Ex-Palmeiras viveu glória em dia de coração partido por Senna no Choque-Rei
Apesar da tristeza que tomou conta do mundo do esporte com a perda de Ayrton Senna, a bola não parou no país do futebol. Naquele domingo, 1º de maio de 1994, pelo Campeonato Paulista, São Paulo e Palmeiras se enfrentaram. A delegação alviverde estava concentrada e, antes de sair para o estádio do Morumbi, acompanhava o Grande Prêmio de San Marino em Ímola, na Itália. Maurílio, atacante que ficaria no banco de reservas e mudaria o placar daquela partida, começaria ali um dia inesquecível. Para o bem e para o mal.
"Eu sempre acordava para ver o Senna correr. E naquele dia, fiquei muito triste. No momento em que aconteceu, fui às lágrimas. Foi um momento difícil de digerir, mas nós tínhamos que estar concentrados, tínhamos um clássico pela frente contra o São Paulo", disse Maurílio, hoje técnico do clube angolano Petro.
Aquela tarde de domingo realmente não tinha nada de comum. Normalmente, um minuto de silêncio acontece antes do início da partida, mas o árbitro paraguaio Juan Francisco Escobar paralisou o jogo aos três minutos, e todos os presentes no Morumbi homenagearam Ayrton Senna. Mesmo 30 anos depois, o ex-palmeirense guarda a cena com clareza em sua mente:
"Teve toda a parada, todo o estádio fazendo homenagem. Nós ali do banco, todos os outros que estavam dentro de campo, não só do Palmeiras, do São Paulo, todos fazendo homenagem ao Senna".
E no campo?
Durante boa parte da partida, o São Paulo mostrou superioridade ao Palmeiras e abriu 2 a 1 no placar. Vanderlei Luxemburgo preparava a substituição do lateral-direito Cláudio por Maurílio, e a torcida criticava a decisão do treinador. Instantaneamente, o lado verde do estádio chamou o técnico de "burro". Mesmo assim, Luxa seguiu seus planos, e no primeiro toque na bola, Maurílio empatou o jogo.
"Foi um momento feliz para mim e para Luxemburgo, de tomar uma decisão contrária à torcida. Mas no primeiro instante, teve o primeiro escanteio. O Mazinho bateu e, no meu primeiro toque na bola, gol, empatamos. Eu chorava, eu pulava, eu abria os braços, corria para a torcida, eu tenho muitas lembranças daquele momento", recordou.
Mas o desfecho final naquele dia de luto, seria marcado por uma virada histórica. Maurílio, que havia empatado a partida, sofreu uma falta na intermediária, e foi dali que saiu o gol da vitória rumo ao bicampeonato paulista.
"Eu peguei uma bola em contra-ataque e driblei o Gilmar. Eu queria bater, estava confiante, mas o Evair pegou a bola e disse: 'Velhinho, deixa que eu vou bater, vou fazer o gol, nós vamos ganhar o jogo'. Aí eu abençoei e falei: 'Vai lá, meu irmão, faz o gol'. Ele bateu e fez", contou o ex-atacante.
Agora, como foi comemorar em um dia marcado pela morte de Ayrton Senna? Qual foi o clima no vestiário após essa virada? Maurílio conta os detalhes de um dia marcante.
"Foi um marco bastante interessante, eu tive uma participação bem direta. No vestiário, Luxemburgo falou: 'Está vendo? Eu falei: 'Eu confio em vocês'. Ele me abraçava, o grupo inteiro, todo mundo feliz naquele momento, mas todo mundo com o coração partido pela perda do Senna".
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