O atacante Paolo Guerrero, ex-Corinthians, Flamengo e Inter, foi alvo do chamado golpe do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). O Fantástico, da TV Globo, detalhou o esquema que desviou mais de R$ 2 milhões do benefício do peruano e que já teve outros jogadores como alvos.
O que aconteceu
Guerrero teve R$ 2,3 milhões transferidos de seu FGTS para uma conta aberta ilegalmente no nome do jogador em um banco privado. A conta foi aberta em 5 de maio de 2022 em uma agência no bairro do Bom Retiro, no centro de São Paulo. Naquela data, o jogador estava nos EUA realizando um tratamento no joelho.
O dinheiro do jogador foi enviado para contas de cinco pessoas. O cadastramento da biometria no banco foi feito a partir de um celular cadastrado na conta falsa do jogador. O advogado do atacante peruano disse que ele recebeu ligação de um ex-motorista falando que pessoas que sacaram o montante queriam devolver.
Guerrero tinha rescindido há poucos meses o contrato com o Inter e não tinha vindo ainda sacar por causa de compromissos profissionais. Quando chegou na Caixa, o FGTS dele havia sido sacado cerca de um mês antes. Claudio Leite Pimentel, advogado de Guerrero
Além de Guerreiro, outros jogadores foram vítimas do golpe, como Elano, Cueva, Maikon Leite, Joao Rojas e Ramires. A reportagem do Fantástico informou que, para a investigação da PF, a quadrilha age desde 2014 e envolve empresários do ramo do futebol, bancários, advogados e ex-jogadores.
Como funciona o esquema
Segundo a PF, a quadrilha pesquisa atletas recém-desligados do clube. Depois, com documentos e assinaturas falsos, acessa o fundo e abre contas em outros bancos. Por fim, movimentam o dinheiro desviado para a conta de laranjas.
De alguma forma acessaram documentos verdadeiros dos jogadores para falsificá-los e abrirem contas correntes para receber esses desviados recursos do FGTS. Caio Porto Ferreira, delegado da PF/força-tarefa caixa-PF
Os envolvidos
Segundo o Fantástico, Gustavo Gonçalves de Barros recebeu R$ 402,7 mil. Ele é sócio de uma empresa chamada FGL Marketing e Esporte.
Seu sócio, o empresário de futebol Fernando Costa de Almeida, mandou em troca de mensagens uma procuração supostamente assinada por Guerreiro à empresa. De acordo com a TV, o empresário contratou um escritório especializado para averiguar situações previdenciárias de atletas profissionais e cuidar das transferências.
José Orlando de Almeida também é investigado. Ele é pai de um terceiro sócio da FGL Marketing e Esporte e parente de pessoas que receberam valores do FGTS do jogador peruano
A polícia ainda apura o envolvimento de Sergio Rogério Melo da Costa no esquema. Em 2021, ele foi preso por estuprar garotas de programa e mantê-las em cárcere privado no Rio de Janeiro.
É de Sérgio o rosto utilizado no processo de reconhecimento facial de Guerrero para abrir a conta, e as autoridades investigam a participação de uma funcionária do banco privado. As fotos de ambos não foram comparadas em 2022.
Fases do golpe
A primeira fase do golpe tinha como alvos apenas atletas brasileiros. Segundo a policia, um integrante desta quadrilha, José Orlando de Almeida, já aplicava o golpe entre 2014 e 2017. Elano, Maikon Leite e outras dezenas de atletas foram afetados.
Marcelo Silva, ex-Santos, é investigado como facilitador dos desvios nessa 1ª fase. Não foi especificado o envolvimento dele no caso.
Pessoas que já transitavam nesse meio do futebol podiam utilizar desse acesso para obter documentos e poder iniciar essa atividade de fraude. Caio Porto Ferreira, delegado
Já a segunda onda de golpes mira apenas jogadores estrangeiros, mas muitos não registraram ocorrência. Cueva teve um prejuízo de R$ 318 mil, enquanto Joao Rojas perdeu R$ 585 mil. O FGTS de Rojas foi sacado em 9 de março de 2022 e ele ainda não conseguiu reaver o dinheiro.
Provavelmente por eles se mudarem para outro país, não terem pleno conhecimento do benefício do FGTS, decidimos fazer uma investigação em bloco que culminou nos mandados de busca que cumprimos nessa semana. Após o inicio da investigação, alguns suspeitos procuravam esses atletas no sentido de devolver as quantias subtraídas. Caio Porto Ferreira, delegado
O que disseram os envolvidos
Ao Fantástico, a defesa de Gustavo Gonçalves de Barros afirmou que ele desconhecia a origem do dinheiro depositado em sua conta e que buscou as vitimas voluntariamente para restituir os valores.
O advogado de José Orlando de Almeida disse que seu cliente não tem participação no delito e que está contribuindo com as investigações
Os representantes de Fernando Costa de Almeida disse que ele recebeu com surpresa a noticia de envolvimento no caso e que registrou boletim de ocorrência.
Já Marcelo Silva não respondeu aos contatos da reportagem da TV Globo.
Em nota, a Caixa afirmou ao Fantástico que trabalha junto à PF em uma força tarefa e que os casos em apuração possuem caráter sigiloso.
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