex-Corinthians e Seleção Brasileira). De um projeto social, passamos para um modelo de clube de futebol profissional gerenciado por uma empresa. Conseguimos fazer muito com pouco dinheiro - a verba era definida anualmente pelo conselho de administração. Sinceramente, acho que implantamos um belo modelo de gestão. Hoje, o clube atua na série A1 do Campeonato Paulista."
Abílio também é um dos fundadores do NAR, o Núcleo de Alta Performance, um dos centros de treinamentos mais modernos do Brasil e por onde passam boa parte dos atletas olímpicos brasileiros:
"Rapidamente e com muito trabalho, o NAR se tornou referência na pesquisa, avaliação e prescrição de treinamento esportivo no Brasil. Por lá já passaram mais de 1.500 atletas de mais de 70 modalidades esportivas - incluindo seleções nacionais de atletismo olímpico e paralímpico, basquete e judô, e atletas como Fabiana Murer, Fernando Fernandes, Ana Claudia Lemos, Keila Costa, entre muitos outros."
As colunas também mostram um envolvimento cada vez maior com a política do São Paulo Futebol Clube, sua paixão. Primeiro, como membro do Conselho Consultivo: "Não participo diretamente da gestão do São Paulo, mas, como membro do Conselho Consultivo, tenho tentado ajudar o clube a encontrar caminhos para sair de uma de nossas piores crises. Nesta semana, a convite do presidente Carlos Miguel Aidar e do presidente do Conselho Deliberativo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, expus aos conselheiros minha visão sobre gestão em momentos como esse", escreveu em 31 de julho de 2015.
Um mês depois, porém, ele percebe que trabalhar no clube não seria tão fácil: "Quem acompanha este blog sabe como venho tentando ajudar o São Paulo a encontrar saídas para a sua grave crise financeira. E a única saída possível é também uma grande oportunidade: profissionalizar a gestão. Não temos mais tempo a perder. Apresentei uma proposta nesse sentido em reunião do Conselho Deliberativo e pude ver o enorme apoio de vocês. Desde então, porém, nada de concreto aconteceu", escreveu em 28 de agosto -nesse momento, ele já tinha sido "excluído" do conselho.
Mesmo assim, ele seguia influente na política do clube:
"Fiquei feliz ao ver o presidente Carlos Miguel Aidar anunciar na sexta-feira um plano para promover a profissionalização e a transparência na gestão do São Paulo. Todo o trabalho feito por mim e muitos outros no Conselho Consultivo e no Conselho Deliberativo teve efeito", publicou no dia 8 de setembro de 2015.
Uma semana depois, ele faz uma crítica forte a Aidar: "Agradeço a mensagem que você me enviou tentando explicar os motivos para demitir o CEO do São Paulo. Infelizmente, não acredito no que foi alegado. Como você já anunciou um novo CEO, eu e todos os são-paulinos esperamos que ele tenha a correção, o profissionalismo e a capacidade indispensáveis para mudar a gestão e evitar o colapso financeiro do clube. Todos nós que amamos o São Paulo vamos acompanhar com lupa o seu trabalho."
Um mês depois, com Aidar já fora da política do clube por escândalos de corrupção, Abílio analisa a situação: "Quem acompanha este blog sabe como ataquei o que tinha de atacar e apoiei o que achei merecedor do meu apoio, inclusive a renúncia. Ela foi o caminho mais rápido para o clube começar a resolver os seus graves problemas. Não tenho atuação nem ambição política no SPFC. Meu envolvimento é movido pela paixão."
O ano de 2016 foi dedicado à política do São Paulo para aprovação de um novo estatuto. "Já é de conhecimento público que o São Paulo está trabalhando na confecção de seu novo estatuto. Venho dizendo há muito tempo que este pode ser o maior reforço do clube para os próximos anos e por isso tenho me empenhado muito para ajudar na sua elaboração. Enviei muitas sugestões de emendas, e o texto contempla um ponto que considero fundamental: a descentralização do poder."
Quando a peça foi aprovada, ele comemorou: "O primeiro passo foi dado. Conseguimos elaborar e aprovar um novo estatuto com o qual o São Paulo pode retomar o caminho do sucesso. (...) Os sócios, verdadeiros donos do clube, votaram sim por mudanças e avanços. Agora é preciso dar mais um passo fundamental: fazer com que o novo estatuto seja cumprido."
No período, a influência de Abílio na política são-paulina cresceu, assim como se elevou o tom das críticas. Agora, à gestão de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco. "A gestão atual do São Paulo subaproveita o potencial do clube. Recentemente, por minha conta, encomendei dois estudos sobre o SPFC com duas das maiores consultorias mundiais: da McKinsey, para o Departamento de Futebol, e da Price (PwC), para as contas internas do clube. Os relatórios foram elaborados e apresentados para que houvesse gestão mais eficiente, que permitisse renegociação correta da enorme dívida do clube e estruturação das finanças. Um dos estudos apontou que, se o Centro de Formação de Atletas de Cotia tivesse uma gestão profissional, poderia gerar entre 30 e 50 milhões de euros por ano, além de fortalecer tecnicamente o time profissional de futebol. Isso significaria dar autonomia e independência financeira ao SPFC", escreveu em 9 de fevereiro de 2017.
Neste momento, ele já estava rompido com o dirigente: "Muita gente diz que o Leco é meu desafeto. Grande engano. Escolho meus desafetos, e entre eles não estão campeões apenas da soberba", tinha escrito em 16 de outubro do ano anterior.
Leco foi reeleito presidente em abril de 2017, já próximo do fim da vida da coluna de Abílio no UOL. Em sua última coluna, ele escreveu isso: "Várias pessoas me perguntam se seria possível esquecer o passado e, com meus conhecimentos de gestão, colaborar com os dirigentes do clube em prol de um SPFC mais forte e glorioso. Na minha vida já fiz isso várias vezes: não lamentar o passado e acreditar no futuro. Sempre achei que os grandes homens são reconhecidos mais por suas reconciliações do que por suas lutas. É claro que, para o bem do SPFC, poderia me reconciliar com o Leco. Mas, para isso, ele também precisa querer, de forma sincera e verdadeira. O mais importante seria ele se abrir para o novo, ciente de que a grandeza na vida é a nossa disposição para aprender. Aprender sempre."