Laudo aponta que trauma por incêndio no Ninho impede segurança de trabalhar
Um laudo pericial feito com autorização da Justiça do Trabalho aponta que Benedito Ferreira, ex-segurança do Flamengo, não tem mais condições psicológicas de trabalhar na mesma função por causa do trauma. Ele estava no Ninho do Urubu na noite do incêndio que matou dez garotos da base rubro-negra e participou do resgate de alguns sobreviventes. O Flamengo contestou o laudo. A história da tragédia é contada na série documental "O Ninho: Futebol e Tragédia", com ideia original e desenvolvimento do UOL. Os três episódios já estão disponíveis na Netflix.
O que aconteceu
Benedito foi submetido a um laudo médico pericial aceito como prova no processo trabalhista que ele move contra o Flamengo. A avaliação aconteceu no fim do ano passado e foi apresentada à Justiça em dezembro.
O laudo aponta que Benedito tem "doença aguda psiquiátrica". O médico perito responsável, Regio Marcos de Abreu Filho, disse que o segurança "não apresenta capacidade para exercer a função laboral que exercia previamente".
O documento ainda aponta que "foi comprovado nexo causal entre as queixas e patologias diagnosticadas" com o trabalho exercido por Benedito antes.
"Há comprovação de doença aguda, lesão ou limitação funcional", relatou Abreu Filho.
Benedito disse ao perito que tem ataques de pânico, com lembranças fortes do que aconteceu na noite do incêndio. Ele falou ainda sobre ansiedade e crises de choro que só passam com uso de medicação.
O relato detalhado do segurança cita a tentativa de salvamento de alguns garotos no Ninho. Mas o esforço naquela noite foi em vão em relação a alguns jogadores.
Passei por uma perícia em dezembro de 2023, sofro com muitos transtornos emocionais desde a tragédia que testemunhei, tomo 709 miligramas de medicamentos controlados todos os dias. Estou aguardando o andamento do processo
Benedito Ferreira
A contestação do Flamengo
O Flamengo questionou o laudo e os métodos aplicados na avaliação do ex-segurança do clube, demitido do clube em 2022. A alegação rubro-negra cita questões técnicas e procedimentos que estariam faltando na produção do documento:
O local da perícia indica Copacabana, porém o exame foi realizado em um consultório do Recreio dos Bandeirantes.
Não constou o nome do assistente técnico do clube que estava presente na diligência pericial.
O laudo não apresenta respostas aos quesitos apresentados em um documento prévio juntado pelo Fla no processo.
O trabalho não apresenta fundamento técnico ou científico para a conclusão do perito.
O laudo não avalia o grau da incapacidade do periciado, bem como se é temporária ou permanente.
O que o perito respondeu depois
A juíza trabalhista responsável pelo caso, Ana Paula Almeida Ferreira, determinou, no último dia 5, um prazo de 15 dias para que o perito responsável se explicasse.
No mesmo dia, ele enviou um documento para reforçar o que identificou no laudo e a visão de que Benedito não tem condições de trabalhar. O profissional enxerga correlação entre o trauma e o incêndio no Ninho.
Questionado se a doença é incurável, Regio Marcos respondeu: "Toda doença psiquiátrica é crônica e progressiva".
Idas e vindas de peritos
A definição de quem faria o exame teve idas e vindas dentro do processo. O pedido de um exame pericial foi feito pelos advogados de Benedito.
O médico perito que fez o exame foi o quarto na fila. O primeiro escolhido pela Justiça disse que não iria fazer o serviço e receber só quando a sentença saísse. O segundo não trabalha no Rio. O terceiro foi impugnado após pedido do Flamengo, diante do fato de não atuar com psiquiatria.
Enfim, a Justiça nomeou o perito atual, cujo trabalho também está sob questionamento do clube. O processo foi aberto por Benedito em 2022. O valor de indenização pleiteado na causa é de R$ 2,9 milhões.
A assessoria de imprensa do Flamengo foi procurada, mas não retornou o contato. A reportagem será atualizada caso o clube se manifeste.
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