Ex-São Paulo se deu mal ao imitar holandês e teve 'cabelo de uma noite só'
Roberto Salim e Arthur Macedo
Do UOL, em São Paulo
26/04/2024 04h00
Uma bronca pra nunca mais ser esquecida por causa de um penteado inspirado num ídolo. O atacante Macedo, campeão brasileiro, da Libertadores e também do Mundial, relembra as duras e os ensinamentos que recebeu de Telê Santana no São Paulo.
Está tudo no capítulo de estreia da série 'Histórias da Bola', do UOL. Ex-jogadores, treinadores e personalidades contam passagens inéditas e detalham casos famosos no futebol.
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O cabelo de uma noite só
Inspirado no craque holandês Ruud Gullit, Macedo decidiu aplicar tranças em seu cabelo. Uma atitude normal nos dias de hoje, mas que chamava a atenção no começo dos anos 1990, quando nenhum jogador sequer usava chuteiras que não fossem pretas.
Eu vi o Gullit jogar na Copa, naquela seleção da Holanda. Aí falei assim: 'Gostei do cabelo do Gullit, vou colocar um cabelo igual, né. (...) Aí eu conheci o cabeleireiro, o Gérson, lá de São Paulo. Tinha umas mulheres que faziam lá essas tranças. Fui lá pra conhecer, conversei com ele, ele falou o valor, o mais alto que tinha, porque trazia um cabelo importado.
Macedo avisou a imprensa e a torcida organizada, para não causar choque. Só esqueceu de um detalhe: avisar o cuidadoso treinador.
Falei 'vou fazer', só que eu não avisei o Telê. Nós íamos jogar contra o Flamengo, mas não avisei o Telê que eu ia fazer o cabelo. Avisei a imprensa que ia mudar o visual, a Independente. Lembro que foi 10 horas pra fazer. Aí eu cheguei à noite (no CT da Barra Funda), mas só que o Telê não viu, fui dormir
'Que cabelo é esse?'
De volta ao CT, onde morava com todos os outros jogadores solteiros, Macedo encontrou todo mundo já descansando e foi direto dormir.
Acordei de manhã pra treinar, dei de frente com o Telê. O Telê acordava cedo demais. Na hora que eu desci a escada, eu dei de frente com o Telê e o seu Herman (Koester), que era o diretor (de futebol) do São Paulo na época. Na hora que ele (Telê) viu, pediu licença pro seu Herman, falou assim: 'Vou conversar com o Macedo, o Macedo tá mudado, que é isso que ele fez no cabelo, que cabelo é esse que ele tá'
Na salinha, a bronca foi ainda maior.
Ele já foi falando: 'Você tá mudado, você não é o mesmo, que negócio é esse, isso aí eu não vou aceitar, você quer aparecer, coloca uma melancia na cabeça, vou fazer uma reunião'.
Telê quis ouvir a palavra dos líderes, como o capitão Raí e o lateral Cafu. Mas era pura formalidade, ele já tinha tomado uma decisão.
O Cafu falou 'Não tem nada a ver o cabelo do Macedo, ele tá bem, tá resolvendo'. Aí o Telê já chamou a responsabilidade: 'Quem manda aqui sou eu, ele vai ter que tirar esse cabelo'. 'Se ele não tirar esse cabelo comigo, não joga, ele só vai treinar, e acabar o treino, ele vai tirar o cabelo'
Dez horas para colocar, três para tirar
Macedo não teve tempo nem pra ficar desapontado. Ele seguiu a ordem sem nem pensar muito.
Tirei o cabelo pra não arrumar problema também, que o meu prazer era estar dentro do campo. A hora que ele falou que eu não ia jogar, eu falei: 'Prefiro tirar o cabelo, e dar o meu show. (...) Três horas depois pra tirar... dez pra pôr, três pra tirar. E perdi o dinheiro que investi no cabelo ainda, na época era uns 3 mil reais. Pus até um nome do cabelo, 'cabelo de uma noite', durou uma noite só
Gratidão a Telê
Rígido com os atletas, Telê pensava neles também fora do futebol. Queria saber onde investiam o dinheiro, se estavam guardando e cuidando para ter um futuro bom depois da carreira. O jogador que comprasse carros em vez de imóveis tinha que enfrentar a cobrança.
O conflito entre a juventude recheada com dinheiro e a cobrança rígida e, às vezes, exagerada era constante. Porém, com a maturidade veio o reconhecimento.
"Telê era como um pai pra mim". Foi assim que Macedo, chorando, começou o depoimento final deste primeiro episódio da série Histórias da Bola.