Como o futebol do Rio de Janeiro ainda resiste à onda da torcida única

Fluminense e Flamengo se enfrentam hoje (9), no Maracanã, pela semifinal do Carioca, em um estádio com arquibancada dividida. O duelo é mais um capítulo de rara resistência aos clássicos de torcida única. A medida, que vem ganhando cada vez mais espaço no país, encontra barreiras no Rio. A ideia já ganhou corpo no MP, mas as forças contrárias foram maiores e brecaram o plano.

O histórico de atuação de segurança no Rio foi pautado pelo policiamento de proximidade. Não que isso exista hoje, mas a atuação da segurança nos eventos de futebol tenderam ao diálogo entre as torcidas. Isso não significa que a lógica punitivista não esteja presente, mas é fator importante. Culturalmente, o Rio sempre teve a presença das duas torcidas, inclusive, no setor misto. A possibilidade de estar com o adversário no mesmo setor é uma experiência rica

Raquel Sousa, doutoranda em Ciências Sociais pela UERJ

Qual é o modelo?

Fluminense e Flamengo vão se enfrentar com divisão igualitária. No caso do Maracanã, ainda há o setor misto, destinado a torcedores dos dois clubes.

Há algumas situações em que os clássicos cariocas acontecem com 10% da carga para os visitantes. Fluminense e Vasco fizeram assim no Brasileiro passado, por exemplo. Essas situações são isoladas e se dão por conta de o Vasco utilizar São Januário por vezes. Como o estádio vascaíno não comporta clássicos "meio a meio", a lógica de distribuição se repete no outro duelo.

Ideia foi debatida

O MPRJ avaliou pedir clássicos com torcida única no ano passado. A ideia foi levantada em reunião com a Polícia Militar, após episódios de violência. no começo do Carioca, mas não foi adiante.

A possibilidade não ganhou adesão dos outros envolvidos nos jogos. Ferj, clubes e o governo não ecoaram a ideia e se mostraram unânimes na avaliação que, dentro dos estádios, a segurança está controlada, assim como também nos arredores Os problemas acontecem nos bairros adjacentes, e por isso apontaram que a medida não seria efetiva no combate à violência.

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O que diz a Ferj?

No Rio de Janeiro, há uma união de forças entre a Justiça, Governo do Estado, Prefeitura, Forças de Segurança, Federação de Futebol e clubes no sentido de preservar o espetáculo e o pensamento de que a torcida única não representa a paz. Nos estados com torcida única, a violência continua a imperar. Os confrontos não diminuíram, são previamente marcados. E alguns estados, inclusive, já estão buscando o fim da torcida única. Mas é importante ressaltar que não são torcedores que batalham pelas ruas. Trata-se de uma guerra de facções, a qual nós abominamos e somos favoráveis a medidas que permitam excluir esse mal

Ferj, em nota oficial

O que diz a PM?

A corporação seguirá com as estratégias direcionadas para os jogos dos times grandes do Rio, empregando o policiamento especializado do Bepe e deslocando reforço de efetivo para as praças esportivas, estações de trens e metrôs, assim como para as principais vias de circulação de veículos e pessoas da Região Metropolitana

PM, em nota oficial

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O que diz o Governo do Rio?

O Governo vem implementando uma série de medidas para garantir a segurança nos estádios de futebol. No ano passado, em uma ação conjunta com as polícias Militar e Civil, o Tribunal de Justiça e o Ministério Público, o Governo definiu medidas como a proibição de venda de ingressos e suspensão de organizadas com histórico de violência, a abertura de inquéritos para investigar possíveis ligações com o crime organizado, entre outras. O planejamento do policiamento para cada partida é baseado em uma análise de risco, levando em consideração o histórico de confrontos entre torcidas e outros fatores de risco potenciais, garantindo assim que a estratégia de segurança seja proporcional e adequada às necessidades específicas de cada evento

Governo do Rio, em nota oficial

O que dizem os clubes?

A gente entende que é possível fazer os clássicos com duas torcidas. Acho que o problema de fazer um jogo de futebol com uma única torcida ou duas torcidas é um problema de Estado, de segurança. Acho que tem todos envolvidos, não só o clube é responsável. Acho que enriquece a partida, seja qual for

Marcos Braz, vice de futebol do Flamengo

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O Vasco da Gama é totalmente contra a torcida única por entender que essa medida atrapalha o espetáculo. O clube acredita na efetividade do planejamento operacional, na capacidade do Bepe em seu campo de atuação e na implementação de medidas preventivas, como, por exemplo, as ações educativas quem vem promovendo junto às torcidas organizadas desde a implementação do TAC, assinado com o Ministério Público no ano passado

Vasco, em nota oficial

Botafogo e Fluminense foram procurados, mas não se pronunciaram.

Pelo Brasil

Torcida única: Minas Gerais, Goiás, Bahia, São Paulo, Pernambuco e Santa Catarina.

Torcida 90/10: Alagoas e Paraná.

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Torcida 50/50: Rio de Janeiro, Pará e Ceará.

No Rio Grande do Sul, o Gre-Nal adota acordo entre os clubes. São destinados dois mil ingressos para o visitante, independentemente da capacidade do estádio onde a partida ocorre.

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