Um gigante de 35 mil lugares está "escondido" de boa parte da população de São Paulo. O Estádio da USP (o nome oficial é Estádio Armando de Salles Oliveira) fica no campus do Butantã, é usado somente para eventos internos e não tem condição de receber um jogo oficial: uma das arquibancadas está interditada por falta de manutenção, mas nada impede alguém de subir as escadas enferrujadas e ficar pulando para ver o que acontece.
Deterioração e abandono
Os 35 mil lugares estão divididos em duas arquibancadas, que, vistas do alto, formam uma grande ferradura em "U", de Universidade. Elas sofreram com o tempo e a falta de uso.
A parte inferior está deteriorada com rachaduras, fungos e concreto desgastado, mas a situação da superior é ainda pior: não pode ser utilizada e foi interditada - apesar de nenhuma placa informar isso. Além das escadas de acesso todas enferrujadas, têm ainda as plantas nascendo entre o concreto.
A arquibancada de cima está interditada, porque ninguém usa. A instalação esportiva tem uma característica: se você não usa, ela estraga Emílio Miranda, diretor do Centro de Práticas Esportivas da USP
A situação do campo é diferente. Com 110 metros de comprimento e 68 de largura, ele foi dividido na metade, formando um de rugby e outro de futebol. Eles estão bem cuidados, têm iluminação e são usados para aulas.
Pan e o projeto esportivo
O Estádio da USP era para ter sido utilizado nos Jogos Pan-Americanos de 1975, mas um surto de meningite que atingiu a capital paulista fez com que a competição fosse transferida para a Cidade do México.
O estádio foi inaugurado no ano seguinte e se tornou o terceiro maior da cidade, atrás apenas do Morumbi e do Pacaembu. Cerca de 50 anos depois, ainda é o quinto maior de São Paulo.
Copa Pelé e Copinha
Em seus primeiros anos, o local recebeu algumas partidas externas. Em uma delas, pela Copa Pelé - um torneio de veteranos das seleções -, Paolo Rossi, o carrasco que fez os três gols da Itália na eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 1982, jogou ali, contra o Uruguai, em 24 de janeiro de 1989.
Exatamente um ano antes, o estádio teve sua última partida oficial e recebeu a final da Copa São Paulo, com vitória do Nacional-SP contra o América-SP.
Desde então, o estádio só é utilizado para uso interno da USP, seja com competições ou aulas. E isso parte de uma decisão da própria faculdade, que vê dois empecilhos para receber grandes eventos esportivos: o fluxo de pessoas dentro da universidade e a necessidade de uma reforma do estádio.
Restrições no campus
Diariamente, circulam na Cidade Universitária cerca de 70 mil pessoas, entre alunos e profissionais. Isso fez com que a universidade estabelecesse algumas restrições, como o acesso controlado ao campus.
"Às vezes, tem algum evento esporádico, como corridas, copas de futebol para garotada, mas fazemos na época de férias, para não causar transtorno para os alunos", disse Emílio.
"Um jogo de futebol de uma equipe profissional, meu Deus, imagina o que vai acontecer aqui, não tem como", acrescentou.
A USP entende que sediar eventos externos de grande proporção resultaria em um ambiente caótico na universidade, atrapalhando a vida dos alunos. Isso sem falar na segurança, já que o campus do Butantã é todo aberto.
Fora do padrão
A Federação Paulista de Futebol diz que os estádios usados nas competições organizadas pela entidade são indicados pelos clubes e que o local deverá estar adequado a todas as normas e laudos técnicos.
O Estádio da USP não cumpre estas normas. Para estar apto, precisaria passar por uma grande reforma, algo que, segundo Emílio, a universidade não irá realizar.
"Nós até conversamos com a Federação uma época, mas eles queriam que a universidade investisse. Só que a universidade não tem interesse. Então, se a Federação quiser, que invista", explicou. "O estádio, hoje, dentro daquilo que a federação exige, não tem condições, ele teria que ser totalmente fechado, e nós não vamos fechar", completou.
Atualmente, o custo anual com os gastos do Centro Esportivo da USP é de R$ 6 milhões.
Futuro
Segundo Emílio, o novo Plano Diretor, que está em aprovação, estima R$ 12 milhões para reformas no Centro Esportivo da USP. A proposta é para melhorias em todo o espaço esportivo: quadras, vestiários e velódromo, por exemplo.
Em relação ao estádio, existe no projeto a solicitação para refazer a impermeabilização da arquibancada inferior, mas não há nada sobre a parte superior. E assim ele seguirá.
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