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Júnior Santos lembra trajetória da várzea à história do Botafogo: 'Loucura'

Júnior Santos, do Botafogo, comemora seu gol contra o Bragantino, na pré-Libertadores Imagem: Alexandre Durão/Ag. Estado

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

16/03/2024 04h00

Da várzea ao topo da lista de maiores artilheiros da história do Botafogo na Libertadores. Esse pode ser um breve resumo da trajetória de Júnior Santos no futebol. O atacante, destaque do Alvinegro no torneio até aqui, curte a boa fase e lembra um pouco da caminhada que teve momentos de desânimo, começo tardio e experiência no Japão até o desembarque em General Severiano.

É uma loucura. Mas nada é por acaso e tudo vem com muito trabalho. Só a gente sabe tudo o que passou para que pudesse chegar até aqui, vivendo este momento mágico Júnior Santos

Natural de Conceição do Jacuípe, Bahia, Júnior Santos partiu para Salvador aos 20 anos. Na capital baiana, trabalhou como ajudante de pedreiro com um tio, e via a vida no esporte como algo inalcançável, apesar de a participação em jogos amadores render um dinheiro extra.

Aos poucos, ganhou espaço na várzea, até que recebeu um convite de um amigo para atuar pelo Osvaldo Cruz, em São Paulo. Logo de cara, as coisas não foram como imaginava e cogitou voltar para a cidade natal.

"Comecei a desanimar e iria voltar para a Bahia. Mas meu pai, Antônio, e meu atual empresário, Edivaldo [Ferraz], foram determinantes para que eu não largasse. Meu pai pediu para seguir, ter força. E o Ferraz foi assistir a um outro jogador do Osvaldo Cruz e, ao final do jogo, me procurou falando que teria um projeto. Agendou comigo na rodoviária de São Paulo. Cheguei sem celular e não tinha nem chuteira", lembra.

O jogador partiu para um teste no Ituano poucos dias antes do início do Paulista de 2018. Foi aprovado pela comissão técnica, sob aval de Juninho Paulista, então gestor do clube. A expectativa era de ser mais uma opção no elenco.

Júnior Santos, do Botafogo, nos tempos de várzea Imagem: Arquivo pessoal

"Pude fazer quatro gols em 11 jogos no Estadual. No mesmo ano, disputei a Série B pela Ponte Preta e, no ano seguinte, veio o Fortaleza, clube em que ganhei projeção nacional, em 2019. Fui artilheiro da Copa do Nordeste. Tudo aconteceu em pouco mais de um ano. Só tenho que agradecer a todos que fizeram parte disso", apontou.

A primeira passagem pelo Botafogo foi em 2022. À época, a diretoria queria a permanência, mas as negociações com o Sanfrecce Hiroshima, do Japão, não avançaram. O retorno ao Glorioso aconteceu ano passado, para, agora, gravar o nome no clube e cair ainda mais nas graças da torcida.

O carinho deles comigo é especial, são muitas brincadeiras, os memes, e isso faz parte da alegria do futebol de hoje. Tem muitas crianças também. Recebo muitas mensagens, apelidos e procuro retribuir isso dentro de campo Júnior Santos

O que mais ele disse

O que te motivou a não desistir do futebol? "Foram muitas coisas, muitas pessoas e a vontade de poder vencer. Pensei, sim, em desistir. Sabia que tinha talento, mas a gente sabe que os caminhos são complicados. Deus colocou as pessoas certas na minha vida e hoje estou colhendo os frutos".

Em coletiva recente, citou seu pai. Como sua família te apoiou até atingir o patamar atual? "Minha família sempre me ajudou muito. Perdi minha mãe quando tinha sete anos, e meu pai mais recentemente. Infelizmente, quando eu estava em teste no Ituano, meu pai sofreu um AVC e perdeu a memória. Ele não chegou a ver meu sucesso, não me viu virando jogador. Mas isso tudo me tornou mais forte. Em 2021 ele morreu. Eu queria que ele tivesse visto eu me tornar jogador, mas são coisas da vida. Hoje tenho meus filhos e minha esposa, que são minha base e faço tudo por eles".

Você passou alguns anos no Japão "Foi minha primeira experiência fora do Brasil e foi muito especial. Foram quase quatro temporadas, três clubes diferentes [Kashiwa Reysol, Yokohama Marinos e Sanfrecce Hiroshima] e um povo que me acolheu super bem. Pude evoluir muito no futebol, no entendimento do jogo e na disciplina".

Como vem sendo o carinho da torcida do Botafogo? "Sabemos que, por tudo o que aconteceu no Brasileiro do ano passado, o torcedor ficou muito triste. E nós também. É algo que precisamos superar e só com o dia a dia e bons resultados isso vai acontecer".

O quanto representa a classificação à fase de grupos da Libertadores? "Era o nosso principal objetivo neste começo de ano. Temos um grupo forte, que melhorou ainda mais. Agora, é entender que isso é uma pequena parcela de um 2024 de muitos compromissos importantes. Temos que valorizar o que conseguimos, mas de nada vai adiantar se não seguirmos com a mesma dedicação".

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