Vice do Corinthians estranhou ação de diretor: 'Disse que precisava pagar'

O 2º vice-presidente do Corinthians, Armando Mendonça, afirmou que o diretor administrativo Marcelo Mariano priorizou a empresa intermediadora do contrato com a Vai de Bet em vez dos interesses do clube. A declaração foi dada em entrevista ao vivo no SportsCenter, da ESPN.

O que aconteceu

Armando Mendonça disse que se reuniu com Augusto Melo após saber do caso para falar sobre a conduta de Mariano. Ele relatou que foi informado da situação após ter sido contatado pelo colunista do UOL Juca Kfouri, que revelou o caso de laranja na intermediação do contrato do patrocínio máster.

O vice-presidente ficou incomodado com o pagamento feito a mando do diretor administrativo: "Ato de má gestão". Ele problematizou que Marcelo Mariano tenha "aproveitado" que o então diretor financeiro Rozallah Santoro estava viajando para realizar o pagamento à Rede Social Midia Design, do empresário Alex Cassundé, que já teria recolhido impostos da nota fiscal. "Mariano disse que precisava pagar", contou.

Me reuni com o presidente e expliquei essa informação, que a empresa tinha recebido dinheiro a mando do diretor administrativo, Marcelo Mariano. Ele, aproveitando que o diretor financeiro estava viajando, desceu ao departamento e disse que a empresa intermediadora teria recolhido os impostos da nota fiscal e que precisava pagar essa empresa. Armando Mendonça, ao SportsCenter, da ESPN

Eu, como advogado, respeito muito a presunção de inocência, tenho certeza que a polícia vai apurar e torço muito para que nenhum integrante do clube esteja envolvido, mas essa atitude é um ato de má gestão. O diretor administrativo não tem que estar preocupado com a empresa recolher imposto, e sim com o Corinthians. Na época, como hoje, tínhamos vários que precisavam receber.

Mendonça criticou a ação e afirmou que sugeriu o afastamento do diretor, mas que Augusto Melo não acatou: "Acho que ele não percebeu a gravidade da situação". O vice-presidente ressaltou o princípio da presunção de inocência, mas defendeu que Mariano deveria ter sido afastado para a apuração do caso. Segundo ele, outros membros da diretoria e a consultoria Ernest&Young sugeriram a mesma medida.

Isso me incomodou, expliquei que era muito grave. Entendo que o presidente deveria, diante dos fatos, requerer inquérito para apuração interna dessas informações e suspender imediatamente o pagamento da intermediadora. Falei para o presidente que era grave e ele entendeu por bem não tomar atitude, disse que o problema era da empresa, não do clube. Eu discordei.

Como advogado, a partir do momento que estamos pagando e transformaram esse dinheiro licito em ilícito, o que a torcida e o sócio esperam é que o Corinthians tome providência. Ele [Augusto] falou que não e deixou claro que se qualquer diretor do clube fosse provado que havia recebido dinheiro, que ia afastar.

Eu disse que não é questão de acusação e sim de investigação. Depois, nossos diretores jurídicos sugeriram o afastamento dos envolvidos e a EY fez essa sugestão, e não foi acatada. Acho que ele não percebeu a gravidade da situação. Não teve nenhum outro interesse.

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Mendonça criticou Mariano por ingerência e também citou um desgaste na relação entre eles. O vice-presidente disse que cobrou a comprovação do recolhimento dos impostos pela empresa intermediadora, mas completou que ouviu do diretor administrativo que não devia satisfação a ele.

Pedi para ele [Mariano], na presença de outra pessoa muito importante: 'Manda mensagem para o Alex [Cassundé], já que estava tão preocupado com o recolhimento dos impostos, e peça a comprovação desse recolhimento'. Até hoje não recebi essa resposta. Fui cobrar ele recentemente, é um relacionamento que não está legal, disse que não deve satisfação a mim. Fico no meu canto e ele no dele.

Debandada de diretores: "Infelizmente, sim [manutenção de Mariano causou debandada]. Não tenho nada contra ele, foi meu companheiro de conselho. Sempre admirei muito, mas a ingerência dele nos diversos departamentos ocasionou desgaste na gestão e principalmente no financeiro. Rozallah, muito respeitado no mercado, passou por maus bocados ali dentro. Sou testemunha porque fiz vários pedidos para ele aguentar.

Decisão de Augusto: "Respeito meu presidente, acredito que ele tem possibilidades porque temos uma diretoria capaz de ajudá-lo, gente competente, estou à disposição. Não sei [se ele está disposto a ouvir]. O que diz a boa política em uma investigação é afastar, sempre respeitando a presunção de inocência. Tenho certeza que ele não recebeu valor nenhum, pessoa séria. Mas, pela lisura da investigação, é o que as empresas recomendam"

Sem participação nas negociações: "Quando Juca Kfouri entrou em contato comigo, envolvendo a Vai de Bet, contou os fatos posteriormente divulgados e perguntou se eu tinha algo a comentar. Falei que não, que nunca participei de nenhuma negociação dentro do clube. Embora seja vice, o presidente optou por não me chamar, me coloquei à disposição. Disse ao Juca que não tinha conhecimento e que ia apurar internamente".

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Impeachment: "Não sou a favor. Uma gestão que precisa de ajuste não se corrige com impeachment, se corrige com conversas, entendimentos. Existe um movimento da oposição. Entendo que não [há argumentos jurídicos]".

Relação com Augusto: "Sempre nos demos muito bem, relação muito boa. Desde o dia da posse, eu fiz questão de estar presente no clube, sempre tive ótima relação com ele".

Decepção com o presidente: "Fiquei muito decepcionado com a postura do presidente em não tomar providencia institucional a partir do momento que um prestador de serviço [Sergio Moura] envolve o vice em um inquérito policial".

Citação de Sergio Moura: "Infelizmente, em decorrência do fato do Sergio Moura ter me envolvido em um inquérito policial, quando estive na delegacia, lendo a peça inicial, confesso que não entendi o motivo pelo qual ele fez referencia ao meu nome. Ele cita uma simples conversa normal entre um vice-presidente com um funcionário do clube, perguntando sobre a Vai de Bet. Nunca participei do contrato, ele colocou meu nome e fui chamado pela autoridade policial. A partir do momento que sou chamado, tenho dever de prestar todos os esclarecimentos. Foi o que eu fiz, uma questão que estava tratando internamente no clube, infelizmente se tornou publica."

O caso Vai de Bet

Em janeiro 2024, o Corinthians anunciou o maior acordo de publicidade da história do futebol sul-americano com a Vai de Bet: R$ 370 milhões (incluindo as luvas) e divididos em três anos. Cinco meses depois, o patrocínio foi rompido pela casa de apostas em decorrência da investigação de "laranja" na intermediação do contrato.

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Fontes ouvidas pelo UOL afirmam que, inicialmente, o presidente Augusto Melo apontou que toda negociação teria sido conduzida por ele e por Marcelo Mariano, atual diretor administrativo do clube.

Após o acordo firmado, Alex Cassundé, sócio da Rede Social Media Design, teria surgido como uma das partes envolvidas na negociação, com direito a R$ 25,2 milhões de comissão. Cassundé foi indicado por Sérgio Moura, diretor de marketing licenciado, para integrar o time de comunicação que trabalhou na campanha eleitoral de Augusto Melo.

Em maio, Juca Kfouri revelou que a empresa de Cassundé recebeu dois pagamentos de R$ 700 mil do Corinthians em um espaço de três dias — totalizando R$ 1,4 milhão — e fez repasses a uma empresa "laranja". A Neoway Soluções foi aberta em nome de Edna Oliveira dos Santos, que depende de Bolsa Família para sobreviver e disse ao UOL jamais ter assinado qualquer documento referente à empresa.

Os dois pagamentos para a Rede Social foram feitos em um intervalo de três dias e à revelia do diretor financeiro do Corinthians, Rozallah Santoro, que estava fora do Parque São Jorge. As transferências foram determinadas pelo diretor administrativo, Marcelo Mariano, sob alegação de que a Rede Social havia emitido notas fiscais e pagado os impostos.

A repercussão negativa do caso culminou na rescisão do contrato da Vai de Bet, que acionou a cláusula anticorrupção para romper o acordo com o clube.

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