Greve? Na queda de braço entre entidades, veja quem representa os árbitros
As acusações, ainda sem provas públicas, feitas por John Textor a respeito da arbitragem brasileira geram uma repercussão que traz à tona duas entidades que se dizem representantes dos árbitros brasileiros. Mas quem, de fato, tem voz para propor e articular reações da classe?
A disputa política
De um lado, a Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (Anaf).
Do outro, a Associação de Árbitros de Futebol do Brasil (Abrafut).
A questão da representatividade
A Anaf é mais antiga, foi fundada em 1997, enquanto a Abrafut é de 2023. Mas neste caso, antiguidade não é necessariamente posto, considerando a representatividade dos árbitros ativos no quadro nacional.
Há uma guerra política entre Anaf, presidida por Salmo Valentim, e a CBF de Ednaldo Rodrigues. Nesse vácuo, os principais árbitros do futebol brasileiro criaram a Abrafut, cuja liderança tem Marcelo Van Gasse, Anderson Daronco, Wilton Pereira Sampaio, Raphael Claus e outros.
Questionada pelo UOL, a Anaf diz que tem quase 5 mil associados. E leva em consideração "árbitros e auxiliares atuantes e amadores, ex-árbitros", além de profissionais de arbitragem vinculados a sindicatos parceiros.
A Abrafut, por sua vez, diz ter 500 associados e cita a participação dos que, de fato, atuam nas competições nacionais. O quadro da CBF tem 727 membros, entre árbitros e assistentes.
Indicações e acusações
Por estar há mais tempo na ativa, a Anaf é quem hoje tem o poder de indicar um membro para o Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
Mas a tensão entre Anaf e CBF é grande. Ednaldo interrompeu um repasse mensal de R$ 30 mil à entidade e isso fez a briga escalonar.
Hoje, Salmo Valentim não perde oportunidades de alfinetar o presidente da CBF. Houve até uma mudança de abordagem diante das acusações de John Textor, dono da SAF Botafogo.
Em 8 de março, a Anaf disse que Textor "abriu guerra contra a arbitragem brasileira". "Se John Textor não provar o que disse, ele tem que ser banido do futebol brasileiro! Não há outro caminho e, diante do que ele disse, as instituições precisam agir. É inaceitável que um dirigente responsável por um dos mais importantes clubes do futebol nacional tome uma atitude pequena e lamentável como essa ", disse Salmo, em nota, na ocasião.
Depois do depoimento de Textor à CPI da Manipulação dos Jogos, a Anaf virou o canhão para a CBF e chegou a lançar, mais uma vez, a ideia de que os árbitros entrem em greve e paralisem o Brasileirão.
"Os árbitros precisam se unir e paralisar o Brasileiro. Competição está em xeque após acusações de Textor que colocam o VAR sob suspeição. Tudo isso ocorre graças a um show de horrores onde o protagonista principal é o ex-afastado presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, que anda mais preocupado com o seu volumoso salário na entidade", disparou o presidente da Anaf.
A Abrafut adota um tom político com a CBF e opta por pronunciamentos nas redes sociais a cada vez que a classe se vê atacada. Dependendo do caso, leva o tema para a Justiça Desportiva. Em 8 de março, a Abrafut emitiu nota contra as declarações de Textor.
"O teor das acusações é muito sério, pois ofende a honra e a moral de toda uma classe de trabalhadores que está em seu campo de atuação, exercendo sua função com honestidade, responsabilidade e transparência", disse a entidade, que preferiu o caminho de enviar notícia de infração ao STJD para que o dirigente do Botafogo seja responsabilizado.