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Materazzi vê Ronaldo melhor da história e diz como Adriano virou Imperador

Do UOL, no Rio de Janeiro

09/06/2024 04h00Atualizada em 09/06/2024 09h39

Campeão do mundo com a Itália, o ex-zagueiro Marco Materazzi veio ao Brasil participar do reality O Grande Jogo, organizado pela Blockchain Sports e conversou com o UOL. Polêmico, às vezes ríspido quando jogava e decisivo na final da Copa 2006, o italiano se derreteu pelos brasileiros. Em especial, Ronaldo Fenômeno, com quem jogou na Inter de Milão.

"Para mim, não é o brasileiro mais importante da história da Inter. É o melhor jogador da história. Para mim. Isso é subjetivo. É bastante subjetivo o que eu estou dizendo, porque o que Ronaldo, pelo que fazia 30 anos atrás, e ele tivesse a sorte de não ter problemas físicos, teria vencido dez, 12, 13 bolas de ouro porque era inalcançável", disse ele.

Ronaldo fazia as jogadas de Messi, com a velocidade de Cristiano Ronaldo, para comparar com dois jogadores da era moderna. Fazia coisas que nenhum outro estava no grau de fazer, pela velocidade e pela técnica que colocava na execução.

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Pedido para que o Fenômeno ficasse na Inter. "O último dia que ele veio a La Pinetina (CT da Inter), quando fomos vê-lo, ele queria ficar na Inter. Pedi de joelhos para que ele ficasse na Inter, porque com ele: 1 - seria divertido 2 - ganharíamos ainda mais. Mas ele disse: 'Não posso mais estar com esse treinador. Se ele sair, eu fico'. Mas o clube escolheu. Eu chorei, porque o meu sonho era jogar com ele. Quando cheguei à Inter, para visitas médicas, antes de terminar o campeonato, e quando chego à clínica para o teste, abri a porta e ele estava ali. Para mim, era um sonho. Eu era um amante do futebol. Quando vi Ronaldo, pensei: 'Mamma mia, com quem eu estou!'. Era o maior do seu tempo".

Materazzi jogou na Inter com Ronaldo Fenômeno na temporada 2001-2002 Imagem: Christof Koepsel/Bongarts/Getty Images

Materazzi chegou à Inter de Milão junto com outro brasileiro, Adriano Imperador. Logo nos primeiros dias, entendeu em uma cobrança de falta que não se tratava de um jogador qualquer.

"Chegamos juntos, Adriano e eu. O episódio que temos, ainda meio desorientados no clube, é que jogamos cerca de dois, três dias depois, contra o Real Madrid. E ele fez o gol que fez Adriano ser descoberto na Europa. Na cobrança de falta, eu me apresento para bater. Era com Di Biaggio. O técnico falou: 'Não, Adriano chuta'. Ele mandou aquele míssil para Casillas. Ganhamos o troféu Bernabéu, que muita gente não ganhou. Talvez duas, três. Com aquele gol, quase no final, vencemos o troféu. Eu abraço o Di Biaggio caindo e rindo, porque não era possível que fizesse aquele gol. Ali nasceu o Imperador".

Eu penso que um brasileiro sem festa não é um brasileiro. Para mim, o importante é que quando ia para o campo, treinava, se empenhava e no domingo fazia gol. Se fazia cinco festas na semana, para mim não mudava nada. Bastava vencer o jogo. Eu sempre pensei assim.

"Espírito brasileiro". "Eles são alegres e eu também sou. Me sinto um pouco brasileiro, como espírito. Mas são caras excepcionais, que vivem a vida como deve ser vivida. Viveram o futebol como alegria e não como trabalho. Nós somos personagens públicos, mas temos a grande sorte de fazer de um trabalho o nosso divertimento. Porque ao fim, é nossa paixão. Essa é a felicidade quando você vai a campo, alegre e transmite alegria para as pessoas".

Materazzi e Adriano Imperador em jogo da Inter de Milão contra o Villarreal, pela Champions League, em 2006 Imagem: Adam Davy - PA Images via Getty Images

O que Materazzi estava fazendo no Brasil?

O reality O Grande Jogo foi gravado em Pinheiral, cidade próxima a Volta Redonda, no interior do Rio. Materazzi foi um dos técnicos/mentores de um time de garotos. No episódio, ele disputou com Trezeguet. O francês curiosamente perdeu o pênalti na final entre Itália e França, em 2006, que consagrou Materazzi.

Zidane é assunto que ele não gosta

Na reta final da conversa com o UOL, Materazzi foi perguntado se gostaria de falar sobre Zidane e o episódio famoso na Copa 2006, no qual levou uma cabeçada e cavou a expulsão do craque francês. Ele não curtiu:

"Não vejo sentido. Fizemos uma bela entrevista e você me fala de Zidane. E aí você se torna um idiota como os outros, não?"

Zidane dá uma cabeçada em Materazzi na final da Copa do Mundo de 2006 Imagem: Peter Schols/Reuters

O que mais Materazzi disse:

Marco, olhando para trás, as coisas que você fez no futebol, como define o seu estilo de jogo, como conta isso para outros jogadores?

"É totalmente diferente do futebol de hoje. Era uma outra geração, não? Mas acho que fiz um bom trabalho, me diverti na carreira, ganhei muito. Estou satisfeito por aquilo que fiz".

Esse futebol moderno, com VAR, permite ainda um zagueiro como você?

"Por que não? Você se adapta ao tempo, não? Talvez 30 anos atrás era diferente de quando eu jogava. Agora é diferente. Os tempos vão avante e você se adapta sempre".

Como as pessoas se lembram do seu estilo? Se lembram mais da sua qualidade ou de situações adversas?

"Eu acho que lembram mais dos episódios adversos e se esquecem que eu fiz 40, 50 gols em Série A e Série B. E outros dois gols na Copa do Mundo. Deveriam se lembrar disso. Infelizmente, você sabe melhor do que eu, que a opinião pública às vezes consegue desviar a opinião das pessoas".

Mas você se arrepende de usar um pouco de agressividade quando precisava em campo? Você é conhecido aqui no Brasil, por exemplo, por lances mais feios no campo. Você se arrepende?

"Um jogador tem suas características. Normal que, às vezes, possa talvez exagerar, é normal que se arrependa. Quando revê certos episódios, se voltasse lá trás não teria feito. Mas é parte de um crescimento e de uma carreira".

Você viveu alguns momentos importantes no futebol. E tem uma foto que até nós brasileiros lembramos, no momento de um clássico entre Milan e Inter. E você está junto do Rui Costa. O que aconteceu? O que você estava dizendo para ele?

"Nada. Aconteceu o problema de suspender a partida por causa dos sinalizadores. E estávamos ali olhando o que estava acontecendo. E comentando o que não deveria acontecer. Porque não era certo que uma partida de Champions ficasse daquele jeito, suspensa. Uma importância enorme, com 80 mil pessoas no estádio. Foi uma decepção. Mas quando vemos aquela foto, falamos sobre ela de novo".

Materazzi e Rui Costa observam caos no Giuseppe Meazza durante Inter e Milan, jogo ocorrido em 2005 Imagem: Mike Hewitt/Getty Images)

Tem um pouco de amizade no meio do derby?

"Respeito, seguramente. Respeito porque o que acontece no campo fica no campo. Naquela circunstância, estávamos parados. Era uma foto real, verdadeira, onde tem o máximo respeito por parte dos dois".

Sobre Copa do Mundo... Hoje você está em um evento com Trezeguet, como treinador e capitão nesse programa. Infelizmente para ele e sorte de vocês, da seleção italiana, ele errou o pênalti [na final de 2006]. É um tema de conversa entre vocês?

"Não. Nunca. Para mim, seria uma falta de respeito. Porque eu sei o quanto se sofre ao perder uma final. Eu perdi poucas e perdi, por sorte, as que menos importam, Copa Itália e Supercopa. Colocar a faca na ferida não faria sentido. Temos o máximo respeito e somos amigos fora de campo. Falar do que passou... ele é campeão do mundo igual a mim. Seria inútil falar dessas coisas (pênalti perdido)".

Da final de Berlim, qual foi o momento mais decisivo? O seu gol, a situação com Zidane, o pênalti perdido por Trezeguet?

"Vocês sempre voltam à situação de Zidane. Mas eu me recordo que fiz dois gols naquela final (um na disputa de pênaltis). Assim como fizeram Maradona, Pelé, Zidane, Materazzi? Lembrem-se disso e não do episódio. Eu não entro em nada no episódio. Eu não fiz nada, a não ser defender o meu gol. Mas vocês são jornalistas e mudam a opinião das pessoas. Mas as pessoas devem saber que Materazzi, ao fim, fez dois gols na final da Copa?"

E essa é a maneira mais importante que você quer?

"O gol mais importante que Materazzi fez foi contra a República Tcheca. Mas você não sabe por quê. Porque a Itália com aquele gol evitou o Brasil. O Brasil era muito forte. Eu digo sempre que o meu gol mais importante não foi o da final. Mas contra a República Tcheca, porque permitiu que a gente jogasse contra a Austrália [nas oitavas].

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