Capitão renova sonho de vítima do Ninho e lembra perda de melhor amigo
Iago chegou à Libertadores com a sensibilidade elevada. As lágrimas com o título do sub-20 do Flamengo representam não só a taça levada para casa com a campanha invicta. Elas também envolvem dois personagens importantes da história do jovem: o avô e o melhor amigo, que morreram no mesmo dia, mas com cinco anos de diferença.
O capitão da base rubro-negra renovou o sonho de Arthur Vinícius, uma das vítimas do incêndio no Ninho do Urubu. O dia 8 de fevereiro, que levou o "irmão" e o avô, nunca mais será o mesmo para Iago. Enquanto a torcida lamentava a morte de 10 jovens, o jogador chorava a partida do melhor amigo.
Levantar a Libertadores, em uma conquista inédita para o Flamengo, como capitão e um dos artilheiros da competição, teve um sabor mais do que especial. Perdi meu avô, duas semanas antes de viajar para a competição e estava com a sensibilidade a flor da pele. Iago
'Dia mais triste da minha vida'
Arthur Vinícius foi antes do amigo para o alojamento porque tinha um ano a mais. Iago se preparava para ir justamente em 2019, quando completasse 14 anos. Quis o destino que esse encontro nunca acontecesse. Hoje, ele joga pela memória do antigo companheiro.
Em diversos títulos, o defensor carregou uma camisa com a foto do amigo estampada. Na Libertadores, ele tentou fazer o mesmo, mas a Conmebol não permitiu. Em outras conquistas, como a do Campeonato Brasileiro sub-20, Arthur se fez presente.
Os dois começaram no futsal do Sesi, em Volta Redonda. Atuaram lado a lado até serem chamados pelo Flamengo. O convite para Iago foi em janeiro de 2019, mas a família conseguiu fazer o clube esperar ele completar 14 anos. Se pudesse ir, poderia ser mais um jovem na tragédia.
Joguei muitas vezes contra o Flamengo pelo Sesi, ao lado do Arthur. O Flamengo queria nos observar, mas eu era mais novo. Arthur foi primeiro e a história todos nós conhecemos. Ali, foi o dia mais triste da minha vida.
No último dia juntos, eles jogaram futmesa na casa de Iago. Altamiro e Fabiana, pais do zagueiro, se tornaram grandes amigos de Marília, mãe de Arthur. Eles se juntavam para torcer pelos jovens.
Na estreia pelo Flamengo, quis o destino que Iago usasse a camisa 4 de Arthur. Ele sempre vestia a 3, mas neste jogo entrou com a numeração do amigo contra o Volta Redonda. Ao marcar um gol, levantou as mãos para o céu e agradeceu.
Sei que o Arthur está por perto. Torcendo por mim, pelo Flamengo e com o sorriso de sempre no rosto. Arthur era um irmão para mim. Sempre que puder, usarei uma camisa com a foto dele por baixo do manto. Vou jogar, sempre, pelo Flamengo, pela minha família, por mim, pela memória do meu avô, Otacílio, e pelo Arthur
Xerife do Flamengo
Capitão e xerife, Iago foi um dos artilheiros da Libertadores. Ele foi decisivo na classificação para a final ao marcar os dois gols da vitória por 2 a 1 sobre o Rosario Central.
Nascido em Volta Redonda, Iago foi relacionado para o profissional pela primeira vez em 2022. Ele não entrou no campo diante do Altos, pela Copa do Brasil. A estreia mesmo aconteceu só neste ano, quando foi acionado já na reta final do empate com a Portuguesa pelo Carioca.
A luta para se manter em uma equipe do tamanho do Flamengo é muito grande. Apesar de muito novo, minha determinação me trouxe até aqui. Quando passa esse filme na minha cabeça, o choro do título se torna ainda mais especial
Iago tem Léo Pereira e David Luiz como referências no Flamengo. No futuro, espera ser olhado pela comissão técnica de Tite. Ele completa 19 anos no próximo mês.
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