Pirlo jogou 'só com a perna ruim' e ninguém notou. Seria possível hoje?

Craque italiano campeão da Copa do Mundo de 2006, Andrea Pirlo elencou grandes feitos ao longo da carreira. Mas não apenas de golaços, lançamentos e retomadas elegantes viveu o meio-campista. Há praticamente 10 anos, ele conseguiu um feito: jogar lesionado sem que ninguém percebesse.

O que aconteceu

Pirlo defendia a Juventus — clube pelo qual jogou entre 2011 e 2015. Com as frequentes lesões no joelho, sofria com as ausências.

Foi quando bolou uma estratégia para driblar o desconforto. Em partidas contra Novara, Lecce, Napoli e Lazio ele simplesmente deixou de usar sua perna boa, a direita, e fez todos os movimentos do jogo com a esquerda, para minimizar as dores. O próprio Pirlo admitiu a estratégia utilizada 'em segredo'.

Houve algumas partidas que joguei só com minha perna esquerda. Joguei dois ou três jogos, um contra o Lecce, outro contra o Novara, Napoli e Lazio também... Eu tinha uma entorse no joelho. Mas eu não podia contar

Andrea Pirlo

Seria possível hoje?

Mas será que isso seria possível hoje em dia? O UOL foi atrás de respostas sob ponto de vista físico e médico, de olho também nas mudanças do futebol em praticamente uma década.

"Acho muito complicado que um atleta nestas condições consiga participar de um jogo de alta competitividade e, com certeza, se ele conseguir participar, não será na plenitude de sua performance. Pois quando sentimos alguma dor, desconforto ou sensibilidade maior a tendência é termos um ato reflexo de proteção do local", disse o preparador físico Rogério Dias, que passou por Grêmio, Bahia, Santos e seleção brasileira.

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Dias, que tem experiência internacional com a seleção, além de ter trabalhado também no Al-Riyadh (SAU) e Al-Wasl (EAU), ainda recorda que o futebol ganhou intensidade.

No futebol de hoje isso seria bem mais difícil. O caso do Pirlo é quase há uma década atrás. Neste período, somos sabedores de que houve um incremento muito grande da intensidade das ações do futebol, estratégias que tornaram o jogo muito mais intenso nessa briga por espaços. Seria bem complicado ele fazer isso hoje

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Imagem: Divulgação/Al Riyadh

Alta performance suporta a dor

Jogar com algum estágio de dor é corriqueiro para atletas de alta performance. O que diferencia cada caso é a intensidade e a tolerância a ela.

"O atleta de alto rendimento tem possibilidade de atuar com alguma lesão. Se for pequena, sem grande impacto, o atleta medicado, com analgesia, é possível que consiga jogar uma, duas partidas de futebol. Porém, se for uma lesão maior, uma ruptura ligamentar ou lesão de cartilagem expressiva, teria muita dificuldade, não conseguiria. Atletas de alto nível com lesões menores conseguem uma performance muito boa", disse Márcio Dornelles, médico do esporte.

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Chance de agravar lesão

O problema da conduta de Pirlo, pensando na maioria dos jogadores e na quantidade de disputas do futebol atual, é a chance de agravar o quadro de lesão.

"As decisões são tomadas em acordo entre as comissões técnicas, jogadores e departamento médico, justamente pela chance de agravamento da lesão. Provavelmente as comissões técnicas quiseram contar com ele mesmo nestas situações", disse o médico Rodrigo Hoffmeister.

Uma lesão de pequeno porte pode aumentar e virar algo mais grave, uma ruptura parcial pode virar ruptura total de ligamento, uma lesão de menisco ou até cartilagem do joelho, o que poderia acarretar em sérios problemas, e até mesmo precisar de uma correção cirúrgica. Uma lesão que era pequena, após uma partida em alta performance, pode virar algo bem mais grave

Márcio Dornelles

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