Um novo Sidão: cigano da bola, goleiro recomeça na 2ª divisão do Paraná
Luís Augusto Símon (Menon)
Colaboração para o UOL
04/05/2024 04h00
Aos 41 anos, a aposentadoria é uma realidade concreta para jogadores de futebol. Até para goleiros existe uma pressão do mundo da bola, mesmo com exceções brilhantes como Fábio e Rogério Ceni.
Veterano dos gramados, Sidão está de emprego novo e feliz da vida. Deixou o Azuriz, onde fez apenas um jogo pelo Paranaense, e assinou com o Paraná Clube para disputar a segunda divisão do campeonato estadual, que começa neste sábado (4).
"Quiseram me destruir, mas estou aqui, trabalhando cada vez mais e pensando em evoluir. Posso melhorar, vou melhorar e ajudar o Paraná a voltar ao seu lugar", afirma.
Quem quis destruir? A resposta é óbvia e o assunto, a pedido da assessoria de imprensa do clube, não faria parte da entrevista. Mas foi o goleiro quem fez questão de tocar no tema espinhoso.
Ele se refere, claro, ao episódio de 12 de maio de 2019. Jogava pelo Vasco e falhou no primeiro gol do Santos na derrota por 3 x 0. A Globo escolhia o craque do jogo através de uma votação virtual. Os telespectadores, torcedores do Vasco ou do Santos, provavelmente dos dois, votaram em Sidão para receber o troféu.
A brincadeira cruel chegou com o constrangimento do narrador e do repórter, que entregou o "prêmio" a Sidão. Ele recebeu, quase chorando, e depois processou a Globo por danos morais. Pediu R$ 1 milhão e recebeu R$ 30 mil.
"A crítica não pode ser excessiva. O Abel, técnico do Palmeiras, falou há pouco que a crítica muitas vezes quer matar o atleta, manchar sua imagem. Foi o que aconteceu comigo, manchou minha imagem, mas eu recomecei e continuei jogando".
Em 24 anos de carreira, Sidão, que começou na base do Corinthians e se profissionalizou no Juventus, chega ao 24º time. O São Paulo foi o clube onde mais jogou, com 73 partidas. Um cigano da bola, que acredita ter a simpatia da maior parte dos torcedores brasileiros.
"Sou um homem comum, que precisa acordar cedo para trabalhar e colocar pão e manteiga no café da manhã da minha família. Vim de baixo, já sofri muito e naquele momento mais duro, tive o apoio da Monique, minha mulher. Temos um filho, o Davi, e luto por ele também."
O entusiasmo de chegar ao Paraná, um clube de tradição, mas empacado — é preciso dizer — na segunda divisão, não tem a ver apenas com o compromisso com a família. Sidão está gostando muito de trabalhar com Tcheco e Cássius Hartman.
Ídolo da torcida do Paraná, onde começou no futsal, Tcheco, aos 48 anos, agora é treinador, depois de participar, como auxiliar, do acesso à Série A em 2017 — último motivo de alegria para uma torcida que vê seu time cair e cair, ano a ano. "O Tcheco é um grande cara, tem história no Paraná e tenho certeza que terá uma carreira marcante no futebol brasileiro. É só o começo".
Cássius Hartmann, 51 anos, é o preparador de goleiros do Paraná desde o ano passado. Já trabalhou no Goiás, Atlético e Coritiba, entre outros clubes.
"Com ele, eu estou me sentindo em alto nível. Ele me tira da zona de conforto, é muito exigente e sinto que estou evoluindo em vários pontos. Nunca é tarde, né?"
Durante os períodos de treinamento há uma folga e Sidão não vai para casa. Fica por ali mesmo, no CT da Gralha, descansando. Não quer perder tempo. "Meu foco é total. De degrau em degrau, jogo a jogo, o Paraná vai subir. E, no ano que vem, de volta à primeira divisão do paranaense, vamos lutar por uma vaga na Série D."
Vamos, Sidão?
"Tomara que sim, que eu esteja por aqui, onde estou me sentindo muito feliz."