Vasco vê insolvência da 777 antes de compra da SAF: 'Praticamente falida'
Do UOL, no Rio de Janeiro
12/06/2024 15h25Atualizada em 12/06/2024 20h55
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A cada dia novas indicações de problemas financeiros da 777 Partners vêm à tona. Desta vez, um balanço financeiro que estava sob sigilo nos Estados Unidos — a pedido da empresa — foi divulgado e caiu como uma bomba no Vasco. A diretoria entende que o documento evidencia um quadro de insolvência da holding já antes mesmo de executar a compra da SAF cruzmaltina.
O que aconteceu
O balanço financeiro é datado de setembro de 2022. Ou seja, pouco tempo antes da 777 efetuar a compra da Sociedade Anônima de Futebol do Vasco. Ele é referente ao processo da empresa "Change Lending", que corre em Nova York (EUA) e que se tornou público por decisão do juiz americano.
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A Change fez um empréstimo para a 777 via "preferred shares" (ações preferenciais). Porém, se determinadas condições não fossem cumpridas, a Change poderia exigir a recompra pela 777, o que de fato não aconteceu. A holding não nega o problema, mas alega falta de liquidez. Com isso, depois de várias postergações de prazo, a Change perdeu a paciência e entrou com processo.
O documento indica que, naquela ocasião, os passivos da 777 estavam maiores que os ativos. Em números, o passivo apontava US$ 8,9 bilhões (R$ 47,6 bi) contra US$ 8,8 bilhões (R$ 47 bi), o que evidencia uma insolvência da empresa na ocasião.
O balanço sinaliza ainda um prejuízo de US$ 589 milhões (R$ 3,1 bi) na operação. O documento foi divulgado, inicialmente, pelo jornalista Tiago Leifert e obtido pelo UOL.
"A 777 tentou, de todas as formas, manter esse documento em sigilo no processo movido pela Change. Agora entendemos o motivo. Estamos olhando para os demonstrativos financeiros apresentados pela própria 777 em setembro de 2022. Está muito claro que a 777 tinha, à época, um patrimônio líquido negativo. Ou seja, mais obrigações do que ativos. São indícios evidentes de insolvência. Pior, está retratado um prejuízo considerável nos 12 meses anteriores ao balanço, o que corrobora a tese de que, além de insolvente, a 777 estava praticamente falida. Isso em 2022", declarou o vice-jurídico Felipe Carregal Sztajnbok, complementando:
Veja. É um prejuízo de mais de R$ 3 bilhões, isso antes da Vasco SAF. E com um patrimônio líquido negativo superior a R$ 500 milhões. Foi nesse cenário que a 777 adquiriu 70% do futebol do Vasco por R$ 700 milhões - em dívidas. Isso explica, por exemplo, o empréstimo feito pela Vasco Saf para uma das sociedades da 777 no primeiro aporte e a tentativa de outro empréstimo no segundo aporte, o que só não ocorreu por resistência do Conselho Fiscal. Explica, também, a falta de investimentos em estrutura, apesar da obrigação contratual, e o não enfrentamento da dívida absorvida pela Vasco Saf
Felipe Carregal Sztajnbok, vice-jurídico do Vasco, ao UOL
Vasco questiona diligência
A diretoria também questiona a diligência feita pela gestão anterior, que permitiu a venda para a 777. Na época, o presidente Jorge Salgado contratou auditoria da KPMG.
Salgado divulgou resposta sobre o caso. O ex-presidente ressaltou que "os dados da 777 foram analisados pela KPMG, líder mundial em auditoria e consultoria, e pela Kroll, também de renome internacional". (Veja na íntegra abaixo).
Os dados da 777 foram analisados pela KPMG, líder mundial em auditoria e consultoria, e pela Kroll, também de renome internacional. Além disso, as informações também foram analisadas pelo Conselho Fiscal do CRVG e pela Comissão Especial do Conselho Deliberativo. A conclusão foi pela conformidade na situação financeira da 777 à época, como está explicitado formalmente nos pareceres Trecho da resposta de Salgado
O departamento jurídico estuda ingressar com uma ação indenizatória contra a 777. E que em caso de vitória, isso pode arrecadar até mesmo na perda dos 31% que a empresa adquiriu da SAF.
O UOL procurou a assessoria da 777 Partners. Até o momento, porém, não houve um retorno. Caso queiram se manifestar, esta reportagem será atualizada.
O Vasco retomou o controle da SAF após obter uma liminar na Justiça brasileira. Enquanto o processo corre, uma arbitragem jurídica deverá ocorrer entre as partes.
Lucio Barbosa e Kátia dos Santos entregaram seus cargos na SAF na terça-feira (11). Eles eram, respectivamente, o CEO e a CFO da empresa e foram contratados ainda quando a 777 estava no controle. Presidente do Vasco, Pedrinho viu o pedido de dispensa com "estranheza".
Resposta de Jorge Salgado:
"Com relação às informações divulgadas hoje, acho importante prestar os seguintes esclarecimentos:
1. Os dados da 777 foram analisados pela KPMG, líder mundial em auditoria e consultoria, e pela Kroll, também de renome internacional. Além disso, as informações também foram analisadas pelo Conselho Fiscal do CRVG e pela Comissão Especial do Conselho Deliberativo. A conclusão foi pela conformidade na situação financeira da 777 à época, como está explicitado formalmente nos pareceres.
2. Avaliações financeiras não podem ser feitas de forma superficial e exigem expertise. Ativos menores que passivos representam patrimônio líquido negativo, o que está longe de significar falência ou insolvência. Botafogo e Bahia, por exemplo, tem hoje patrimônio líquido negativo. Importante também ressaltar que o grupo 777 estava em forte expansão no ano de 2022.
3. A situação financeira da 777 à época da compra das ações da Vasco SAF foi, também, avaliada de forma positiva pelo Standard Liege (março/2022), Red Star (abril/2022), Melbourne Victory (outubro/2022) e Hertha Berlin (março/2023). Essas transações foram aprovadas em jurisdições de países da OCDE, com regramentos mais rigorosos que os do Brasil.
4. Além disso, no segundo semestre de 2023, a 777 fechou acordo para a compra do Everton na Inglaterra. Somente nessa transação foram aportados pela 777 mais de R$ 1 bilhão, sendo que cerca de R$ 250 milhões foram transferidos no corrente ano. A Premier League não vetou a transação em momento algum.
5. As alegações que a 777 não tinha capacidade financeira para comprar as ações do Vasco SAF no primeiro semestre de 2022 são desmentidas de forma contundente pelos fatos, dentre os quais os R$ 310 milhões já aportados na SAF. Tratam-se de acusações desrespeitosas com todos que participaram do processo de avaliação da venda, incluindo profissionais gabaritados que servem ao CRVG na atual gestão.
6. Se a preocupação era com os aportes necessários para o financiamento do Vasco SAF, então a questão premente, que deveria ser o foco de todos, é de que forma, agora, a SAF vai obter recursos para pagar obrigações correntes e compromissos importantes, como, por exemplo, o RCE e a transação tributária. É lamentável que, num momento que o Vasco precisa de paz e união para enfrentar os gigantescos desafios que tem pela frente, estejamos perdendo tempo e foco com opiniões rasas e acusações infundadas".