Caso laranja: jornalistas do UOL relatam bastidores de escândalo corintiano

A rescisão do patrocínio da Vai de Bet com o Corinthians, ocorrida hoje após um escândalo envolvendo um "laranja" descoberto pelo UOL, foi abordado na Live Semanal do clube no YouTube.

Juca Kfouri, Diego Garcia, Pedro Lopes e Livia Camillo, alguns dos jornalistas envolvidos na divulgação do caso, deram detalhes da cobertura. Os três abordaram incoerências no processo da negociação.

Diego Garcia, sobre encontro com laranja: "Eu e o Lucas Musetti estivemos em Peruíbe. O Juca tinha dado uma matéria falando da Edna [laranja] que vivia na periferia. Fomos lá ver como estava a vida dela. Fomos buscar o endereço tido como dela em uma quebrada de Peruíbe. Até achar ela, foi uma hora e meia. Ficamos passando de carro pelas ruas do bairro e, depois de um tempo, você chama a atenção. Andamos e também chamamos a atenção. Estávamos pensando em ir embora enquanto tentávamos achar a casa dela, são muitas casas parecidas. Quando estávamos perto de ir embora, entramos em uma viela e achei uma mulher muito parecida com a da foto. Perguntei se era a Edna e ela falou que ela morava em uma casa ali perto. Um cara que estava com a camisa do Palmeiras perguntou: 'é para coisa do Corinthians'. Começamos a conversar com ela e ela estava muito assustada, ela sobrevive de Bolsa Família, tem três anos. A gente conversou com ela um tempão e ela falou tudo: 'vivo de Bolsa Família, nunca assinei nada'. Todo o processo de abertura da empresa foi esquisito, como se ela tivesse ido na junta e não foi. Ela estava com medo de morrer. Depois, perguntamos se ela gostaria que fizéssemos uma reportagem até como forma de proteger."

Pedro Lopes, sobre empresa fantasma: "Enquanto o Diego e o Musetti iam para Peruíbe, eu, aqui em São Paulo, tentei ir atrás do fio da abertura da empresa. A empresa foi aberta na junta comercial de forma remota. A Edna, supostamente, assinou a abertura por um certificado digital, que é uma espécie de um pen drive que funciona como uma assinatura e a gente não consegue saber quem usou essa certificação. Depois, houve na junta mais dois atos: estes, tinham uma assinatura física que supostamente seria da Edna. Os documentos foram deixados lá com esta assinatura, mas a Edna disse que nunca assinou absolutamente nenhum documento referente a Neoway. A coisa fica mais interessante a Neoway tem um endereço registrado na avenida Paulista. Este endereço pertence a uma startup que tem como função ajudar na abertura rápida de empresas — ela, inclusive, aluga endereços. A gente achou que, quem quer que tenha aberto a Neoway, poderia ter se utilizado dos serviços da startup. Conversamos com uma sócia da startup que disse que nunca viu ninguém relacionado a Neoway. Na verdade, eles tinham apurado internamente que documentos deles haviam sido usados de forma ilegal na abertura desta empresa. É algo muito sofisticado e difícil de rastrear. O andar que deram como endereço da Edna não existe no prédio, o e-mail nunca existiu... para onde quer que você vá, você chega em um beco sem saída. É uma empresa aberta por uma mulher que não é empresária. Este foi o resumo do que é a Neoway."

Juca Kfouri, sobre incoerências de Augusto Melo. "Existe uma empresa chamada Neoway que já prestou serviços de informática ao Corinthians. Quem abriu uma empresa com mesmo nome quis deixar nebulosa a história dos pagamentos. São dois detalhes aqui: Augusto Melo é tão absolutamente sem noção que, tão logo saiu a matéria — e ele deu uma entrevista dizendo 'não conheço Juca Kfouri'. Ele foi me apresentado e tomamos um café há seis anos, quando ele estava fazendo sua primeira campanha. Ele diz que não me conhece. Ele fala mentiras de perna tão curta que é pego assim. Não é possível você levá-lo a sério, como não é possível levar Andrés Sanchez a sério, que dizia em 2013 que, em cinco anos, o Corinthians seria do tamanho do Real Madrid."

Livia Camillo, sobre momento da rescisão. "O clima tenso não vem de hoje, toda semana é 'o que vai acontecer no caso de Vai de Bet'. Hoje não foi diferente. Pouco se falou sobre futebol. Enquanto o time treinava com a presença do Augusto Melo, que estava acompanhando os atletas, a Vai de Bet publicou a sua nota de rescisão. Eu estava no momento em que o Augusto viu essa nota. Imediatamente, ele pegou o celular e se retirou com o Fabinho Soldado. Foi o momento mais marcante: quando sai o Augusto, fica muito claro que a situação estava complicada.

Fim da parceria

A empresa de apostas havia notificado o Corinthians pedindo dez dias para que o clube esclarecesse o episódio. O prazo acabou ontem, e as respostas não foram consideradas satisfatórias. Em nota emitida na véspera do fim do prazo, o Corinthians informou que encaminhou ofício à Vai de Bet tirando dúvidas sobre "as tratativas adotadas", salientou que notificou a intermediária e que contratará outra empresa para realizar apuração autônoma.

Após o posicionamento alvinegro, a Vai de Bet afirmou que "se viu obrigada a encerrar o vínculo" e lamentou o episódio. A casa de apostas disse que exerceu a rescisão a partir de cláusulas contratuais para proteção da marca. O UOL apurou que existe, no contrato, uma cláusula anticorrupção que pode ser ativada.

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O caso é alvo de investigação pela Polícia Civil de São Paulo. O Blog do Juca Kfouri revelou no dia 20 de abril que a Rede Social Media Design, do empresário Alex Cassundé, repassou o valor à Neoway depois de receber a primeira parcela dos 7% de comissão pelo acordo entre Corinthians e Vai de Bet. A Rede Social aparece no contrato como intermediária do acordo.

Edna Oliveira dos Santos, dona da Neoway, vive em uma casa de nove metros quadrados, em bairro humilde de Peruíbe (SP). Ela depende de Bolsa Família para sobreviver e disse ao UOL jamais ter assinado qualquer documento referente à abertura de uma empresa.

A Neoway foi aberta com assinatura digital, com um endereço de e-mail que não existe e um endereço residencial falso. A empresa foi registrada na Avenida Paulista 171, 4º andar: o local pertence à startup Company Hero, que diz nunca ter tido qualquer negócio ou contato com Edna ou com a Neoway.

Veja a nota da Vai de Bet na íntegra

A VaideBet informa que exerceu nesta sexta-feira (7) a rescisão do contrato de patrocínio com o Sport Club Corinthians Paulista. Desde o início de abril a marca acompanha e solicita esclarecimentos sobre as suspeitas levantadas, tendo já realizado reuniões, comunicações formais e notificação extrajudicial. Diante das explicações apresentadas sem nenhuma resolutividade, a VaideBet lamentavelmente se vê obrigada a tomar tal atitude.

A marca avalia que não se pode manter a parceria enquanto pairar sobre o acordo qualquer suspeita em relação a condutas que fujam à conformidade com a ética e os preceitos legais. Só a dúvida, no crivo ético da marca, já é suficiente para determinar a rescisão - que foi exercida pela VaideBet suscitando cláusulas do contrato que protegem direitos da marca nessa decisão.

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A VaideBet lamenta pelo fim de uma parceria que deveria ter durado no mínimo três anos e agradece, pelo carinho e pelo respeito, à imensa e apaixonada torcida do Corinthians, que diariamente sustenta a história e os valores da instituição.

Nota do Corinthians sobre a rescisão

O Sport Club Corinthians Paulista informa a descontinuidade do contrato de patrocínio máster com a VaideBet. Em decorrência das instabilidades recentes, provocadas por acusações que seguem em investigação, a empresa preferiu rescindir o acordo que havia firmado com o clube até o fim de 2026.

O Corinthians lamenta que o parceiro comercial tenha encerrado o maior acordo de marketing esportivo do Brasil - do qual a empresa se beneficiou a ponto de sair de uma casa de apostas desconhecida para a segunda colocação no setor em apenas cinco meses - sem que houvesse nenhuma conclusão das investigações relacionadas ao intermediário da negociação.

Vale ressaltar que o Corinthians é o maior interessado em resolver a questão citada. Por isso, não está medindo esforços para que os fatos sejam elucidados, seja por meios próprios, por terceiros ou na colaboração junto às autoridades.

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O caso

A comissão de R$ 25,2 milhões para a empresa Rede Social Media Design é o que desencadeou o caso. A Rede Social Media Design pertence a Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, que trabalhou na campanha do presidente Augusto Melo. Cassundé é parceiro do diretor de marketing do Corinthians, Sergio Moura. Sergio pediu licença do cargo.

A Rede Social Media Design recebeu dois pagamentos do Corinthians, no valor de R$ 1,4 milhões, e repassou pouco mais de R$ 1 milhão para a Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda.

Os dois pagamentos para a Rede Social foram feitos em um intervalo de três dias e à revelia do diretor financeiro do Corinthians, Rozallah Santoro, que estava fora do Parque São Jorge. As transferências foram determinadas pelo diretor administrativo, Marcelo Mariano, sob alegação de que a Rede Social havia emitido notas fiscais e pagado os impostos.

Em nota oficial após a divulgação da polêmica da "laranja", o Corinthians disse que a negociação foi legal e que não se responsabiliza sobre eventuais repasses a terceiros.

"Todas as negociações, incluindo patrocínios, se deram de forma legal com empresas regularmente constituídas. O clube destaca que não guarda responsabilidade sobre eventuais repasses de valores a terceiros. Caso sejam apresentadas quaisquer provas de ilícitos, estes serão discutidos junto ao Conselho Deliberativo para providências que se fizerem necessárias."

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A Vai de Bet já havia emitido uma nota ressaltando que monitorava o caso e negando qualquer contato com outra empresa. A casa de apostas afirmou que só tratou com um intermediário, a empresa Rede Social Media Design, e que avaliava com atenção os próximos passos.

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