Corinthians: patrocínio recorde vira caso de polícia e termina em 6 meses

Em seis meses, o acordo entre Corinthians e Vai de Bet foi de maior negócio do futebol sul-americano para caso de polícia. O patrocínio foi rompido nesta sexta (7) pela casa de apostas.

No centro dessa revolução estão duas empresas, a Rede Social Media Design, intermediária do contrato, e a Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, suspeita de ser uma empresa fantasma aberta em nome de uma laranja.

Nesta reportagem, o UOL reúne a linha do tempo do caso, as principais informações e os personagens que compõem a grande polêmica da gestão Augusto Melo, iniciada em janeiro de 2024.

O acordo

Em janeiro, o Corinthians anunciou o maior acordo de publicidade da história do futebol sul-americano com a Vai de Bet: R$ 360 milhões divididos em três anos.

Fontes ouvidas pelo UOL afirmam que, inicialmente, o presidente Augusto Melo apontou que toda negociação teria sido conduzida por ele e por Marcelo Mariano, atual diretor administrativo do clube. Os trâmites foram conduzidos ainda em 2023, antes mesmo do início oficial da gestão.

Após o acordo firmado, Alex Cassundé, sócio da Rede Social Media Design, teria surgido como uma das partes envolvidas na negociação. O caso gerou estranhamento de membros da diretoria, dentre eles o ex-diretor de futebol, Rubão, que questionaram o papel do empresário.

Sérgio Moura, Gusttavo Lima e Marcelo Mariano em partida da Copinha, na Neo Química Arena;
Sérgio Moura, Gusttavo Lima e Marcelo Mariano em partida da Copinha, na Neo Química Arena; Imagem: Reprodução/Internet
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Em meio aos questionamentos, Augusto Melo se tornou uma espécie de "garoto propaganda" da casa de apostas, ao aparecer em muitos eventos com acessórios da marca.

Foi o presidente do Timão quem convidou Gusttavo Lima, embaixador da Vai de Bet, para acompanhar a final da Copinha na Neo Química Arena, no fim de janeiro. O evento sugeriu um início promissor de parceria com a celebridade presente na arena do Corinthians.

O intermediário

Indicado por Sérgio Moura, que o conhecia do mercado publicitário e de campanhas políticas, Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, participou do grupo eleitoral de Augusto Melo como membro do time de comunicação.

A empresa Rede Social Media Design Ltda, que figura como intermediária no contrato da Vai de Bet, prestou serviços de "performance, monitoramento e análise de críticas das redes sociais" para o então candidato corintiano.

A equipe de Cassundé ainda atuava na "criação de personas no mundo esportivo, pesquisa e extração de diversos grupos e páginas do Corinthians nas redes sociais".

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A Vai de Bet, consultada pelo UOL, confirma que foi Cassundé o responsável por apresentar André da Rocha Neto, sócio da casa de apostas, a Augusto Melo. Foi o primeiro negócio de intermediação deste tamanho feito pela Rede Social Media Design.

Alex Cassundé, intermediário no contrato do Corinthians com a Vai de Bet
Alex Cassundé, intermediário no contrato do Corinthians com a Vai de Bet Imagem: Arquivo

O escândalo

Em 20 de maio, Juca Kfouri revelou que a empresa de Cassundé recebeu dois pagamentos de R$ 700 mil do Corinthians em um espaço de três dias, somando R$ 1,4 milhão.

Os pagamentos foram realizados por exigência de Marcelo Mariano, que teria se aproveitado da ausência do diretor financeiro. Quem liberou o dinheiro dos cofres alvinegros foi o gerente do departamento, Rodrigo Gavioli, um subordinado do diretor financeiro Rozallah Santoro.

No dia 25 ainda de março, a Rede Social fez um Pix de R$ 580 mil à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda. Mais R$ 462 mil foram transferidos no dia seguinte para a mesma destinatária.

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Em entrevista ao UOL, a sócia da empresa laranja, Edna Oliveira dos Santos, contou que vive de favor em uma comunidade com os três filhos pequenos e depende do Bolsa Família parar alimentá-los.

A notícia gerou dúvidas na Vai de Bet sobre a idoneidade do intermediário. Em 27 de maio, a casa de apostas enviou uma notificação extrajudicial ao Corinthians com prazo de 10 dias para a resposta.

Os alvos

Internamente, Sérgio Moura e Marcelo Mariano são vistos como os "pivôs" do escândalo. À reportagem, fontes da atual gestão afirmam que a postura do presidente diante do caso, que envolve diretamente dois membros da diretoria, foi "decepcionante".

Há relatos de que Sérgio Moura, afastado do cargo desde 23 de maio, não abandonou definitivamente as funções de superintendente de marketing.

Além disso, Marcelo Mariano, diretor administrativo, continua sendo homem de confiança de Augusto, apesar de não manter mais contato com os demais dirigentes. Rozallah Santoro, diretor financeiro, exigiu que ele mantivesse distância de seu departamento sob a ameaça de desembarcar da gestão.

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Os desdobramentos

Neste cenário de suspeitas, a Polícia Civil de São Paulo abriu uma "Investigação Preliminar Sumária". Após essa etapa, a polícia pode pedir a abertura de inquérito.

Nessa fase preliminar, já vamos fazer investigações. Vamos procurar saber quem são os sócios da Neoway, vamos diligenciar na sede dessa empresa. Queremos saber quem efetivamente intermediou o contrato. Delegado Tiago Fernando Correia

Conforme apurou a coluna do Perrone, um ofício foi enviado ao Timão na última terça (4), solicitando informações sobre a intermediação do contrato.

O rompimento

A repercussão gerou muito desgaste entre Corinthians e Vai de Bet, que começou a estudar a possibilidade de romper o contrato, inclusive via cláusula anticorrupção.

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A casa de apostas enviou uma notificação extrajudicial ao clube e à empresa do intermediário para esclarecer o assunto. No entanto, as respostas do clube sobre o escândalo não agradaram.

O UOL apurou que as luvas, cinco meses completos de contrato e mais da metade dos valores referentes a junho já foram pagos pela Vai de Bet até quinta (6), o que contabiliza R$ 66 milhões.

A empresa lamentou e disse que se viu obrigada a rescindir o contrato. A casa de apostas ressaltou que não poderia manter parceria com as suspeitas, que fogem à conformidade com a ética e os preceitos legais, e que acabou com o acordo a partir de cláusulas contratuais para proteção da marca.

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