Efeito dominó: como as críticas de Leila fizeram CBF falar sobre estupro
A sexta-feira, véspera do duelo entre Brasil e Inglaterra, em Wembley, foi marcada por declarações sobre um assunto pouco comum no ambiente da CBF: as condenações por estupro de Robinho e Daniel Alves, ex-jogadores da seleção brasileira. A mudança de abordagem aconteceu um dia depois que Leila Pereira, chefe de delegação da entidade, deu declarações fortes sobre o assunto ao UOL.
O que aconteceu
O capitão da seleção brasileira, Danilo, e o treinador Dorival Júnior foram perguntados sobre o tema em entrevista coletiva. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, também falou, com exclusividade ao UOL, sobre o assunto. Até então, apenas a presidente palmeirense havia se manifestado.
Danilo foi o primeiro a se manifestar e disse que é preciso que haja conscientização desde as categorias inferiores do futebol. O lateral pediu que a CBF se engaje no processo e passe a tratar do tema desde as categorias de base.
Dorival Júnior, também em entrevista coletiva, tratou o tema como "delicado", citou o sofrimento das famílias dos envolvidos, "especialmente as vítimas", mas, ao falar da convivência com Robinho, em 2010, lembrou do ex-jogador como "uma pessoa maravilhosa".
Em conversa com o UOL, o presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, foi mais direto, disse confiar na Justiça e afirmou que "cada um precisa pagar pelo crime que cometeu".
O diretor de Comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, antecipou-se às respostas de Danilo e Dorival para falar sobre as ações recentes da entidade na conscientização e proteção de atletas.
Após o fim das entrevistas, Paiva enviou uma nota à imprensa com detalhes sobre projetos de "conscientização, prevenção e combate a todo o tipo de violência e ao assédio moral e sexual, dentro e fora dos campos".
Efeito Leila
O dia em que os casos de Daniel Alves e Robinho ficaram no centro das atenções foi um efeito direto das palavras de Leila Pereira ao UOL, na quinta-feira.
A presidente do Palmeiras, que chefia a delegação na Inglaterra, posicionou-se sobre o tema e disse que a possibilidade de Daniel Alves sair da prisão provisória mediante fiança é "um tapa na cara de todas as mulheres".
A declaração de Leila teve efeito imediato. Afinal, foi a primeira vez que alguém em função na CBF falava abertamente sobre os casos.
As palavras da chefe de delegação colocaram o assunto no centro do debate. O departamento de Comunicação da entidade foi para Wembley na sexta sabendo que o tema seria abordado pelos jornalistas. Nos bastidores, o presidente Ednaldo Rodrigues preparou-se para responder a perguntas sobre o assunto.
Ao UOL, ele disse que não se manifestou antes porque nunca tinha sido perguntado sobre o tema. Antes da conversa, pessoas próximas disseram que Ednaldo "concordava com as palavras de Leila".
Danilo, que em junho passado havia sido o primeiro jogador da seleção a falar sobre o caso de Daniel Alves — ainda antes da condenação em primeira instância — também estava preparado para responder sobre o assunto.
O posicionamento institucional da CBF foi reforçado com outro comunicado oficial, desta vez citando os nomes dos dois ex-jogadores. A imprensa teve acesso ao documento às 20h49 (horário de Brasília).
Nesta nota, a entidade chama Robinho e Daniel Alves de culpados e diz que as condenações "colocam um ponto final em um dos capítulos mais nefastos do futebol brasileiro".