'Gol de juiz' que decidiu clássico fez árbitro pensar em largar carreira

Quando a arbitragem é protagonista de um jogo, provavelmente fez algo de errado. Seja uma marcação polêmica, um cartão questionável, uma decisão duvidosa. Mas 'juiz artilheiro'? Raridade vivida por José de Assis Aragão. O ex-árbitro se posicionou mal, 'fez gol' e mudou a história de um clássico entre Palmeiras e Santos.

O gol no Campeonato Paulista de 1983 foi o momento mais inusitado de uma longa carreira. Aragão apitou Eliminatórias de Copa do Mundo, jogos de Libertadores, finais de Brasileirão e saiu de seus 24 anos como árbitro com muitas histórias para contar.

O 'juiz artilheiro' detalhou seu erro infeliz no terceiro episódio da série História da Bola, do UOL. Ex-jogadores, treinadores e personalidades contam passagens inéditas e detalham casos famosos no futebol.

O gol polêmico

O Santos vencia o Palmeiras por 2 a 1 até os minutos finais da partida. O clássico, disputado em 9 de outubro de 1983, no Morumbi, não tinha grandes consequências para o futuro do Campeonato Paulista e dificilmente seria um jogo histórico. Isso mudou após um escanteio para o Alviverde aos 45 minutos do segundo tempo.

Jogadores do Palmeiras comemoram o gol com desvio em José de Assis Aragão
Jogadores do Palmeiras comemoram o gol com desvio em José de Assis Aragão Imagem: Jorge Araújo/Folhapress

Aragão desviou chute de Jorginho que ia para fora e empatou o jogo. Pela regra do jogo — alterada em 2019 — não havia como anular o gol mesmo com toque da bola no árbitro. O clássico terminou empatado em 2 a 2, resultado celebrado por palmeirenses pelo contexto do jogo.

Último lance, saí para fora do campo para ver se alguém faz falta no goleiro, alguma coisa. De repente a bola foi cruzada, rebatida para fora da área José de Assis Aragão ao 'História da Bola'

Eu entrei no campo para acabar o jogo. A bola veio numa velocidade enorme, pegou no bico da minha chuteira, lance totalmente acidental. E o Marola (goleiro do Santos) parece que não acreditou e a bola entrou. Gol

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A reação

Jogadores indignados, diretoria compreensiva. Os atletas do Santos reclamaram com o árbitro e pediram pela anulação do lance, mas não poderiam ser atendidos. Milton Teixeira, presidente do Peixe à época, declarou em conversa particular após o clássico que não tinha o que se queixar em relação ao árbitro.

Tive sorte que o Serginho Chulapa era meu amigo. Ele falou 'Aragão, anula o gol, por favor'. (O árbitro respondeu) 'Se eu anular, quem vai para o tribunal sou eu. Apenas segui a regra do jogo'

Quando acabou o jogo, o presidente do Santos (Milton Teixeira) bateu na porta e entrou. Pensei 'esse cara vai me criar problema'. Mas não, ele me disse para ficar tranquilo, o Santos não tem absolutamente nada para reclamar. O jogo foi 2 a 2, e também não valia nada, foi só para cumprir tabela

"Nunca mais eu me colocaria fora do campo". Aragão admite que o gol só saiu porque se posicionou mal. Segundo o próprio, cometeu uma "bobagem".

Estivesse valendo a decisão de um campeonato, eu estava morto

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Aragão cogitou deixar de ser árbitro. O juiz conta que foi à Federação Paulista de Futebol no dia seguinte ao gol para pedir demissão, mas que o presidente da FPF (José Maria Marin) rejeitou a solicitação e logo voltou a escalá-lo para jogos.

Hoje eu digo que foi bom porque todo mundo lembra, quando toca nesse assunto não tem quem não conheça (...) Se tornou benéfico

Essa é uma de várias histórias de árbitro da carreira de José de Assis Aragão. Assista ao programa História da Bola na íntegra:

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