Palmeiras balançou Maradona: oferta só foi recusada por medo de rejeição
Diego Armando Maradona ficou "balançado" com o Palmeiras na década de 1990, mas a negociação melou por um único motivo. José Carlos Brunoro, mandachuva do alviverde na época da Parmalat, relembrou do que teria sido uma contratação histórica no futebol brasileiro.
A revelação foi feita no segundo capítulo da série História da Bola, do UOL. Ex-jogadores, treinadores e personalidades do esporte contam passagens inéditas e detalham casos famosos no futebol.
Maradona no Palmeiras?
A contratação de Maradona virou um desejo da Parmalat, que deu carta branca ao Palmeiras em 1992: 'Dinheiro não é problema'. Com o astro argentino de saída do Napoli, Brunoro recebeu a ordem para tentar o negócio e viajou à Itália para tratar diretamente do assunto.
Tomei um susto em 92... O Maradona tinha acabado de encerrar o contrato dele na Itália e veio uma ordem de lá se eu conseguia trazer o Maradona para o Palmeiras. (...) A Parmalat falou que se trouxesse o Maradona, não precisaria se preocupar com dinheiro. Imagina? Ia ser um espetáculo, melhor jogador no mundo na época. Brunoro, ao Histórias da Bola, do UOL
O ex-CEO do Palmeiras negociou com os representantes do jogador, mas Maradona afirmou que não poderia atuar no Brasil devido à rivalidade dos países. Segundo Brunoro, o atleta alegou que não seria perdoado pelos argentinos caso aceitasse a proposta palmeirense.
Consegui um contato com os empresários do Maradona, fui para lá para tentar negociar. Ficamos naquela negociação, mas no final ele respondeu que não podia jogar no Brasil, que os argentinos não iam perdoar ele.
Tubarões e sardinhas: a montagem do elenco
Brunoro recorreu a uma expressão para explicar como pensou as contratações na "Era Parmalat". Ele aceitou o desafio após ter feito carreira no vôlei, tanto dentro quanto fora das quadras, não se acanhou no novo universo e mirou alto.
O ex-CEO disse que "tem que andar com tubarões, não com sardinhas" para ser campeão. Então, contratou Zinho, Mazinho e outros atletas que, segundo ele, eram "acostumados a ganhar". O resto virou história.
Para ser campeão, tem que ter campeões. Tem que andar com tubarões, não com sardinhas.. Já tinha Cesar Sampaio, um time que não era ruim, mas contratei Cuca, outros jogadores. Contratei o Zinho, 'campeoníssimo' no Flamengo, o Mazinho, que estava na Europa. A gente trouxe o Otacílio Gonçalves, que tinha sido campeão paranaense, com ele veio o Maurílio e o Jean Carlo. A gente começou a montar com gente que era acostumada a ganhar. Quando começa a ganhar, não quer mais perder.
Sugestão de desembargador
Brunoro também lembrou de uma "solução" inusitada que ouviu de um desembargador palmeirense em 1992. Após o primeiro ano da estruturação da parceria com a Parmalat, o Palmeiras havia chegado à final do Paulistão. O adversário era o poderoso São Paulo.
O Alviverde perdeu o primeiro jogo, e foi então que o ex-CEO recebeu uma ligação com uma ideia mirabolante: contratar Zico para a partida decisiva. A ideia do torcedor era fazer tudo no sigilo, para surpreender o adversário quando o time entrasse em campo. A sugestão foi séria, mas a recordação veio entre risadas.
Quando a chegou na final do Paulista de 92 contra o São Paulo, timaço, perdemos o 1º jogo. Estou na Parmalat, me liga uma secretária de um desembargador. Ele disse que tinha a solução para ganhar do São Paulo: 'Vai no Japão e traz o Zico sem ninguém saber, ele entra em campo na final, São Paulo vai tomar um susto'. Eu falei: 'Doutor, primeiro eu teria que negociar com Zico, tem transferência, é impossível'. Ele achava que era ir lá, pegar o jogador e trazer.
Contratação que deixou Eurico Miranda louco
A contratação de Edmundo foi feita "pelas costas" de Eurico Miranda, gerando ira no cartola. Em 1993, o Palmeiras negociou diretamente com o empresário do jogador e com o então presidente do Vasco, Antônio Soares Calçada, enquanto Eurico estava em viagem. Ao retornar, o contrato estava assinado.
Eu contratei o Edmundo sem o Eurico saber. O Pedrinho Vicençote era empresário dele, foi lateral-esquerdo do Vasco e do Palmeiras. O Vasco estava numa situação muito ruim financeiramente, presidente era o Seu Calçada, o futebol estava na mão do Eurico, um cara difícil pra caramba. Falei para o Pedrinho que queria trazer o Edmundo. Ele disse: 'Com Eurico lá vai ser um desastre, vai querer milhões de dólares'.
O Cruz-maltino precisava de dinheiro para pagar as contas, e acabou aceitando a negociação. O valor, no entanto, seria maior caso Eurico estivesse presente nas tratativas.
Pedrinho foi falar direto com o senhor Calçada. O Eurico tinha ido viajar para a Europa e o presidente, precisando pagar folha [salarial], fechamos em uma semana. Quando o Eurico voltou, ele queria matar todo mundo. Não foi uma compra barata, mas seria muito mais difícil com a presença do Eurico.
Recusa por reforma e contratação de Luxa
Brunoro ainda contou que uma reforma de casa abriu caminho para a chegada de Vanderlei Luxemburgo ao Palmeiras. Luxa disputava o cargo com Nelsinho Rosa, favorito internamente, mas que foi descartado por dizer que não conseguia assumir imediatamente devido a obras em sua casa.
A minha primeira escolha antes do Otacílio era o Vanderlei. Foi numa sala, escolhendo treinador, e me disseram: 'Veio do vôlei, você não entende muito de futebol ainda'. Quando o Otacílio saiu, eu disse: 'Agora eu quero o Vanderlei para ser entrevistado'. O Palmeiras queria o Nelsinho Rosa. Aluguei uma sala no Rio para entrevistar os dois. Veio o Nelsinho Rosa, expliquei, era o time da Parmalat de 93, que era campeão. Disse que estava com problema de reforma na sua casa e não conseguiria em menos de 15 dias. Depois entrou o Vanderlei. Foi sensacional, disse: "É oportunidade da minha vida, vou agarrar'. Ele se preparou.