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Seleção faz amistoso contra o racismo, mas Espanha ainda não combate casos

O amistoso entre Brasil e Espanha, nesta terça-feira, em Madri, tem como motivação o combate ao racismo. O Estádio Santiago Bernabéu, palco da partida, estará decorado com a frase "Uma só pele, uma só identidade". No entanto, o país europeu ainda tem problemas para controlar os casos em seus estádios e fora deles.

O que aconteceu

Dez meses depois dos incidentes no Estádio Mestalla, em Valência, a Espanha continua sofrendo com casos de racismo em seus estádios. Na volta do Real Madrid ao estádio, no início deste mês, uma criança foi flagrada chamando Vini Jr. de macaco.

A falta de punições severas tem encorajado atos como o de parte da torcida do Atlético de Madrid, no duelo contra a Inter de Milão, há duas semanas. Mesmo sem qualquer envolvimento de Vini na partida, ele sofreu ofensas racistas fora do estádio.

Vini tem recebido o apoio de outros jogadores na luta contra o racismo, como os irmãos Iñaki e Nico Williams, ambos do Athletic Club. "Todos os jogadores me apoiam, escrevem mensagem. Saem à imprensa para dizer que é triste e tem que mudar. Sempre agradeço", afirmou o brasileiro.

Ainda assim, não há medidas efetivas com punições esportivas para equipes envolvidas, ou a paralisação de partidas por causa de atos racistas. A Liga Espanhola reitera que não pode punir clubes ou torcedores.

A Federação Espanhola de Futebol (RFEF), órgão competente para as sanções esportivas, passa por um período de transição. Há um presidente interino desde a expulsão de Luis Rubiales, em setembro passado.

A lei espanhola também não vai na direção das punições. O racismo é considerado "delito de ódio" no país, assim como homofobia e xenofobia. No entanto, falta jurisdição para que haja condenações.

País racista?

A discussão sobre racismo na Espanha ainda é incipiente e quase sempre termina em embates sobre se o país é ou não racista.

Para o sociólogo Jordi Mir, um dos principais estudiosos sobre o tema no país, o que acontece nos estádios não pode ser visto como fato isolado e reflete a sociedade.

No futebol espanhol, assim como na sociedade espanhola, existe racismo, homofobia e machismo de forma estrutural. Não são fatos pontuais. Esse momento deveria servir para analisar e resolver as diferentes expressões do racismo na sociedade espanhola

Jordi Mir, ao UOL

Ontem, o capitão da seleção espanhola, Dani Carvajal, foi perguntado sobre o tema em entrevista coletiva e demonstrou apoio a Vini; porém, discorda da tese que a Espanha é um país racista.

"Tenho amigos de outra cor de pele e nunca houve problema. Depois estão os casos de quem entra nos estádios para desafogar, são pessoas que não deveriam mais entrar nos estádios. Eles insultam com o que sabem que dói", disse Carvajal.

Vini Jr. durante amistoso contra Guiné Imagem: Alex Caparros/Getty

Impunidade machuca

Na já histórica entrevista coletiva pré-jogo, Vini Jr. falou que a impunidade é o que mais incomoda após tantos casos. Ele citou o exemplo de seu amigo e assessor Felipe Silveira, que sofreu ofensa racista no amistoso entre Brasil e Guiné, em junho de 2023, em Barcelona.

"Faço muitas denúncias, chegam cartas para eu assinar. No fim, acontece como aconteceu com meu amigo em Barcelona. Arquivam o processo e não sabem de nada", disse o atacante do Real Madrid.

Na ocasião, Silveira entrava no estádio Cornellà-El Prat quando um segurança mostrou uma banana para ele. O homem disse, em espanhol, "mãos para cima, essa daqui é minha pistola".

Silveira foi a uma delegacia, prestou queixa, mas o caso acabou arquivado. Segundo pessoas próximas a Vini Jr, os investigadores espanhóis acusaram o assessor de ter "fabricado" a cena, já que uma equipe da TV Globo estava a poucos metros do local.

Os vídeos do circuito de TV do estádio nunca foram encontrados; o amigo de Vini ainda teve de ouvir de um investigador que "é preciso respeitar as leis do país", referindo-se ao fato de o Brasil ter uma legislação mais severa que a Espanha para casos de racismo.

Apesar do caso de racismo arquivado, aquele amistoso -- o primeiro da história em que a seleção brasileira jogou de camiseta preta -- rendeu à CBF o Prêmio Fair Play da Fifa.

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