Por que polêmicas não enfraquecem Marcos Braz no Flamengo
Mesmo envolvido em uma sequência de polêmicas, Marcos Braz não teve a rotina ou a relação com o presidente Rodolfo Landim abaladas dentro do Flamengo. Na mais recente, o nome do vice-presidente de futebol do clube esteve envolvido em investigação por envolvimento em suposto esquema de desvio de dinheiro.
O UOL revelou que Braz e Romário estão sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. A base para as investigações é um anexo da delação premiada do empresário Marcus Vinícius Azevedo da Silva. Apesar de a notícia ter repercutido internamente, diversas pessoas de dentro do clube afirmaram à reportagem que nada será feito, seja no Conselho Deliberativo ou em outras esferas.
Essa é a segunda vez em oito meses que o nome de Braz chega aos noticiários fora do esporte. Em setembro do ano passado, ele se envolveu em briga com um torcedor em um shopping do Rio de Janeiro. Depois disso, usou as instalações do clube para falar sobre o ocorrido, mas deu uma versão que não correspondia com os fatos - como a investigação mostrou posteriormente.
Por que Braz não perde força
Há um entendimento de uma ala do Flamengo de que nada acontecerá a Marcos Braz enquanto Rodolfo Landim estiver na presidência. Os motivos são variados. Seja pela dificuldade de preencher o cargo, pela entrada dele no meio do futebol ou até por correr o risco de não ter alguém totalmente leal a ele ao lado. Nos seis anos de mandato, só exonerou um vice-presidente (Guilherme Kroll). No Corinthians, por exemplo, Augusto Melo perdeu força política depois do rompimento com o ex-diretor de futebol Rubens Gomes, que o ajudou a ser eleito, e viu as crises escalarem.
Outras pessoas entendem que Braz funciona como escudo para Landim em vários momentos, especialmente nos de crise. O presidente não concede entrevistas coletivas, deixando assuntos ligados ao futebol somente com o VP e Bruno Spindel, diretor de futebol. O mandatário também não teria interesse em assumir a pasta, como fez Mário Bittencourt no Fluminense após romper com Celso Barros no primeiro mandato.
Existe uma influência política evidente de Marcos Braz dentro do Flamengo. O nome dele também ajudou Landim a ganhar força ao longo dos anos. Dentro desse cenário, o vice-presidente pediu o afastamento de Cacau Cotta, que também é pré-candidato a vereador e atua como vice de relações externas. Ele virou desafeto e não participa mais das viagens da equipe a pedido do cartola.
Como o Flamengo entra nisso
Os episódios envolvendo Marcos Braz não necessariamente têm a ver com o Flamengo, mas o clube sempre acaba sendo mensageiro do vice-presidente. No caso da agressão no shopping, o dirigente concedeu entrevista coletiva na sala de imprensa do Ninho do Urubu. Sem o backdrop, deu a versão dele sobre o ocorrido - desmentida pelas imagens posteriormente. Nesse caso, as ofensas começaram exatamente pelo cargo que ele ocupa no clube.
Na época, várias pessoas de dentro do clube e torcedores questionaram sobre a utilização do Ninho para isso. O dirigente também foi questionado em entrevistas após jogos e outras abordagens enquanto estava à serviço do Fla.
Já na investigação da PF e do MPF, o nome do Fla nem sequer é citado. Mesmo assim, o clube enviou através do grupo de imprensa a nota repassada por Braz na última terça-feira (veja na íntegra abaixo). O Flamengo como instituição ou o presidente não se manifestaram publicamente em nenhum dos casos.
Marcos Braz ocupa cargos no Flamengo desde 1995. Ele é sócio grande-benemérito do clube e em 2009 foi vice-presidente de Esportes Olímpicos e vice-presidente de futebol no título do Campeonato Brasileiro. Depois de sair do rubro-negro e ocupar outros cargos na vida política, retomou a função de vice-presidente de futebol profissional do Fla em 2019, com Rodolfo Landim. Nesse período, o clube foi campeão de duas Libertadores, quatro Cariocas, uma Recopa, dois Brasileiros, uma Copa do Brasil e uma Supercopa.
O que diz Marcos Braz
"O senhor Marcos Braz foi secretário pelo período de 16 meses, entre os anos de 2015 e 2016, ou seja, há quase nove anos. Causa estranheza que estes fatos, levados ao conhecimento dos órgãos de imprensa, de uma delação que supostamente foi feita em 2019, já passados cinco anos, sejam noticiados só agora, em pleno período pré-eleitoral, que se nega veementemente a própria existência destes fatos. Como uma pessoa pública e altamente exposta, encontra-se à disposição das autoridades, sendo de seu total interesse que os fatos sejam esclarecidos com a maior brevidade possível.
A defesa buscará ter acesso ao suposto procedimento investigatório."
O que diz Romário
"A delação do Sr. Marcus Vinícius Azevedo da Silva é baseada em fatos que não condizem com a realidade, tanto é que o STJ anulou na semana passada o recebimento da denúncia fundada na versão dada pelo réu confesso que, para tentar barganhar qualquer benefício com a Justiça, tenta criar fatos que não ocorreram. Matéria pública.
A delação deve sempre ser lastreada em provas que se coadunem com a versão dada pelo colaborador, o que fica nítido não ser o caso específico, que possui narrativa vaga e imprecisa.
O senador Romário não responde pelas ações do secretário no exercício de suas funções. Ele reafirma sua confiança na Justiça e no inquestionável arquivamento da investigação.
Trata-se de um criminoso tentando se safar usando o nome do senador mais votado da história do seu estado".
Conforme citou Romário, o STJ anulou denúncia relativa à Operação Catarata, que trata de suspeitas de desvios de recursos em projetos sociais da Prefeitura do Rio e do governo estadual. A delação de Marcus Vinícius se deu somente após a abertura desse processo.
No entanto, a denúncia em questão apenas mudou de foro, sendo aceita na semana passada no Tribunal de Justiça do RJ.
O processo tramitava no STJ até o início deste mês. Após a análise do foro de um dos acusados, o STJ determinou que o processo fosse devolvido para a 26ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do RJ e anulado o recebimento da denúncia contra os réus para nova análise.
No entanto, no último dia 14, a juíza Ana Helena Mota Lima Valle aceitou a denúncia contra 24 réus, entre eles, Marcus Vinícius Azevedo da Silva, determinando o prosseguimento do processo. A magistrada afirmou considerar os crimes apontados nas investigações do MP do Rio "gravíssimos."